Diario Editorial: Por que se preocupar com o fim dos insetos voadores

Por: Diario de Pernambuco

Publicado em: 20/10/2017 06:58 Atualizado em:

Parece história de filme de ficção científica, mas ontem uma reputada publicacão científica — a revista alemã Plos One — divulgou estudo segundo o qual houve uma queda de 75% no volume total de insetos voadores em áreas protegidas da Alemanha, nas últimas três décadas. Não apenas de um, dois, três ou 10 insetos — de milhares deles, incluindo aí abelhas, borboletas e mariposas. Diante de tantas crises no Brasil e no mundo, diante do descrédito que está atingindo parcelas da política aqui e no exterior, por que se preocupar com insetos da Alemanha?, pode perguntar o/a leitor/a. 

Por três motivos.

Primeiro, pelas consequências do fenômeno. De acordo com os autores do estudo, o resultado é “preocupante”, pois como eles são fontes de alimentos para 60% das aves e responsáveis pela polinização de 80% das plantas, a redução em massa afeta o funcionamentos de cadeias alimentares e de vários ecossistemas.

Segundo, porque embora a pesquisa tenha sido realizada na Alemanha, suas implicações podem ser ampliadas para a agricultura do mundo inteiro. Embora não se tenha ainda uma causa considerada definitiva para explicar a tendência de extinção dos insetos voadores, os pesquisadores creem que um dos motivos mais prováveis é o uso de pesticidas e adubos.
E terceiro, a queda está ocorrendo não nos perímetros urbanos, e sim em “reservas naturais” — ou seja, no local em que em tese eles deveriam estar mais preservados. Conforme explicação de um dos autores do estudo, a agricultura moderna proporciona um ambiente hostil para insetos. “Um declínio em uma taxa tão alta e em uma área tão grande é uma descoberta alarmante”, disse um dos autores, Hans de Kroon, da Universidade Radboud.

Embora com resultado não tão drástico quanto demonstrou o estudo de agora, em dezembro do ano passado a mesma revista já havia divulgado pesquisa apontando redução no número de insetos voadores, em particular das abelhas. Na época, pesquisadores do México e do Brasil estimaram que aqui a agricultura poderia sofrer um prejuízo de US$ 4,9 bilhões a US$ 14,6 bilhões. O prejuízo tão expressivo deve-se ao fato de que as culturas que precisam de polinização (como café e algumas frutas, entre outras) têm alto valor de mercado. Na pesquisa de 2016 cogitava-se que um dos fatores responsáveis pelo declínio era a transformação de grandes áreas de florestas ou mata nativa em áreas de monocultura.  

O mundo e o Brasil já têm muito com o que se preocupar, mas um problema que intriga cientistas e é por eles classificado como “alarmante” e “preocupante” merece entrar em qualquer lista de preocupações — e para o aqui e agora de todos, e não para o futuro das obras de ficção científica.


MAIS NOTÍCIAS DO CANAL