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Opinião José Luiz Delgado: Médicos de 1966 José Luiz Delgado é professor de Direito da UFPE

Publicado em: 05/10/2017 07:14 Atualizado em:

Cada turma que se forma, qualquer que seja o seu curso superior, constitui uma unidade específica dentro da vida e da história universitárias. Cada uma terá suas próprias aventuras, seus episódios pitorescos, seus tipos humanos inconfundíveis, uns incidentes – engraçados ou constrangedores – que deliciarão a memória de seus integrantes pela vida afora. Nisso, nos requintes de uma história única, nenhuma turma se distingue das outras.

Muitas – nem todas – conseguirão manter também o bom hábito das confraternizações anuais, nas quais renovam a amizade, o companheirismo, a união. Com o passar dos anos, todas, mesmo que imensamente desfalcadas, chegam ao cinquentenário. Como, há pouco, os médicos de 1966.

O que distingue, porém, essa turma de médicos é o notável documento que produziu para celebrar os 50 anos da formatura: dados biográficos de cada um dos colegas, inclusive dos já falecidos, depoimentos dos anos do curso, documentos das solenidades da colação, lembranças, tudo reunido num livro que, ao cabo, é um bom pedaço da história pernambucana, ao menos da história da medicina pernambucana.

Em boa medida, um esforço desse tipo (que não é nada pequeno) é obra coletiva. Nenhuma realização assim se faz, porém, sem um animador, uma líderança, alguém que tem a iniciativa, levanta a ideia e toma a si o empreendimento. No caso, foi o exemplar pediatra Otelo Schwambach que já vem dando à ciência e à prática médicas pernambucanas grandes textos, para os quais congrega equipes de especialistas. E que, para este empreendimento dos 50 anos, “O livro da turma”,  implacável, “não largava do pé dos colegas”... Até gostava se algum demorava a lhe mandar os dados solicitados: era mais uma oportunidade para reavivar o convívio juvenil.  

O resultado não é apenas um conjunto impressionante de perfis, o que, por si só, já seria importante. Afinal, são histórias de vidas – e não há vida humana que não seja fascinante. Resulta, sobretudo, uma noção muito clara da especificidade do saber médico, uma boa visão do que é a medicina dentro da universidade, e de como não se podem aplicar a um saber específico as categorias, as regras e os valores de outros saberes, como quer fazer a mediocridade do MEC, da Capes, etc. O ensino médico exige, por exemplo, além de um grau muito intenso de prática, ainda a colaboração de um “currículo complementar”, ao qual o livro faz reconhecido registro.

O resultado é também um quadro, muito saboroso e muito expressivo, da vida recifense de 50 anos atrás, vida acadêmica e vida médica, sobretudo da medicina que estudaram – a fotografia de um momento culminante da Faculdade de Medicina da UFPE,  que estava numa das melhores fases de sua história, em que pontificavam grandes médicos-professores e grandes alunos, muitos dos quais viriam a se  consagrar entre os melhores nomes da medicina pernambucana.


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