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PSOL EM PERNAMBUCO

'PSOL admite a perspectiva de unidade com Lula presidente', diz João Arnaldo, pré-candidato do PSOL ao governo

Publicado em: 03/02/2022 15:03 | Atualizado em: 03/02/2022 17:16

 (Foto: Eric Gomes)
Foto: Eric Gomes
João Arnaldo, que foi candidato a vice-prefeito na chapa de Marília Arraes pela Prefeitura do Recife, recentemente foi eleito pelo PSOL para representar o partido na disputa pelo Governo do Estado de Pernambuco. Além dele, Eugênia Lima foi escolhida para concorrer ao senado pelo partido em Pernambuco. 

Em entrevista ao Diario de Pernambuco, o pré-candidato falou sobre federação, construção de uma oposição à esquerda do atual Governo do Estado, e alianças nacionais focadas no objetivo comum de derrotar Jair Bolsonaro, o que talvez leve o partido a apoiar a candidatura de Lula. Confira a íntegra da entrevista:


Diario de Pernambuco: Em torno de que girou o debate que levou à sua eleição para a pré-candidatura?

João Arnaldo: Tem dois aspectos. O primeiro, pela construção dos últimos 2 anos dos debates políticos do partido que levou a coligação com PT no Recife, que há consenso de que foi uma aliança exitosa com uma candidatura à esquerda do PSB, que fez debate político mais profundo de combate às injustiças sociais, em razão da igualdade social a partir de mudanças no modelo de política que o PSB e outras opções à direita do PSB se propõem a fazer. 

Na condição de candidato a vice-prefeito, de ter tido uma atuação que não só dentro do partido, mas fora, foi uma atuação que contribuiu para a campanha, para um posicionamento junto às organizações sociais, à população como um todo de forma positiva, de forma a aglutinar forças políticas em torno da nossa campanha majoritária em 2020, com a candidata [Marília Arraes] a prefeita, e eu a vice. Esse foi um aspecto que contribuiu para uma primeira discussão interna, desde o início do ano passado, da perspectiva do meu nome como uma das opções de candidatura majoritária do partido. 

Veio a realização do 7º Congresso do partido. Começou em julho e concluiu em setembro na instância estadual. O nosso campo político no partido teve também uma vitória bastante relevante, com a maioria dos delegados. Tivemos maioria expressiva da nossa tese no congresso estadual, em que a principal definição com relação à nossa tática eleitoral no ano que vem, que não foi uma proposta apenas da nossa tese, mas foi acolhida por unanimidade no PSOL foi a defesa da construção de uma candidatura majoritária em Pernambuco à esquerda do PSB. 

Nós entendemos que o PSB incorporou todas as pautas e agendas da direita, que se tornou uma continuidade de governos anteriores do estado. Tanto é que as duas opções de oposição à direita são ex-aliados recentes do PSB. Não fazemos nenhuma diferença, entre discurso e prática, entre as opções de candidatura propostas pelo PSB e essas candidaturas tradicionais de direita.  É a mesma política que nós rejeitamos como alternativa para Pernambuco. 

Diante do cenário de candidatura no Recife e da minha história nos movimentos sociais, desde 19 anos que eu fui presidente da Casa do Estudante de Pernambuco, fui presidente de uma chapa de oposição que mudou a história da Casa do Estudante. Na minha militância aos 22 anos, quando me formei em Direito e comecei a trabalhar como o primeiro advogado do MST em Pernambuco, fui fundador da rede nacional de advogados populares, na sequência da Pastoral da Terra, de outras organizações de direitos sociais, inclusive na luta por direitos humanos e outros direitos sociais, inclusive de luta por moradia. Toda uma militância em direitos humanos em Pernambuco e no governo Lula fui superintendente do IBAMA, passei a exercer uma liderança solidária, me tornei diretor do ICMBio já no governo Dilma. 

Essa história de luta e militância, mais a repercussão recente da candidatura no Recife, fez diversas lideranças do partido ver também que, no contexto do desafio que o partido tem de ampliar os mandatos de deputado estadual e federal, mesmo reconhecendo a qualidade de outros nomes que estavam se colocando como opção para o governo, como Paulo Ruben, como Ivan [Moraes], mas especificamente para esse ano, o sentimento da maioria era de que eu poderia contribuis mais para o partido sendo candidato a governador, e os demais companheiros que tinham total condição, estão preparadíssimos para serem candidatos a governador também, poderiam ser candidatos proporcionais. 

A partir daí, o nome de Eugênia, que foi o único nome apresentado para disputar a candidatura ao Senado pelo partido, foi escolhida por aclamação com aprovação de todos os campos, e meu nome, no dia 22, foi escolhido nesse sentido. Confesso a você que não vejo como um processo de disputa, mas um debate democrático e maduro. É difícil fazer uma escolha quando você tem opções que, por exemplo, eu mesmo tenho todos os elogios a Ivan. Não havia disputa entre nós, e sim um debate sobre a melhor tática. E nesse aspecto desse ano, a avaliação da maioria do partido era que, taticamente, e talvez até para o partido, e para o próprio Ivan, que pode se tornar deputado federal ou estadual, dependendo do que ele escolher. Fortalece mais o partido com essa tática definida pela convenção, nesse momento pelo menos, que outra opção. 

Diario de Pernambuco: Estamos vendo uma dificuldade de definição de nomes para a disputa em razão da Federação. Como anda essa questão para vocês, que recentemente estiveram com o PT mas vão ser oposição ao PSB. Atualmente, vocês negociam possibilidades de federação? Com quem?

João Arnaldo: Ao nível nacional o PSOL tem, acertadamente, decidido dialogar com todos os partidos do campo da esquerda que fazem oposição ao governo Bolsonaro. Essa construção surge da necessidade da construção de que independente das divergências que existam ao nível nacional, derrubar o Bolsonarismo e o governo Bolsonaro  é uma necessidade para salvar o Brasil. Temos que superar a fome, que atinge grande parte da população brasileira. O aumento da miséria, que tem feito pessoas sofrerem. O altíssimo desemprego, a falta de habitação. Mazelas sociais que tinham sido reduzidas significativamente durante os anos de gestões de esquerda no Brasil, nós vimos voltar em níveis recordes, por políticas que negam os direitos dos trabalhadores, que não reconhecem a necessidade de incorporar a população nas políticas públicas de forma efetiva. 

Porém, é importante esclarecer uma questão: em nenhum momento o PSOL admitiu a participação na construção de uma federação ampla com PT, PSB e PV. Em algum momento houve essa especulação, mas os únicos partidos que procuraram o PSOL e que a diretoria do PSOL com diálogo sobre a possibilidade de uma federação foram a Rede e o PCdoB. Sendo que o PCdoB também dialoga com PT, PSB e PV. Não estamos nessa construção, nessa grande federação que pode ser construída por esses partidos. 

Nós estamos dialogando com esses partidos para uma construção ao nível nacional, mas isso não coloca o PSOL em PE nesse contexto de possibilidade de federação com esses partidos e a posição que tomamos no ano passado, durante o congresso, que é a que segue a tática do consenso partidário em 2022, que é de enfrentar e derrotar o bolsonarismo em Pernambuco, e também todos os retrocessos que as políticas de exclusão social que a   velha direita representa, mas também, lamentavelmente, começou a representar. 

O PSB, nós entendemos que se tornou, em Pernambuco - porque o Brasil tem essa tradição federativa - você tem partidos como o MDB, que são uma coisa num estado, outra em outro, o PSB também tem. Aqui no estado se tornou um partido de direita durante os últimos governos dele. A agenda de escolhas políticas do PSB não têm nenhuma diferença das escolhas políticas do governo Jarbas, do governo Joaquim Francisco, deixou de ser a política ousada, de inclusão que um dia foi praticada que um dia foi praticada pelo governo de Miguel Arraes. 

Passou a ser a política de continuidade do MDB, da União Brasil, PSDB, qualquer outra agenda. Inclusive com algumas implementações de políticas dos governos do PSDB em MG e SP, como privatização da saúde. Modelos de gratificação na área da educação que desvaloriza o professor e direciona para atingir resultados artificiais no Ideb, que não contemplam a qualidade da educação, e sim a provocação de resultados a partir das gratificações direcionadas. A gente tem denunciado isso há vários anos, sendo que é uma série de retrocessos, uma política de habitação praticamente inexistente, o orçamento da habitação é menor do que a manutenção da estrutura da secretaria, da própria Seab. 

Não tem uma agenda que tenha tido avanços nas áreas social, na área econômica. Por isso que temos o contrário, os retrocessos do que é mais caro para o PSOL, que é a necessidade de superar o flagelo da fome, do desemprego violento, que é o percentual que nós temos hoje em Pernambuco, um dos maiores do Brasil. É fácil perceber na rua o número exorbitante de pessoas que estão vivendo nas ruas, dependendo da humilhação da esmola e sem nenhuma perspectiva de respostas. São respostas ou  inexistentes, ou ineficientes, normalmente com tática de marketing eleitoral no governo. 

Sentimos a necessidade de fazer essa denúncia que fizemos em 2020, defendendo inclusão e justiça social, na qual entendemos que a Prefeitura [do Recife], o governo do estado e o governo brasileiros devem ser responsáveis pelas políticas de inclusão, de acolhimento, para que o povo possa passar por essa transição e todos possam ter condições mínimas de sobrevivência com dignidade. Sem ter uma família sem teto para morar, sem comida na mesa, sem as condições básicas de uma educação e atendimento de saúde básicas que garantam qualidade de vida. Isso, para nós, é agenda básica. É o que defendemos que tem que ser uma pauta geral da esquerda. Mas, infelizmente, não reconhecemos o PSB DE PERNAMBUCO com legitimidade para se comprometer com essas pautas depois de 16 anos fazendo o contrário. 

Diario de Pernambuco: Como vocês pensam a construção da plataforma de plano de governo?

João Arnaldo: Tivemos a definição do nome há poucos dias. Estamos dialogando com os demais partidos de esquerda que nós entendemos que devam ser nosso ponto de construção de uma possível frente de esquerda nessa perspectiva de derrotar essa velha direita, e nova direita, representada pelo PSB. Mesmo partidos que dialogam com o PSB. Sabemos que esse contexto nacional acaba tendo um cenário complexo junto ao contexto estadual. O que não significa para nós que o PSOL esteja em outra posição diferente dessa que tomamos. 

Porém, até agora, não houve nenhuma decisão oficial de nenhum partido. Estamos dialogando, fazendo contato com os demais partidos de esquerda, deixando clara nossa posição política, abrindo as portas para um diálogo de construção com o centro. Alguns partidos dialogam também com o PSB, mas já deixamos claro que não iremos seguir a composição liderada pelo PSB. 

Mas alguns partidos também concordam com nossa posição e com esses nós dialogamos a possibilidade da construção de uma frente. É fundamental que a gente inicie a construção do programa de governo junto com os partidos que estarão conosco, ou do PSOL, se o partido for só. Nossa expectativa é de contar com partidos, especialmente com o PCB, que tem uma postura já bastante crítica ao PSB. E mesmo o PT no estado, que nesse momento está fora do governo, saíram por causa entendeu que a postura do PSB em 2020 foi de muita agressão ao PT. Está na memória do povo do Recife, uma campanha muito agressiva, com um anti-petismo muito exacerbado e cheio de fake news usadas na campanha de João Campos. 

A partir da conclusão dessa etapa de diálogos, vamos iniciar a coordenação da composição do programa de governo. Vamos dialogar com a academia, com os especialistas, com a sociedade civil organizada, com os movimentos sociais, com alta participação da população. A ideia é ter um programa de governo como nós acreditamos que deva ser um governo, com alta e intensa participação da população, mas ao mesmo tempo com o melhor da área técnica assessorando, orientando, para que a inteligência da ciência e sabedoria de quem mais precisa e será beneficiado pelas políticas públicas encontre o caminho para as prioridades, melhores propostas, é desse caldo coletivo que nosso programa de governo vai ser feito. 

Diario de Pernambuco: E como estão as tratativas para federação com a Rede? O partido é dividido sobre quem apoiar para presidente… 

João Arnaldo: Eu não sei te dizer qual a temperatura sobre a possibilidade de federação na Rede, mas posso te dizer que tanto no Diretório Nacional do PSOL quanto no da Rede, o diálogo para uma possível composição de federação com o PSOL foi aprovado por maioria. Foram iniciados os diálogos para discutir a construção da federação, algumas reuniões foram realizadas e o processo está evoluindo. Dentro de mais alguns dias ou semanas, teremos um momento de deliberação nas instâncias de cada partido sobre a aprovação final ou não. 

Confesso a você que estou muito otimista, acho muito positiva essa federação. Espero que seja aprovada, porque vai ser positiva não só para os dois partidos, como para a composição de campos democráticos à esquerda. Temos muito a ganhar para a democracia com uma bancada que tem a sustentabilidade ambiental como tema central, associada à justiça social, à igualdade social. Esses temas têm que andar juntos e a unidade entre Rede e PSOL simboliza essa sintonia de pautas fundamentais para construir um Brasil com um novo cenário socioeconômico e ambiental. Acho que isso ajuda nosso processo no estado. 

Diario de Pernambuco: Boulos publicou uma foto com Lula em suas redes sociais. Vocês já definiram o apoio à candidatura do ex-presidente? Pois o “elefante na sala” da Rede é que uma ala prefere Lula, outra, Ciro.

João Arnaldo: Não sei se tem realmente uma ala querendo apoiar Ciro, eu sei que a Rede está discutindo a situação. 

Diario de Pernambuco: Mas e no PSOL, sobre Lula? 

João Arnaldo: Nosso congresso aprovou por maioria que o PSOL deveria compor uma frente de esquerda nacional, reconhecendo que o presidente Lula tem as melhores condições para assumir a liderança na majoritária, embora isso seja um elemento de diálogo. O PSOL admite a perspectiva de unidade com Lula presidente, mas isso ainda não está definido porque depende agora da construção programática do que seria essa frente. 

Está sendo iniciado o processo de reuniões de debate do programa, mas as questões estão colocadas sobre o refazimento de um sistema de direitos fundamentais dos trabalhadores, a PEC do teto de gastos, que tem impedido investimentos sociais fundamentais, e outras políticas de retrocesso de Temer e Bolsonaro, como processo que culminou a partir do golpe de 2016, e todos os outros movimentos que justificaram o ataque à esquerda de forma muito frontal para poder implantar no Brasil [uma política que] só tem levado a mais fome, mais desigualdade, mais desemprego no país até agora. 

A expectativa é que o programa de governo afirme isso, além dos demais compromisso em defesa dos direitos fundamentais, políticas que promovam oportunidades de desenvolvimento social, fortalecimento do emprego, aumento de renda, acesso à educação pública de qualidade. Esse conjunto de compromissos têm uma interface diferente da que o modelo Temer, Bolsonaro e Paulo Guedes, ultraliberal que tem marcado esse período desde o golpe no Brasil. Essa foto de Boulos com Lula segue nesse caminho, mas não houve decisão ainda do PSOL. A expectativa é que se confirme a unidade e, uma vez confirmada, um programa que une essas pautas. 

Randolfe Rodrigues, principal liderança da Rede hoje teve um encontro recente com Lula, e várias outras lideranças, as demais lideranças da Rede reconhecem a necessidade de reverter os retrocessos sofridos pelo Brasil, feito denúncias, entrado com ações sobre os retrocessos na área ambiental, inclusive tentando desconstruir políticas que a própria gestão de Marina Silva, como ministra do governo Lula, conseguiu avançar no Brasil. Na verdade, temos muito mais a ganhar com essa unidade que afirme esses consensos que temos, do que identificar quais são as divergências. Temos muitas convergências, e elas têm que ser unidas para salvar o Brasil.
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