Opinião Ruy Lyra: Prevenção e tratamento da obesidade e diabetes: uma guerra que vem sendo perdida Ruy Lyra é professor de Endocrinologia da Universidade Federal de Pernambuco. Ex-presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia e da Federação Latino Americana de Endocrinologia

Publicado em: 18/10/2017 07:07 Atualizado em:

A vida é feita de desafios e eles estão aí para serem vencidos. Já dizia Schopenhauer (1991): ‘’Enfrentar obstáculos e esforçar-se é uma necessidade humana […]; vencer desafios é a meta máxima da nossa existência’’. Como profissionais de saúde, juramos dedicar a vida a praticar a busca constante pela saúde e qualidade de vida da população. Dentre tantas batalhas a serem vencidas na vida do endocrinologista, uma se destaca por sua importância e abrangência: a luta contra a obesidade e o diabetes mellitus. 

A obesidade, que em geral se refere ao excesso de gordura corporal, tornou-se um importante problema de saúde pública. Uma verdadeira epidemia global, afetando todas as faixas etárias, populações e países de todos os níveis de renda. No mundo, mais de 1,9 bilhão de pessoas estão acima do peso e com números crescentes. Muitos países em quase todos os continentes têm taxas de obesidade altas e 65% da população mundial vive em países onde o excesso de peso ou a obesidade causam mais mortalidade do que a deficiência ponderal. Nos Estados Unidos, por exemplo, cerca de 70% dos adultos e 32% das crianças estão acima do peso ou com obesidade, com uma tendência ascendente contínua. Já no Brasil, mais da metade da população adulta se encontra com o peso além do adequado. No tocante ao diabetes mellitus (DM), essa condição atingiu proporções epidêmicas e sua prevalência vem aumentando. Dados da International Diabetes Federation estimam que o DM estava presente em 415 milhões de indivíduos em 2015, com projeção de 642 milhões de afetados no ano de 2040. Essa mesma Instituição coloca o Brasil em quarto lugar em números de diabéticos no mundo, com cerca de 14 milhões de acometidos e com projeção para mais de 23 milhões no ano de 2040, com gastos com a saúde para aquele ano em mais de U$ 29 bilhões. Podemos, portanto, vislumbrar que estamos diante de uma verdadeira epidemia de portadores de obesidade e diabetes.

Obesidade e diabetes, infelizmente, são fortemente ligados. Por exemplo, em torno de 90% dos portadores de diabetes tipo 2 apresentam sobrepeso ou obesidade. Em outras palavras, naqueles indivíduos que apresentam predisposição genética para o diabetes, o ganho de peso pode e deve ser o empurrão que faltava para o desenvolvimento dessa condição. A cada dia aumenta o número de obesos procurando orientação no Instituto de endocrinologia do Recife e resolvemos fazer o alerta. Diante desse cenário, faz-se necessário a implementação de medidas urgentes para minimizar esse quadro catastrófico.

Indubitavelmente, vivemos em um ambiente obesogênico, com o uso cada vez mais frequente de fast foods, refrigerantes e estilo de vida sedentário, que precisam ser abordados através de esforços de saúde pública e aconselhamento individual. As modificações dietoterápicas e de estilo de vida estão associadas a múltiplos resultados benéficos, tanto do ponto de vista  clínico, como psicológico. Como sugestão, importantes medidas podem minimizar esse grave problema de saúde pública: aplicação de  impostos mais contundentes sobre alimentos deletérios, tais como os ricos em gordura e açúcares, restrições ao marketing poderoso dirigido sobretudo a mentes jovens e vulneráveis. Ainda, assegurar o acesso da população a estruturas adequadas para prática de exercícios físicos e alimentos nutritivos. Nesses meses de outubro e novembro, onde coincidentemente se propaga o dia mundial da obesidade e diabetes, respectivamente, é fundamental que busquemos reverter essa situação. Profissionais da saúde e população necessitam de um total engajamento para podermos vencer essa guerra. 


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