Opinião Clóvis Cavalcanti: Sustentabilidade Clóvis Cavalcanti é presidente da Sociedade Internacional de Economia Ecológica (ISEE)

Publicado em: 04/12/2017 07:11 Atualizado em:

Recebi do Diario, no último dia 28 de novembro, o “Grande Prêmio Orgulho de Pernambuco no segmento Sustentabilidade”. Esse galardão, em gesto generoso, foi instituído pelo jornal. A escolha dos nomes contemplados nos seus diversos segmentos, como Lia de Itamaracá, “Cultura”, Maestro Forró, “Cidadania”, Carlos Augusto Lyra, “Arquitetura”, Camila Coutinho, “Moda”, André Ferraz, “Tecnologia e Inovação” - para citar apenas alguns - foi resultado de votação das pessoas que tiveram acesso ao site criado especificamente para isso. Havia quatro nomes em cada categoria. Concorri com Socorro Cantanhede (da importante ONG ambientalista Recapibaribe), Everaldo Feitosa (da empresa Eólica Tecnologia) e Frederico Vilaça (da Usina São José). Grande honra para mim ser escolhido diante de concorrentes tão respeitáveis. E, mais ainda, por ter tido como patrono, Vasconcelos Sobrinho (1908-1989), o maior nome da ecologia nordestina e meu amigo também. A cerimônia de entrega do laurel aconteceu diante de auditório dos mais ilustres. Enfim o prêmio e sua entrega seguiram um padrão que as tradições pernambucanas sabem ensejar. 

Provavelmente, uma parte boa do público que tomou conhecimento da premiação não tenha noção mais precisa do termo sustentabilidade, segmento a que meu nome foi associado. Essa palavra entrou no léxico corrente das discussões sobre desenvolvimento exatamente há 30 anos, quando a ONU lançou importante estudo denominado Nosso Futuro Comum, fruto do trabalho de uma comissão de notáveis, chefiada pela primeira-ministra da Noruega Gro Harlem Brundtland. O estudo introduziu o conceito de "desenvolvimento sustentável" como aquele processo em que se usam recursos da natureza para satisfação das necessidades das gerações atuais sem comprometimento das possibilidades de satisfação das necessidades das gerações futuras. Tenho estado muito envolvido com esse assunto. Escrevi um dos capítulos do livro organizado pelo oceanógrafo americano Robert Costanza, publicado em 1991, com o título de Ecological Economics: The Science and Management of Sustainability (economia ecológica: a ciência e gestão da sustentabilidade). Todo meu trabalho desde a década de 1980 passou a ter compromisso com o importante conceito. Na verdade, só existe desenvolvimento que seja sustentável. Se for o contrário, insustentável, vai acabar. Ou seja, não é desenvolvimento algum. Trata-se de fraude, mentira, ilusão.

Ao receber o prêmio, subi ao palco na companhia de meu neto Cauê, de 9 anos, que pediu para ir comigo. Na ocasião, expliquei por que estava ali com ele: o prêmio remete às gerações futuras. E a questão toma corpo porque a realidade atual vai se mostrando cada vez mais insustentável. A mudança climática, por exemplo, está num avanço que faz a comunidade científica mundial avisar do perigo de um colapso ambiental de feições nunca imaginadas. Ao mesmo tempo, a inchação do sistema financeiro global, que é uma bolha, preocupa pelos riscos de estouro com violenta destruição de ilusórios patrimônios de papel. Na verdade, a economia financeira (virtual) do planeta está num patamar que a faz valer 16 vezes a economia real de produção e consumo de coisas. Do mesmo modo, índices de violência e corrupção atingem níveis absolutamente insustentáveis. Esses sinais todos podem ser mudados pela ação inteligente de populações e governos. Entra exatamente aqui o que significa buscar sustentabilidade. 

No meu breve pronunciamento na premiação do Diario, mencionei que a busca de sustentabilidade é uma regra para tudo o que se faz: saúde, educação, habitação, indústria, agricultura, comércio, transportes, ciência, etc. Ou seja, é preciso pensar no impacto das ações humanas em termos da base de recursos que assegura sua realização. Os economistas ecológicos, entre os quais me incluo, usam o conceito de pegada ecológica - que mede o impacto de nossas ações -, comparando-o com o da biocapacidade, que é o potencial de uso dos sistemas naturais. Só podemos fazer coisas com uma pegada ecológica que não exceda a biocapacidade dos ecossistemas. Agir assim leva à conservação da natureza para o bem das gerações futuras. Sustentabilidade



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