Eleições 2018

Comícios estão cada vez mais raros entre os candidatos à Presidência

Sem a possibilidade de contratar shows de artistas famosos, principais candidatos ao Palácio do Planalto preferem apostar em outras formas de campanha, como carreatas e caminhadas. A exceção é o PSol, que fará 10 atos até o primeiro turno

Publicado em: 20/08/2018 07:35 | Atualizado em: 20/08/2018 07:41

Na contramão dos demais partidos, Boulos e a vice, Sonia Guajajara, apostam em comícios: o primeiro foi realizado no sábado, em São Paulo
(foto: @guilhermeboulos/Instagram)

O período mais curto para divulgação de campanha e as estratégias das candidaturas em otimizar o tempo vão fazer os tradicionais comícios caírem ainda mais em desuso nestas eleições. Nos pleitos de 2014 e 2010, poucos presidenciáveis apostaram as fichas nos tradicionais atos públicos em que expõem, com direito a trio elétrico e carros de som, as ideias e programas de governo ao povo. Nas próximas semanas, com até 40 datas para fazer campanha, já descontando os dias de preparo para os debates, essa tônica se aprofundará.

Presidentes de partidos e interlocutores dos presidenciáveis avaliam que os prazos mais curtos mudaram a forma de fazer campanha. A regra é otimizar tempo com ações que possam atrair e convencer um grande número de eleitores. Mas os comícios não estão entre essas ações, reconhece o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi. “Não é algo recente. Isso já vem acontecendo tem algum tempo. Comícios ficaram quase que restritos a ambientes de grande fluxo de pessoas, como terminais rodoviários, mas as concentrações diminuíram, e em espaços grandes dá a sensação de esvaziamento”, justifica.

Até 2002, ainda havia algum atrativo nos comícios. Até aquelas eleições, era permitido a exposição de shows culturais ao lado da divulgação das ideias pelo presidenciável, o que ajudava a atrair eleitores para prestigiar as apresentações. Desde 2006, no entanto, os espetáculos estão proibidos. Logo, é mais difícil atrair o eleitor indeciso.

Além disso, participar de um comício esgota fisicamente um presidenciável, que acaba ficando por horas em pé, sob o sol. E também as cordas vocais. Um desgaste excessivo em uma eleição em que a idade média dos presidenciáveis é de 61 anos, considerando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na disputa. Caso o nome petista seja Fernando Haddad — há a impugnação da candidatura de Lula em tramitação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a média cai para 59 anos.

Por essa razão, comícios acabam sendo avaliados por alguns como um desperdício de tempo, pondera um interlocutor da campanha de Marina Silva, da Rede. “Ocupam praticamente um dia inteiro. Precisa de mobilização grande e é uma ferramenta que não faz chegar a proposta do presidenciável a muitos eleitores”, pondera. Ao evitar o desgaste, os candidatos dividem o tempo entre mais atividades.

Lupi: "Comícios ficaram quase que restritos a ambientes de grande fluxo de pessoas, como terminais rodoviários"
(foto: Ed Alves/CB/D.A Press)

No primeiro dia de campanha, por exemplo, Marina fez uma visita ao ambulatório médico de Cangaíba, distrito localizado na zona leste da capital paulista, e depois participou de uma chamada ao vivo nas redes sociais para um bate-papo com eleitores. Ao fim do dia, foi a uma sabatina com cobertura da imprensa. Ou seja, em um mesmo dia, a candidata usou o tempo para executar as principais estratégias dos presidenciáveis nestas eleições. “Se ela tivesse ido a um comício, não teria tido a mesma energia para participar de outras ações”, destaca o interlocutor.

Recursos
Além do desgaste e tempo que o comício gasta, as ações em públicos demandam recursos. No pleito deste ano, em que as candidaturas têm um teto limite de gastos de R$ 70 milhões, a ordem é priorizar as despesas. E comícios não passam nem perto de encabeçar a lista de prioridades, admite Lupi. “Tem todo o custo com estrutura. Aparelhamento de som, palco, entre outros. Não sai barato”, destaca.

Pelos mesmos motivos, interlocutores das campanhas de Geraldo Alckmin, do PSDB, de Henrique Meirelles, do MDB, e de Alvaro Dias, do Podemos, também reconhecem que os comícios não serão uma prioridade. “Não se faz mais comício como antigamente. Na era das redes sociais, da interatividade, tudo é muito rápido. E isso faz com que essas ações percam, de fato, espaço. Hoje, prioriza-se mais encontros com lideranças políticas, da sociedade civil e religiosas”, ressalta um integrante da campanha tucana. “O tempo é muito apertado e se gasta muita energia. Por isso, priorizamos as redes sociais e a ida a eventos organizados pela mídia e por instituições da sociedade civil”, resume um membro da campanha emedebista.

Contra a tendência, o PSol vai promover mais 10 comícios até 4 de outubro. O primeiro ocorreu no sábado, em São Paulo. O último será no Rio de Janeiro. O presidente nacional da legenda, Juliano Medeiros, reconhece que é desgastante, mas que o presidenciável do partido, Guilherme Boulos, seguirá adiante com os eventos de rua. “Não vamos esconder nosso candidato. Uma das fortalezas do Guilherme é exatamente o contato com o povo. Ele é uma liderança extraordinária, fora do comum e queremos o máximo de contato possível com o povo brasileiro”, afirma. Para esta semana, outros dois comícios serão realizados no Nordeste: Recife e Aracaju.

Candidatura de Lacerda contestada

A diretoria provisória do PSB em Minas Gerais entrou com a impugnação da candidatura do ex-prefeito de Belo Horizonte Marcio Lacerda (PSB) ao governo do Estado nas eleições 2018. No documento, registrado no Tribunal Regional Eleitoral (TRE-MG), a direção afirma que ele não respeitou diretrizes da sigla. “O PSB estava sendo conduzido em prol de um projeto individual, e não nacional, o que não se coaduna com a própria natureza do partido político. A subsistência do PSB em Minas Gerais estava em risco em prol de um projeto pessoal de Marcio Lacerda”, disse a diretoria na impugnação apresentada. A ação se baseia na tentativa de anular a convenção estadual da legenda, ocorrida em 4 de agosto.
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