ELEIÇÕES 2018

Entre os ataques e as propostas para o Estado

No debate de ontem, o tema da reforma trabalhista terminou ganhando protagonismo, já que há candidatos com posições diferentes sobre o assunto

Publicado em: 26/09/2018 08:13 | Atualizado em: 26/09/2018 08:23

Paulo Câmara, Armando Monteiro, Dani Portela e Maurício Rands lado a lado. Foto: Paulo Paiva/DP

Tema criticado em passeatas organizadas por movimentos sociais e sindicatos, a reforma trabalhista transformou-se, ontem, num dos principais assuntos do debate realizado pela TV Jornal entre os candidatos ao governo do estado. Polêmico, o assunto levou, desta vez, o segundo colocado nas pesquisas, Armando Monteiro Neto (PTB), à berlinda. Ao contrário do último confronto organizado pela Rádio Jornal, onde a principal vidraça foi Paulo, Armando também sofreu provocações. Já o candidato Maurício Rands perguntou a Armando porque ele está omitindo seu candidato à Presidência da República na tentativa de conquistar votos de todos os palanques. 

Na primeira pergunta, o governador escolheu o senador para respondê-la e já deu o tom do que viria pela frente. “O senhor é a favor do fim dos 30 dias de férias? O senhor é a favor que as grávidas trabalhem em locais que possam não fazer bem à gravidez? O senhor é a favor que alguém trabalhe para ganhar menos que um salário-mínimo?”, indagou Paulo Câmara a Armando, que votou a favor das mudanças nas leis do trabalho. O PSB orientou a bancada a votar “não”. Armando chamou Paulo de “camaleão”, por ter mudado de posição em relação à questão. Armando também virou alvo de críticas da candidata Dani Portela (PSol) pelo mesmo assunto. “Reitero: você acreditou que rasgar a Consolidação das Leis Trabalhistas ia trazer melhoria para o trabalhador?”, indagou.   

O senador reagiu a ambos, lembrando que um dos candidatos ao Senado de Paulo Câmara, Jarbas Vasconcelos (MDB), também votou a favor da reforma trabalhista. Ele disse que o próprio governador defendeu, nos jardins do Palácio da Alvorada, mudanças na CLT, e além de justificar que havia muitas “mentiras” sobre as alterações nas normas trabalhistas.

Dani Portela ironizou, dizendo que os dois adversários se acusavam mutuamente, ora se afastavam, ora se aproximavam. “Essa reforma vai aprofundar as desigualdades, precarizar seu trabalho, retirar direitos historicamente conquistados, e vocês vêm pedir o nosso voto, depois que votam contrário a nossa vontade e a nossa vida”.

Rands e Dani Portela, que fizeram críticas a Paulo e Armando, também tocaram num assunto polêmico, como a falta de saneamento básico, que ajudou a provocar surtos de dengue, Zika, Chicungunya e microcefalia. O pai da candidata do PSol faleceu após contrair Chicungunya. Para Rands, só em parceria com a iniciativa privada pode-se melhorar o sistema. “Sou filho de um engenheiro sanitarista. Se nós esperarmos apenas os recursos próprios da Compesa, há estimativas que mostram que o saneamento só seria feito em 60 anos. Precisamos juntar recursos privados para promover um programa mais acelerado de saneamento, criar um modelo onde as empresas que participem tenham idoneidade”.
 
Aposta em obras estruturadoras

 Foto: Paulo Paiva/DP

 
Maurício Rands aliou críticas aos palanques de Paulo Câmara e Armando Monteiro à linha propositiva. Ele apresentou duas propostas a seu ver estruturadoras: a construção de um novo ramal ferroviário na Região Metropolitana, ligando Goiana ao Porto de Suape, em Ipojuca, e a duplicação da BR-232, de São Caetano, no Agreste, ao Sertão.

A ferrovia pode ser construída a um custo menor do que o valor atual estimado para um quilômetro de estrada de ferro. O custo médio varia de R$ 2 milhões a R$  4 milhões. Isso porque se aproveitaria o leito de antigas ferrovias. “Assim, o grande custo das desapropriações das obras não vai ser necessário”, frisou. Com o ramal, o candidato afirmou que serão beneficiados os polos automobilístico, vidreiro, farmacoquímico e cervejeiro do Litoral Norte do estado.

A duplicação da BR-232, a partir de São Caetano, foi outra proposta anunciada pelo candidato do PROS. A obra, segundo Rands, terá caráter estruturador para parte do Agreste e dos sertões Central, do São Francisco e do Araripe. Duplicada do Recife a São Caetano, a rodovia se estende por mais de 500 quilômetros.

Para viabilizar as duas obras, o candidato disse que usaria os ativos do estado, a exemplo de ações da Copergás, como garantia para se obter financiamento. Tal modelo integra o pacote de inovações que pretende implantar no gerenciamento do estado. “O dilema atual não é o do estado mínimo e do estado totalitário, mas do estado eficiente”, completou. 
 
Cobrança sobre isenção de IPVA

 Foto: Paulo Paiva/DP


Crítico do projeto do senador Armando Monteiro para isentar o IPVA para as cinquentinhas, proposta que, segundo estudiosos da área, pode agravar o número de acidentados de motocicleta no estado, com o estímulo à compra desses veículos, Paulo Câmara lembrou que a obrigatoriedade do licenciamento das cinquentinhas surgiu a partir de uma lei federal e o senador não discutiu, no Senado, que era seu papel, a questão do seguro obrigatório. “A moto é essencial para o sustento dos motociclistas, precisamos investir em fiscalização e educação”. “Paulo é contra (a isenção do IPVA), ele não gosta das pessoas que usam motos”, disse o senador.

Em entrevista, após o debate, Paulo contestou as críticas de Armando, que o acusou de apoiar a reforma trabalhista. “Eu nunca defendi essa reforma do presidente Temer. Armando quer pregar mais uma vez uma mentira para o povo de Pernambuco, como essa estrela que ele usa para enganar o povo, as imagens de Lula que ele bota no seu guia, todo mundo sabe que o presidente Lula me apoia. Uma imagem de Eduardo Campos que ele coloca também para confundir o eleitorado, tudo isso mostra o despreparo do candidato. Fomos contra a reforma trabalhista de Temer, nossa bancada votou contra. Quem não votou contra foi expulso do partido”.

Indagado sobre qual proposta defende para a reforma trabalhista, Paulo não deu detalhes. “Nosso partido tem proposta que não desequilibre a relação entre empregados e patrões”. 
 
Rótulos no concorrente

 Foto: Paulo Paiva/DP


 Armando Monteiro, por mais de uma vez, procurou colocar rótulos em Paulo Câmara. Entre eles “camaleão” e “exterminador de emprego”. Esse último termo veio no momento em que Armando foi cobrado, pelo socialista, pela posição favorável do candidato do PTB à reforma trabalhista, aprovada no Congresso Nacional. “Paulo, o melhor direito do trabalhador é o emprego e você é um exterminador de emprego. Sabe por quê? Pelo grande número de obras paradas em Pernambuco”, disse, acrescentando que as obras haviam parado porque o governador não foi capaz de destravar recursos disponibilizados pelo governo federal. 

Armando empregou o termo “camaleão” para tratar as posições políticas do governador. O petebista lembrou que Paulo, em 2014, esteve ao lado de Aécio Neves (PSDB), quando disputou o segundo turno com Dilma Rousseff (PT), e agora buscou o apoio do ex-presidente Lula, principal avalista da petista. Outra contradição do socialista, segundo o petebista, seria a posição de Paulo em relação ao impeachment da ex-presidente, em 2016. “Ele votou pelo impeachment de Dilma e agora diz que se arrependeu”, completou. Paulo é um verdadeiro camaleão”.

O mesmo recurso do rótulo, comumente empregado nas disputas eleitorais, Armando usou quando se debatia a questão o pagamento do IPVA para as chamadas cinquentinhas. “Ele (Paulo) não gosta das pessoas que usam moto em Pernambuco”. 
 
Na busca pelo voto feminino

 Foto: Paulo Paiva/DP


Dani Portela falou sobre a importância de as mulheres, sendo maioria do eleitorado, decidirem a eleição. “O poder de decidir as eleições passa pela nossa luta, pela vida das mulheres que precisamos nos unir. Muitas mulheres têm a força de quem quer mudar, com essa força, com a esperança que não tem medo, digo alto e em bom som: Ele não”, referindo-se à candidatura de Jair Bolsonaro à Presidência. 

Durante o debate, Dani fez críticas a Armando e à reforma do ensino médio proposta por um de seus candidatos ao Senado, Mendonça Filho (DEM), bem como a PEC do Teto dos Gastos, ao qual chamou de “PEC da Morte”. Ela referiu-se ao fato de Armando ter dito “sim” à Proposta de Emenda Constitucional que congela os gastos. “Tiveram várias pessoas nesse palanque que aprovaram isso. O que gente espera disso? Ver quem foram os políticos, em quais palanques eles estão, os que colocaram lá o presidente mais impopular da história do país (…) Aqui, ele tem vários padrinhos”. 

Dani também fez críticas ao governador, que, para ela, tem escolas-modelos, mas que não atendem a todos os alunos. “Sou professora, advogada do Sindicato dos Professores, não me conformo com a escola que eu vejo na propaganda, não é a escola que levo meu filho. É justo que tenhamos escola de referência, o que não pode é uma escola valer menos que a outra, nenhum aluno pode valer menos que o outro. A gente falta com a verdade quando promete dobrar o salário dos professores e não cumpre sequer o piso”.
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