Greve reforma clima de intolerância e se torna desafio para os pré-candidatos ao governo

A paralisação aumentou a insatisfação com a classe política e sentimento precisa ser revertido até as eleições

Publicado em: 02/06/2018 10:00

Os pré-candidatos ao governo do estado vão enfrentar um desafio a mais nesta eleição. A greve dos caminhoneiros reforçou o ambiente de intolerância e insatisfação com a classe política, que precisam ser revertidos. Um aspecto gerador de preocupação foram os pedidos de intervenção militar feitos por muitos grevistas nas estradas do estado e de outras regiões do país. Os manifestantes foram às ruas expressar livremente suas opiniões, protestar contra os políticos, contra o aumento da gasolina e contra a crise. Numa ditadura, a insatisfação não poderia ser externada publicamente e qualquer um teria medo até de seu vizinho por se queixar. “Externar um ponto de vista, uma opinião que criticasse alguma medida do governo era ser antipatriota e comunista e podia ser preso”, frisou o filósofo e professor de história Universidade Federal de Pernambuco, Antônio Torres Montenegro.

Com doutorado em história pela Universidade Estadual de Campinas e pós-doutorado pela State University of New York - Stony Brook, Montenegro ressaltou que uma parcela da população continua a ignorar a lista de malefícios da ditadura brasileira. “E não são poucos os malefícios. Vejamos: havia proibição de greves ou manifestações públicas, o que levou a uma política de arrocho salarial e repressão às manifestações da sociedade civil. O clima de medo era permanente em razão das prisões arbitrárias que muitas vezes redundavam em torturas, mortes e desaparecimento definitivo de pessoas. Outra prática era a delação nos ambientes de trabalho e entre moradores, entre vizinhos, que produzia uma constante sensação de que todo colega de trabalho ou vizinho era um agente infiltrado que poderia informar aos militares que qualquer um de nós 'era um elemento perigoso, um comunista',” declarou.

Antônio Montenegro lembrou da censura aos meios de comunicação (imprensa falada, escrita e televisiva) e destacou, portanto, existir uma privação dos pilares fundamentais dos regimes democráticos. “Houve o desaparecimento dos sindicatos como órgão defensor dos direitos de classe, transformado em apenas um órgão assistencialista e qualquer pessoa que defendesse ou mostrasse simpatia pela luta por direitos trabalhistas e ou pela cidadania era imediatamente taxado de comunista, subversivo e passivo de detenção para averiguação”. (Aline Moura)
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