Opinião

Malude Maciel: As mangas

Malude Maciel é presidente da ACACCIL

Publicado em: 11/01/2018 07:21

Nem sempre existiu a luz elétrica (energia, iluminação) como temos hoje. Nas grandes cidades e capitais como o Rio de Janeiro e Recife, eram utilizados os interessantes “Lampiões de gás” que foram cantados pelos poetas e trovadores (“Lampião de gás, lampião de gás, quanta saudade você me traz”). Estes alumiavam as ruas e praças de outrora. E aí tivemos os chamados: acendedores de lampiões; uma profissão que caiu em desuso.

Em Caruaru, naquela época, somente por determinado horário usufruía-se da energia elétrica controlada por um motor que era desligado e voltava-se à escuridão em certa hora da noite. Nisso as pessoas valiam-se dos chamados “candeeiros” ou lamparinas que utilizavam como combustível o querosene. As residências, as escolas, casas comerciais, etc. dependiam desses utensílios que tinham como complemento indispensável mangas que variavam de feitio e algumas eram bonitas, confeccionadas em vidro trabalhado com desenhos, ornamentando os ambientes. Os menos abastados tinham candeeiros bem simples e sem mangas; apenas a chama alta clareava os locais. Porém aconteciam muitos incêndios devido ao mau uso de candeeiros. As velas também ajudavam na iluminação, sendo outra causa do “pegar fogo” perigoso.

Os mais jovens não conheceram as “mangas dos candeeiros”, mas podem pesquisar a respeito.

Atualmente quase não se vive sem energia elétrica porque quase tudo que usamos é ligado e recarregado nos fios e tomadas diversas.

A Língua Portuguesa, considerada a última filha do latim, foi assim definida pelo poeta Olavo Bilac: “Última flor do Lácio, inculta e bela...” e tem seus mistérios e caprichos, adotando vários e diferentes significados para uma mesma palavra. É o caso do vocábulo: manga.

Temos a manga fruto da mangueira (bonito, cheiroso e saboroso) e chegou ao Brasil por volta de 1700 pelas mãos dos lusitanos, sendo nosso país o primeiro a cultivar a manga na América. Pelo mundo afora estima-se mais de mil tipos, porém as espécies mais conhecidas aqui são: a rosa e a espada. Era comum no Recife de outrora, cada quintal de residência ter seu pé de manga com as adocicadas frutas que servem também para excelentes sucos com polpas ricas em vitaminas A e C.
Existe a camisa com mangas curtas ou longas, e assim a palavra aparece com outro significado completamente diferente referindo-se ao vestuário masculino ou feminino: vestido sem mangas ou com mangas. Difícil para os estrangeiros entenderem a diversidade do termo.

Há ainda o verbo mangar, sinônimo de caçoar, zombar, rir de outrem, fazer galhofa. Mais usado pelas pessoas simples, porém o termo: “manga” está aí empregado em algumas regiões do país, na conjugação verbal na terceira pessoa do singular.

O idioma português é muito rico em suas peculiaridades gramaticais e muitos acham tremendamente difícil dominá-lo totalmente, outros ficam fascinados com seu perfil e os estrangeiros estranham as regras da gramática. É admirável quem se torna professor dessa matéria, enveredando pelas nuances da língua e tendo autoconfiança, no entanto de quando em vez há mudanças nisso ou naquilo suscitando erros.

Feliz quem estuda sua linguagem materna com afinco para saber escrever bem e se expressar corretamente. A leitura habitual é uma grande colaboradora nesse sentido.
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