Opinião

Jairo Cabral: Clubes, troças e blocos

Jairo Cabral é Mestrando em História na Unicap

Publicado em: 15/02/2018 10:53

O carnaval de Pernambuco é único. A diversidade de manifestações que abriga, lhe confere características singulares. Bois, Bonecos gigantes de Olinda, Caboclinhos, Caretas de Triunfo, Maracatus de baque virado ou nação, alguns de existência secular, Maracatus de baque solto ou rural, Papangus de Bezerros, Ursos, Escolas de samba, Caiporas, além de uma infinidade de brincadeiras, muitas das quais improvisadas. Clubes, Troças e Blocos ao som arrebatador do frevo, ao lado dos Maracatus com seus batuques de religiosidade afro-brasileira, se destacam como pilares centrais do universo mágico do carnaval pernambucano. Aliás, os cortejos carnavalescos muito se assemelham aos cortejos religiosos, influência direta da igreja católica, que sob o papado de Urbano II, organizou o calendário litúrgico estabelecendo que os três dias anteriores ao período quaresmal, consagrado a abstinência e ao culto a Deus, seriam destinados as festividades profanas, marcadas pelo consumo abundante da carne e do vinho e pelas danças e cantos de celebração coletiva em praça pública.

Os Clubes de frevo, antigamente chamados de Clubes pedestres e as Troças em sua grande maioria, nasceram de associações de ofícios e de sindicatos de trabalhadores e se constituíam como espaços de divertimento, de sociabilidade, de formação profissional e em alguns casos de formação política. Os nomes estampados nos estandartes, revelavam a identidade das corporações trabalhadoras organizadas em várias agremiações populares. Verdureiros em Greve, Parteiras de São José, Lavadeiras de Areias, Engomadeiras, Caiadores, Ferreiros, Empalhadores do Feitosa, Lenhadores, Pás, Vassourinhas, dentre outros. Muitos desapareceram e alguns continuam em atividade, como Lenhadores, Pás e Vassourinhas, todos do Recife, fundados respectivamente em 5 de março de 1897, 19 de março de 1888 e 6 de janeiro de 1889. Os Clubes de frevo geralmente desfilam à noite e se apresentam com um Abre-alas, Diretoria, Balizas, Damas de frente, Destaques, Cordões, Porta-estandarte, Passistas e a Orquestra executando frevo de rua, de natureza instrumental. No caso dos Clubes de alegoria e crítica ou de alegoria e máscaras, frequentes durante boa parte do século passado, como o Leão e o Camelo de Vitória de Santo Antão e o Galo da Madrugada, constam também os carros alegóricos, expressão do carnaval elitizado das classes mais favorecidas.

As Troças se parecem com os Clubes de frevo. É uma versão menos sofisticada destes e geralmente desfilam pela manhã e à tarde. Se apresentam com a Diretoria, Balizas, Cordões, Figuras de frente, Passistas, Fantasias de destaque, Porta-estandarte e Orquestra.

Os Blocos têm características muito peculiares. A orquestra de pau e corda é constituída por violões, banjos, cavaquinhos, bandolins e instrumentos percussivos. Começaram a surgir no carnaval do Recife, por volta dos anos 1920 e sofreu influência dos pastoris do ciclo natalino e das serestas, comuns naquela época. Tem o flabelo como abre-alas. Em seguida vem a Diretoria, as Damas de frente, os Destaques, os Cordões, o Coral feminino e a Orquestra. As canções executadas para a evolução das agremiações, são denominadas frevo de bloco, tem andamento moderado e letras dolentes que geralmente evocam o passado ou acontecimentos do cotidiano. Na sua origem, os Blocos congregavam famílias pequeno-burguesas, nos quais as moças e as damas da sociedade recifense, brincavam protegidas por uma grossa corda, isolando-os do povo. Com o passar do tempo se popularizaram e ganharam feições menos elitistas, possibilitando a participação de outros segmentos sociais. Dos anos 1970 para cá, em função das transformações arquitetônicas ocorridas no Recife, alguns instrumentos de sopros, como o saxofone e o clarinete, foram introduzidos na orquestra para sustentar a melodia. Além disso, os Blocos passaram a ser denominados de Blocos Líricos, para melhor identificar o tipo de agremiação e para escapar da designação geral (Bloco), que a mídia adotou para enquadrar as principais expressões carnavalescas de Pernambuco que tem Clube, Troça e Bloco.
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