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ELEIÇÕES 2018

'O trabalhador deve assumir o poder', afirma Simone Fontana, candidata ao governo pelo PSTU

A plataforma do PSTU se inspira na Revolução Russa e, segundo a candidata, não vigora mais em nenhum outro país do mundo

Publicado em: 05/09/2018 08:14

Foto: Thalyta Tavares/Esp.DP
Professora da rede municipal e aposentada da rede estadual, a candidata do PSTU ao governo do estado, Simone Fontana, acredita que as eleições são apenas um momento para despertar a consciência dos trabalhadores. Em entrevista ao Diario de Pernambuco, ontem, ela disse que seu partido não espera a mudança da política por meio do voto, mas a partir de uma revolução da classe trabalhadora. A candidata negou, entretanto, que sua participação no processo democrático eleitoral seja uma contradição com o projeto de “tomada de poder” pelos trabalhadores defendido pela legenda.

Simone Fontana voltou a defender a criação de conselhos populares, formados nos bairros, a exemplo de como funcionaram os sovietes na Revolução Russa, que tinham poder executivo e legislativo. Na opinião dela, os conselhos seriam uma forma de proteger os direitos dos trabalhadores, atuariam na questão da segurança das comunidades e pautariam o parlamento. Essas instâncias decidiriam quem poderia, por exemplo, usar armas para proteger os moradores. “A gente quer que o trabalhador assuma o poder e assuma o comando das suas vidas”, disse a candidata do PSTU, que vai na contramão da onda liberal que tomou conta de muitos discursos políticos na disputa nacional de 2018. A plataforma do PSTU se inspira na Revolução Russa e, segundo ela mesmo admite, não vigora mais em nenhum outro país do mundo.

A entrevista com Simone Fontana foi realizada em parceria com o Politéia, Instituto de Política da Universidade Católica. A postulante ao cargo de governadora de Pernambuco também descartou que pudesse ser comparada ao presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), por defender o uso de armas para autodefesa. “Quem defende o Bolsonaro defende mais ainda ricos para atacar os sem-terra, os índios, os quilombolas. Nós, não”.

PROFESSORES
Defendo há muitos anos a luta dos professores. A gente faz o chamado à categoria a lutar contra as políticas aplicadas pelos governos. A gente vê o escândalo de o governo (do estado) comemorar índices tão pífios na educação. A gente vê que as promessas de dobrar o salário do professor não passaram de promessas de campanha. A categoria (dos professores) está muito revoltada. Não tem expectativa com o governo Paulo Câmara (PSB), não tem expectativa com Armando Monteiro (PTB), que foi a favor da reforma trabalhista, que tira direitos da população. (Armando) votou pela PEC dos gastos, quer dizer...Se você congela os gastos com educação para os próximos 20 anos, você não vai ter melhorias na educação.

GOVERNO DO PSTU
A gente defende um governo baseado nos conselhos populares, conselhos formados nos bairros, nas associações dos moradores, nos sindicatos, onde as pessoas possam se reunir, debater o que fazer e deliberar sobre o que fazer com o dinheiro do estado. A gente quer fazer valer esse debate que a população faz. O parlamento deveria fazer o que o povo quer, o que o povo decidiu nas suas instâncias (dos conselhos). Nesse momento, a Assembleia Legislativa continuaria funcionando, a Câmara dos Vereadores também, mas elas teriam que se submeter à vontade da população. É uma obrigação (do Legislativo) atender ao que foi deliberado pelos conselhos. E também (vamos) acabar com os privilégios, os deputados iriam receber como um trabalhador comum, sem os tipos de auxílios que eles têm, como auxílio-paletó, auxílio-moradia, auxílio-gabinete. Tudo isso teria fim. 

REVOLUÇÃO
É possível fazer isso com uma grande mobilização da classe. Todos os avanços que a classe trabalhadora conseguiu foram frutos de suas lutas e não de eleições. Desde reajustes salariais, acesso à educação pública para todos, o SUS, tudo isso foi fruto de mobilização. O direito dos trabalhadores foi conquistado com muita luta, inclusive com morte. Poucas coisas foram fruto da eleição. A gente vê hoje o desemprego, a fome, ainda vivemos num país que é a oitava economia do mundo, mas ainda vê crianças passando fome, mulheres assassinadas, genocídio da população negra, jovem, periférica... A saúde nessa decadência. É necessária uma transformação muito maior do que a eleição coloca para a classe. As eleições são um momento que a gente tem a oportunidade de colocar o debate para um público maior, de fazer avançar a consciência da classe em torno de sua própria organização e da mudança radical da sociedade. (Mas) a gente quer que o trabalhador assuma o poder e assuma o comando das suas vidas e não tenha mais as mazelas que esse sistema impõe à classe trabalhadora.  

BOLSONARO
Quem defende Bolsonaro, defende mais ainda os ricos para atacar os sem-terra, os índios, os quilombolas, para atacar aquele indigente que está fazendo furto. Nós, não. Primeiro, a gente tem que ver a raiz da violência que mata principalmente negros e pessoas da periferia, jovens... Existe uma falsa democracia racial, isso revela o racismo que existe na sociedade. A gente defende o combate ao desemprego para acabar com a violência, uma polícia única, que investigue os homicídios porque grande parte dos homicídios não foi solucionado no estado, no país, principalmente se eles ocorrem na periferia. A gente defende a desmilitarização da Polícia Militar, o direito à autodefesa. Em países onde as pessoas têm direito a se armar têm menos homicídios que o Brasil. A questão do porte de arma é secundária em relação às nossas propostas. A segurança tem que ser preventiva para evitar de a pessoa cair no crime. A gente defende a descriminalização e a legalização das drogas, porque elas são responsáveis por 60% dos homicídios que aconteceram no estado. Você tiraria as drogas das mãos do traficante e o estado teria um controle maior e poderia tratar das pessoas que têm dependência química.

ARMAS
A gente defende comitês de autodefesa na comunidade. Hoje quando uma jovem estudante chega perto de sua casa, na periferia, as famílias se reúnem e vão buscar seus filhos, sua esposa na parada do ônibus, porque, se ela for sozinha, está arriscada a ser estuprada. Então, a gente defende comitês de autodefesa para que elas não fiquem expostas à violência. Se você for ver, dos cinco mil homicídios que aconteceram, quantos aconteceram de pessoas ricas? Grande parte foi de pessoas pobres que não têm como se defender. Se a gente olhar os índios, os quilombolas que sofrem ameaças do agronegócio, que sofrem ameaças das pessoas que desmatam... eles estão completamente indefesos. O direito de autodefesa é o mais legítimo direito à vida. A forma como (a arma) seria utilizada seria definida pelos conselhos populares. A gente acredita que a classe trabalhadora tem condições de se organizar e saber o que é melhor para ela. A gente às vezes acha que porque a pessoa é pobre não pode decidir os rumos da nação. A gente está colocando nas mãos de pessoas ricas todo o destino da humanidade. A gente viu o que aconteceu em Mariana, com a Samarco. A gente viu a destruição nas mãos de uma grande empresa e a gente acha que um trabalhador não tem condições de gerir o seu próprio destino. 

EMPREGOS
Primeiro, a gente tem que diminuir a jornada de trabalho. A gente tem 720 mil trabalhadores em Pernambuco, fora os desempregados, e quem está trabalhando está sendo superexplorado, com doenças ocupacionais, estresse, porque trabalha num ritmo acelerado para atender às demandas do mercado e não da população. A gente defende a diminuição da jornada sem a diminuição do salário, com isso a gente já geraria o dobro de empregos que tem hoje. A gente faria um plano de obras públicas que construísse moradias, porque a gente sabe o déficit habitacional que tem o estado, o saneamento básico, as escolas, as creches, que é um déficit muito grande. 

PSTU x EMPRESARIADO
Esses empresários já estão muito bem de vida, porque o que eles ganham não conseguem gastar a vida inteira. Empresas se instalaram aqui com incentivos fiscais, com impostos que a gente paga, com isenções de impostos, ganharam terra para colocar suas fábricas, mas tratam mal seus trabalhadores e colocam sua remessa de lucros para o exterior. Temos que acabar com isso. Eles já ganharam muito. 

ESTATIZAÇÃO
A gente defende a estatização das 100 maiores empresas do Brasil e a estatização das empresas envolvidas em corrupção. Hoje em dia tem corrupção, a pessoa presa coloca uma tornozeleira e vai usufruir do seu roubo. Tem que acabar com isso. A gente tem que virar a mesa, nós defendemos mesmo uma revolução. Não interessa a gente garantir o lucro dos ricos, a gente quer garantir o que a população precisa, se alimentar, ter seu estudo, seu lazer, ter saúde. A gente precisa mudar completamente o que está colocada aí. É possível isso. As grandes transformações foram fruto de luta da classe.

ESPELHO DO PSTU
A União Soviética, na época da Revolução, conseguiu o que nenhuma eleição conseguiu...Que as mulheres tivessem avanços que nenhum país capitalista conseguiu. Conseguiu zerar o analfabetismo, teve avanços na pesquisa, na saúde. Os sovietes eram conselhos populares. Infelizmente o socialismo da União Soviética não se expandiu. Houve muito ataque dos países capitalistas para derrotar o socialismo lá. E também teve a ascensão do stalinismo que fechou o país  para que avançasse a revolução para o mundo. Se a gente conseguisse avançar, estaria num patamar diferente da humanidade. Com avanço da força de trabalho, da tecnologia, era possível que ninguém no mundo passasse fome, ninguém estivesse desempregado, que não tivesse nenhum jovem sem escola. Os países da Europa estão sofrendo com os planos de austeridade, de ataque à aposentadoria, de ataque aos direitos também lá. 

ARMANDO E PAULO
Acho que esses candidatos deveriam ter muita vergonha na cara. Ontem, eu vi o guia de Paulo Câmara dizendo que vai dar R$ 150 (para quem ganha Bolsa Família, como 13º). Ora, com R$ 150... Uma pessoa que faz uma faxina ganha isso. Isso ai é um descaramento. Essas bolsas são planos emergenciais e não uma política para uma vida toda. E Armando Monteiro foi a favor da reforma trabalhista, que aumentou a exploração da classe trabalhadora. Que solução eles vão dar para a nossa classe? Acho indignante (sic). A gente tem outro projeto para a classe e a classe vai lutar pelo que ela quer. Por R$ 150, a gente não quer, não. 

TAMANHO DO PARTIDO
A gente cresceu, teve um crescimento de militantes. A gente pode ser pequeno agora, mas quando tiver uma grande reviravolta colocada para a nossa classe, a gente pode crescer muito mais. Hoje, a classe trabalhadora não vê saída nas eleições, não vê saída nas alternativas que estão colocadas. A classe trabalhadora se levantou em 2013, houve grandes levantes espontâneos da população. No ano passado, fizemos uma grande greve geral que parou a produção do país. Os caminhoneiros também entraram em greve. Isso mostra que a classe trabalhadora pode ter o controle da situação e, enfim, passar a governar. O voto em si não vai mudar. A nossa proposta é para que as pessoas comecem a despertar para a situação de exploração que estão vivendo.

 
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