Opinião Alexandre Rands: Semana de temas relacionados com retomada Alexandre Rands é economista, PhD pela Universidade de Illinois e presidente do Diario de Pernambuco

Publicado em: 18/11/2017 08:18 Atualizado em: 18/11/2017 08:30

Essa foi mais uma semana em que as preocupações econômicas foram dominadas por temas relacionados à retomada da economia. Algumas boas notícias contribuíram para promover esse tipo de preocupação, como a confirmação de que a arrecadação do governo federal vem crescendo bastante, algo entre 10% e 12% em termos reais, e a revelação de que a taxa de desemprego caiu de 13% para 12,4% no terceiro trimestre, com a segunda queda consecutiva. Reestruturações e captações de recursos para investimentos foram temas que dominaram a preocupação empresarial, apesar de ainda existir muitas dificuldades em várias empresas para fechar suas contas neste final de ano, sempre infladas nesse período. As dificuldades das prefeituras e governos estaduais para conseguir fechar suas contas até dezembro foi a grande percepção maturada na semana que destoa da tônica empresarial, principalmente entre grandes empresas. Como consequência das boas notícias, o dólar caiu e a bolsa de valores fechou a semana com alta do Ibovespa.
Obviamente uma das maiores preocupações nas empresas girou em torno da adaptação à reforma trabalhista, que já está em vigor. Entretanto, o envio de MP para corrigir alguns pontos acordados na tramitação no Congresso reacendeu a esperança dos reacionários em reverter alguns pontos importantes da reforma e com isso voltar a cristalizar os privilégios de poucos, muitas vezes espertalhões, às custas do bem-estar da maioria, honesta e trabalhadora. Talvez o governo devesse ter evitado essa MP agora, deixando-a para mais à frente. Quando o vigor das forças reacionárias, lideradas pelos sindicatos de classe média alta, soma-se ao medo da população frente ao novo, o resultado podem ser recuos desnecessários e a consequente queda na renda média dos brasileiros, quando se compara ao que ela será nos próximos dez anos com a reforma a pleno vigor.

A queda na taxa de desemprego foi particularmente relevante em Pernambuco, onde ela foi de 18,8% para 17,9% no terceiro trimestre. No Brasil e no Nordeste essa taxa já havia caído no segundo trimestre, quando se compara ao primeiro, mas em nosso estado foi a primeira queda no ano. Desde o último trimestre de 2014 foi a primeira queda relevante da taxa de desemprego em Pernambuco, tendo havido uma pequena no último trimestre de 2015, mas logo revertida no trimestre seguinte e com muita força. Assim, ela pode indicar que realmente a recessão já foi realmente superada no nosso estado, como parece já ter ocorrido no resto do Brasil. Vale notar que o emprego sazonal associado à safra da cana de açúcar teve pequeno impacto nessa estatística, pois somente setembro é afetado de forma mais contundente por ela. Ou seja, os dados indicam que realmente houve queda da taxa de desemprego.

Outras preocupações importantes ao longo da semana foram quanto aos meios de financiar as novas expansões, pois o BNDES já não deverá ter o mesmo protagonismo que antes, às novas regras de exploração mineral, que ainda não estão definidas, e ao apetite do capital estrangeiro por investimentos no país e aquisição de empresas brasileiras. Apesar do otimismo que já começa a tomar os meios empresariais, e que se revelam nessas preocupações, os problemas ainda persistem na nossa economia, principalmente entre empresas menores e com menos acesso aos mercados de capitais. A escassez de crédito e a alta inadimplência persistente no mercado faz com que elas ainda estejam em grandes dificuldades e por tal têm dificuldades de sentir as melhoras tão difundidas. Além disso, estados e municípios ainda estão sem pagar direito as suas contas, o que gera inadimplência em cadeia. Esse problema é particularmente sério em Pernambuco. Enfim, o momento claro de recuperação ainda está permeado por muito sofrimento para quem está à frente da produção social: os empresários e executivos, que podem ouvir sobre os sinais de melhora, mas ainda enfrentam nível elevado de dificuldades.


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