Fake News

Presença de robôs nas redes sociais deve influenciar eleições

Especialistas afirmam que, mesmo com o combate prometido pelo TSE, uso de mensagens geradas de forma automática, e muitas vezes falsas, nos embates virtuais deve afetar votação

Publicado em: 05/02/2018 08:26

Foto: Paulo Paiva/DP (Foto: Paulo Paiva/DP)
Foto: Paulo Paiva/DP (Foto: Paulo Paiva/DP)


Se a presença de alguns políticos nas eleições deste ano é incerta por causa de embates judiciais ou articulações partidárias, a presença dos robôs já está garantida. Apesar de o combate ao compartilhamento de notícias – muitas delas falsas, as chamadas fake news – por perfis falsos no mundo digital ser apontado como prioridade pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), pesquisadores da Fundação Getulio Vargas (FGV) afirmam que o uso de robôs para difamar adversários ou manipular debates nas redes sociais terá grande influencia na busca para conseguir voto dos eleitores.

O exemplo da ação de robôs nos embates políticos de 2018 aconteceu logo em janeiro. Durante o julgamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Tribunal Regional Federal (TRF-4), de Porto Alegre, os pesquisadores da FGV registraram 1,2 milhão de menções em menos de 24 horas em redes sociais. Foi o evento político de maior magnitude nas redes desde a abertura do processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2016. E a presença dos robôs chamou a atenção.

Foram 35 mil interações disparadas por perfis automatizados. Cerca de 5,5% das menções contrárias ao petista partiram de robôs, enquanto entre os apoiadores de Lula foram 5,1%.“A presença detectada de robôs aponta para uma forte utilização dos mesmos durante as eleições com potencial para controvérsias e questionamentos”, avaliaram os pesquisadores.

Desde as eleições de 2014, os pesquisadores da Diretoria de Análise de Políticas Públicas (Dapp), da FGV, acompanham como os robôs estão sendo usados para influenciar o debate político. Para entender como as contas automatizadas são usadas como ferramenta para manipular discussões nas redes sociais, o grupo registrou posts feitos nas redes durante o período eleitoral, a votação do impeachment, a greve geral de abril de 2017 e durante a votação da reforma trabalhista – além do julgamento de Lula no TRF.

“Não tem como evitar o uso de robôs. Esse é um fenômeno que veio para ficar, uma vez que são muitas as formas de interferir no debate usando automatizações. É difícil identificar quem está por trás e muitos provedores estão em outros países, difíceis de se rastrear. E são recursos com baixo custo financeiro, o que torna fácil o uso dos robôs”, observa Amaro Grassi, pesquisador da FGV. Ele avalia, no entanto, que nem sempre são os próprios candidatos os responsáveis diretos pelo uso dos meios clandestinos nas redes sociais. Muitas vezes grupos ideológicos lançam mão dos artifícios de maneira informal.


Apesar de admitir que é impossível impedir a atuação dos robôs, Amaro ressalta que é possível adotar medidas para reduzir a interferência manipulada e evitar a disseminação das fake news. “Um conjunto de medidas deve ser tomado. Os provedores das redes sociais e agências reguladoras do ambiente digital podem atuar para inibir essas ações e tentar identificar os perfis falsos. Mas o fundamental é informar os usuários sobre o que está acontecendo, para que ele avalie que tipo de informação está tendo acesso e o que vale a pena compartilhar”, explica o pesquisador.

O caso Trump Segundo Amaro, o exemplo da manipulação das informações durante as eleições nos Estados Unidos, em 2016, quando Donald Trump foi eleito presidente, pode ser positivos para que o Brasil se previna de influências no meio digital. “Os americanos acordaram de vez para essa questão com as eleições de 2016 e hoje investigam se houve manipulação e até interferência externa. O Brasil tem a vantagem de conhecer exemplos internacionais e já começamos o ano eleitoral conscientes de que esse será um problema real nas eleições deste ano”, diz.

 Até outubro, o TSE quer criar um canal de comunicação entre a Justiça e provedores para facilitar a remoção de conteúdos de sites, blogs e redes sociais considerados ofensivos ou falsos. O tribunal pretende criar também uma cartilha, que será apresentada por meio de uma plataforma de ensino a distância já usada pelo TSE, para padronizar decisões judiciais de magistrados em todo o país.

 Nesta semana, em reunião do conselho criado pelo tribunal sobre internet e eleições, o ministro Gilmar Mendes alertou que a propagação das fake news se tornou mais rápida e mais difícil de ser rastreada. A reunião contou com a representantes do Facebook, Whatsapp, Google e Twitter, que apresentaram mecanismos que estão sendo implementados para combater a disseminação de notícias falsas. De acordo com representantes do Whatsapp, a empresa já usa uma ferramenta antispam, que bloqueia o envio de mensagens em grande escala oriundas de uma mesma conta.
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