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Editorial: Soluções ignoradas

Publicado em: 19/01/2018 07:28

Depois de seis décadas, Brasília vai se livrar do Lixão da Estrutural, o maior da América Latina, localizado a 15km da Presidência da República. Apesar do atraso, a capital da República dá um exemplo a ser seguido por todas as cidades brasileiras que não desativaram os lixões a céu aberto até 2 de agosto de 2014 — data-limite  fixada pela Política Nacional de Resíduos Sólidos, aprovada pela Lei nº 12.305/2010, regulamentada pelo Decreto 7.404, de 23 de dezembro de 2010.23/12/2010.

Um Brasil livre de lixões ainda está no plano das quimeras. Os efeitos danosos que causam à saúde pública, à oferta de água potável, entre outros prejuízos à população, não sensibilizam a maioria dos congressistas. No parlamento, tramitam projetos de lei que adiam para 2021 a substituição dos depósitos ilegais de resíduos por aterros sanitários.

Em 1981, o Brasil aprovou a primeira política de meio ambiente.Trinta e seis anos depois, o país ainda está patinando na solução das mais de 80 milhões de toneladas de lixos produzidas anualmente, das quais 30 milhões são lançadas em áreas abertas. Estima-se que quase 78 milhões de brasileiros sofrem impacto direto do descaso do poder público.

As recorrentes epidemias de dengue, zika vírus, chikungunya, mais intensas no verão, tem relação direta com o desrespeito à política de resíduos sólidos. O prejuízo é maior quando, diante da crise hídrica que afeta a maioria das cidades, as fontes de água são contaminadas ou aterradas pelo lixo produzido pelos brasileiros. A falta de saneamento básico não pode ser excluída desse cenário — no primeiro semestre de 2017, o governo federal cortou 12% dos repasses a estados e municípios.  

O déficit no saneamento e no descarte correto do lixo  tem reflexos na vida dos cidadãos e na economia, com o afastamento de trabalhadores da atividade laboral  (em média, 3,32 dias) ou de grande parte das internações por doenças causadas pela contaminação de mananciais — gasto anual de R$ 362 milhões.

O descuido com o lixo implica também perda de riquezas e congelamento de oportunidades de trabalho, num país com mais de 12 milhões de desempregados. Boa parte deles poderia ser mão de obra da indústria de reciclagem, presente nos países desenvolvidos.

Se fossem contabilizados os gastos do Sistema Único de Saúde, o país constataria que investir em aterros sanitários e saneamento seria uma ação lucrativa, com impacto na qualidade de vida dos cidadãos e nos índices de desenvolvimento humano. Tudo depende de definições corretas de prioridades em favor do bem-estar dos brasileiros.
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