Babel das prisões
Gringos, presos e distantes de casa
Conheça as histórias de alguns detentos de outros países que amargam dias de solidão, saudades e incertezas atrás das grades nos presídios pernambucanos
Por: Wagner Oliveira - Diario de Pernambuco
Publicado em: 04/01/2015 10:55 Atualizado em: 06/01/2015 11:16
Maioria dos presos estrangeiros das unidades penais de Pernambuco foi detida sob acusação de tráfico de drogas. Foto: Teresa Maia/DP/D.A.Press |
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Defesa é mais difícil para os detentos estrangeiros
A maior parte dos “gringos” está presa por tráfico internacional de entorpecentes. Em geral são detidos pela Polícia Federal (PF) quando desembarcam no Recife com drogas, rumo à Europa, destino final da encomenda. Depois de presos, são deixados de lado pelos aliciadores e, muitas vezes, pelos familiares.
O argentino Pablo Ramon Correa, 50 anos, está preso desde 2008. Condenado em dois processos por tráfico de drogas, pegou 16 anos de prisão em um e 12 anos no outro. “Daqui a dois anos vou estar no regime semiaberto, mas estou doente e longe da família”, conta ele, que sofre de hepatite. Há poucos dias, Pablo foi transferido para prisão domiciliar, em local determinado pela Justiça.
Pablo Ramon Correa, Carlos Nicolas Lombardo e Melvin Arcenio Veldbloem. Fotos: Teresa Maia/DP/D.A Press |
Na Barreto Campelo estão ainda o também argentino Carlos Nicolas Lombardo, 36, e o holandês Melvin Arcenio Veldbloem, 37, ambos presos por tráfico de drogas. Para Carlos, o mais difícil de enfrentar na prisão é a distância da família. Condenado a 16 anos de reclusão, ele foi preso pela PF com mais de 330 kg de cocaína dentro de uma embarcação.
“Morava em Buenos Aires e era dono de uma oficina mecânica, mas minha família estava com problemas financeiros e entrei nessa. Hoje tenho saudade dos meus dois filhos que ficaram na Argentina”, lamenta. O argentino está trabalhando numa fábrica dentro da penitenciária e recebe R$ 407 por mês.
No estômago
Depois de ingerir 94 cápsulas de cocaína, Melvin Arcenio, que trabalhava como cozinheiro na Holanda, partiu para o Brasil com a droga no estômago. Preso em novembro de 2011, foi condenado a quatro anos e dez meses de prisão por tráfico internacional.
“Passei nove horas para ingerir todas as cápsulas. Fiz isso tomando água e sabia que uma delas ou mais poderia explodir dentro de mim e causar minha morte. Mas resolvi arriscar. Iria ganhar 6 mil euros. Agora vivo com saudade dos meus dois filhos e conto apenas com a ajuda do consulado. Não vejo a hora de voltar para casa” revela Melvin.
Defesa após 20 anos de cadeia
Michel Gerhard Klein nega acusação de canibalismo |
Durante a fase de investigação, Michel ficou conhecido como “canibal”. Em entrevista pela primeira vez desde que foi preso, o alemão disse ser inocente. Hoje, ele cumpre pena na Penitenciária Agro-industrial São João (PAI-SJ), em Itamaracá. “Eu nunca matei ninguém, nem comia carne humana. Essa história foi plantada para me prejudicar.”
Michel revelou ainda que, dos seus bens, restou apenas uma mansão à beira-mar em João Pessoa, na Paraíba. “Hoje, a casa que eu tenho em João Pessoa está alugada e o dinheiro vai para a Alemanha para ajudar na criação dos meus dois filhos”, detalha.
Também na PAI-SJ estão cumprindo pena os estrangeiros Raimond Van Meeteren, 44, natural da Holanda, e o venezuelano Wilmer Oscar Fernandez, 21. Preso em março de 2012 com 4,3 kg de cocaína, Raimond era pintor de casas na Holanda quando aceitou viajar para transportar o entorpecente e acabou preso.
“Me comunico com minha família através de cartas. Sinto muita saudade de todos, principalmente, do meu filho”, diz. Entre os estrangeiros entrevistados, Wilmer Oscar é o único que pretende ficar no Brasil quando deixar a prisão. “Estou trabalhando na unidade e quando sair quero voltar a estudar e arrumar um emprego na área de telecomunicações ou petróleo”, afirma o venezuelano.
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