Operação Lava Jato

Preso há 100 dias, Lula mantém PT imobilizado

A presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann, é quem mais visita o ex-presidente. Ela é a responsável por avisar o partido, governadores e líderes políticos sobre as decisões de Lula

Publicado em: 15/07/2018 13:13

Condenado na Operação Lava Jato, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva completa amanhã 100 dias preso na sede da Polícia Federal, em Curitiba. Mais magro do que estava quando chegou de helicóptero, na noite de 7 de abril, o petista ainda dita as estratégias e os passos do partido e de seus principais aliados na campanha presidencial. E mantém o PT imobilizado na definição de uma alternativa eleitoral.

As vésperas da convenção partidária e a um mês do prazo final para o registro das candidaturas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) - o prazo é 15 de agosto -, o mais importante preso da Lava Jato transformou sua "cela" em comitê político e eleitoral, numa espécie de campanha via porta-vozes.

Desde que foram autorizadas as visitas especiais de amigos, o ex-presidente já esteve com 16 pessoas em 11 datas distintas. A presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann, é quem mais visitou o ex-presidente. É ela a responsável por avisar o partido, governadores e líderes políticos sobre as decisões de Lula - que segundo a sigla, tem a palavra final.

Anteontem, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad esteve com o ex-presidente pela primeira vez como advogado com procuração para atuar no processo da execução penal. Coordenador do programa de governo do PT e apontado como possível " plano B" do partido, Haddad havia estado com Lula em sua cela duas vezes, desde que foram liberadas pela Justiça visitas de amigos nas quintas-feiras, pelo período de uma hora. Como advogado, o petista pode agora ver o ex-presidente em qualquer dia da semana.

A intenção do grupo diretamente ligado a Lula é arrastar até o momento final a definição da candidatura e tentar reverter a situação em benefício eleitoral para o nome que for escolhido como candidato do partido, já que Lula está potencialmente impedido de concorrer com base na Lei da Ficha Limpa.

O PT avalia que o bom desempenho do ex-presidente nas pesquisas, mesmo depois de preso, é um trunfo eleitoral importante para as composições estaduais. E assim, busca manter Lula candidato durante o máximo de tempo possível e fazer a troca só depois que a Justiça decidir se aceita o registro da candidatura.

Lula acompanha o cenário eleitoral e político do País pelos canais da TV aberta - que assiste boa parte dos dias - e pelos relatos de amigos, familiares e advogados.

Reveses
No inicio de junho, o PT pediu à Justiça o direito de Lula participar de "atos de pré-campanha e, posteriormente, de campanha", de comparecer ou participar por vídeo da Convenção Partidária Nacional do PT marcada para o dia 28. Além disso, o partido pleiteava que Lula pudesse participar de debates e sabatinas realizadas pela imprensa.

Na última semana, porém, a juíza federal Carolina Lebbos, responsável pelo processo da execução provisória da pena de Lula negou o pedido. Para a Justiça, o status do ex-presidente atualmente é de inelegível, em decorrência da condenação em segunda instância - a 8.ª Turma do TRF-4 confirmou sentença de Moro em janeiro e elevou a pena.

A decisão de negar direitos especiais a Lula saiu dois dias depois de o desembargador de plantão do TRF-4, Rogério Favreto - que tem histórico de ligações com o PT - conceder liberdade ao ex-presidente no último dia 8. A ação foi revertida no mesmo dia pelo relator da Lava Jato, desembargador João Pedro Gebran Neto, e pelo presidente da Corte, Carlos Eduardo Thompson Flores.

O ex-presidente foi condenado a 12 anos de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do triplex do Guarujá. O partido e a defesa do ex-presidente sustentam que ele é inocente e vítima de uma perseguição político-judicial.

Nos primeiros 57 dias de prisão Lula leu 21 livros, uma média de 52 páginas por dia: desde os mais densos como Homo Deus, de Yuval Noah Harari; Quem Manda no Mundo, de Noam Chomsky; a clássicos como O Amor nos Tempos do Colera, de Gabriel García Márquez; Ressurreição, de Liev Tosltoi; e a biografia Belchior - Apenas um rapaz latino-americano, do jornalista Jotabê Medeiros.

Nesses 100 dias, Lula passou a receber semanalmente visitas de religiosos, todas as segundas-feiras. Ele já foi visitado, por exemplo, pelos amigos Frei Beto e Leonardo Boff. Um pastor evangélico, um monge e um pai de santo também estiveram com o ex-presidente em sua cela neste período.

Militância segue estratégia à risca   
Mesmo preso na sede da Polícia Federal em Curitiba desde o dia 7 de abril, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda controla a militância petista e mantém interditado o debate interno sobre o futuro da sigla sem o seu nome na urna eletrônica.

Formada por um mosaico de correntes internas que costumam travar disputas fratricidas, a base orgânica petista, desta vez, sucumbiu às determinações da cúpula.

No terceiro debate promovido pelo jornal O Estado de S. Paulo com militantes de base dos partidos que estão na disputa presidencial - os primeiros encontros foram com apoiadores de Jair Bolsonaro (PSL) e Geraldo Alckmin (PSDB) - os petistas se mostram indiferentes às evidências de que o ex-presidente não poderá disputar novamente o Planalto.

Às vésperas do início das convenções que definirão os candidatos os representantes das tendências Construindo um novo Brasil, que representa o campo majoritário, Novo Rumo, Muda PT e O Trabalho, além de lideranças de zonais e do presidente municipal da sigla, Paulo Fiorilo, querem que o PT mantenha a hegemonia na esquerda e não poupam críticas aos demais candidatos desse campo.

Eles rechaçam a ideia de substituir Lula pelo ex-prefeito Fernando Haddad na chapa presidencial, criticam o ex-ministro Ciro Gomes, pré-candidato do PDT, e o PSOL, partido que lançou Guilherme Boulos ao Planalto.

Os petistas também não fazem autocrítica sobre os erros cometidos pela legenda no poder, que culminaram no impeachment de Dilma Rousseff, em derrotas nas eleições municipais de 2016 e a na prisão de Lula e outros quadros históricos. "Não acho que o PT errou. Ele fez o que podia dadas as contradições de estar no poder dentro de um Estado capitalista", disse a estudante de filosofia da USP Gabriela Almacedo, diretora municipal da Juventude do PT e integrante da corrente CNB.

Embora a Lei da Ficha Limpa determine inelegibilidade por oito anos a políticos condenados por órgão colegiado, militantes como Renata Scaquetti, secretária sindical do PT-SP, consideram "uma aberração jurídica o TSE vetar essa candidatura". Em março, o Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4) rejeitou os embargos de declaração do ex-presidente no caso do triplex do Guarujá (SP). Com a decisão, Lula está potencialmente impedido de concorrer na eleição.

Ciro
O tema Ciro Gomes mostra o grau de animosidade dos petistas com o presidenciável do PDT. Há consenso de que o caminho de Ciro não vai se cruzar com o PT, pelo menos no primeiro turno. Na avaliação de Bárbara Corrales, da corrente Trabalho, o pré-candidato do PDT "está indicando para onde quer se construir". "Ele está conversando com a direita."
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