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Michele Collins vira alvo de protestos no encontro de Maracatus do Recife Antigo

Advogados do Psol entraram com requerimento na Comissão de Ética para que a vereadora sofra punição por falta de decoro parlamentar Teólogo analisa polêmica

Publicado em: 08/02/2018 20:48 | Atualizado em: 08/02/2018 20:58

Espetáculo de maracutu reúne 13 agremiações. Samuel Calado/Esp/DP

 

aline.moura1@diariodepernambuco.com.br

Até que ponto uma liderança política pode expressar sua opinião de forma inviolável? A polêmica entrou em debate, nesta quinta-feira, quando dois advogados ligados ao PSol ingressaram com uma representação contra a vereadora Michele Collins (PP) na Comissão de Ética e Decoro da Câmara do Recife. Os advogados Pedro Josephi e Danielle Portela alegaram que a vereadora cometeu crimes contra o sentimento religioso, de injúria e de intolerância religiosa ao publicar uma nota no último dia 2 de fevereiro, no Facebook, onde diz estar “orando por Pernambuco e pelo Brasil, na orla de Boa Viagem, clamando e quebrando toda a maldição de Iemanjá lançada contra nossa terra, em nome de Jesus. O Brasil é do Senhor Jesus. Quem concorda e crê diz amém”.

A iniciativa da vereadora gerou reações e protestos entre religiões de matrizes africanas. No Recife Antigo, nesta noite, no Tumaraca Encontro de Nações, que reúne 13 agremiações de Maracatu de Baque Virado e 700 batuqueiros no coração dos festejos de Momo, uma faixa de protesto num tom acirrado também foi exibida contra a vereadora. “Iemanjá nos proteja do racismo religioso. Fora Michele Collins”.  

A vereadora, a mais votada do Recife, disse ao Diario que deletou o texto nas redes sociais, reconheceu o equívoco e pediu desculpas a quem se sentiu ofendido. Mas ela acrescentou que, naquele dia, quando as religiões de matrizes africanas comemoraram o Dia de Iemanjá, não se expressou como vereadora, mas como missionária, numa conta de uso pessoal.  Pedro Josephi disse que discordava. Frisou que o papel de uma vereadora, num país laico, é combater o racismo e a intolerância. Ele lembrou que Michele é presidente da Comissão de Direitos Humanos e que também expressa ações do seu mandato por meio da mesma conta no Facebook.

“O vereador ou vereadora precisa se portar no exercício do seu mandato de acordo com o que determina as leis. Ela conclamou a sociedade cristã a participar daquela manifestação intolerante”, acrescentou o advogado, dizendo ainda que solicitou cópia do requerimento ao Ministério Público de Pernambuco para averiguação dos crimes praticados.

Presidida pela irmã Aimée, que também é evangélica, a Comissão de Ética da Câmara tem sete dias para decidir pela abertura de um procedimento disciplinar contra Michele Collins, o que dificilmente deve prosperar. “Se a Comissão arquivar o requerimento, podemos entrar com recurso”, explica Josephi.  

Para o coordenador do curso de Teologia da Universidade Católica, Sérgio Sevino, mesmo sendo evangélica e tendo uma experiência subjetiva de fé, a vereadora não tem o direito de “demonizar a experiência religiosa dos outros”. “Ela é uma mulher pública, tem um mandato e o que ela expressa tem um raio de visibilidade muito grande.

A vereadora tem todo o direito de praticar a fé dela, mas precisa ter cuidado, porque, no fundo, está incentivando uma visão preconceituosa das religiões de matizes africanas e isso tem gerado alguns atos de violência, como destruição de terreiros e mães e pais de santo sendo obrigados a destruírem seus símbolos religiosos”, avaliou Sevino. “Esse tipo de discurso só faz fortalecer as divisões e o preconceito”, completou.

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