Diario Editorial: A vitória de Aécio

Publicado em: 18/10/2017 07:01 Atualizado em:

O Senado derrubou ontem a decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) e devolveu o mandato ao senador Aécio Neves (PSDB/MG). A vitória foi por 44 votos a favor (três a mais que o necessário) e 26 contra. Maior partido da Casa, o PMDB — que tem 22 senadores — fechou questão favorável ao tucano. Outras legendas que também manifestaram-se pró-Aécio foram o próprio PSDB, PP, PR, PRB, PTC e PROS. Contra ficaram o PT, PSB, Rede, PDT, PSC e PODE. Liberaram a bancada para que seus integrantes votassem como quisessem o PSD e o DEM.

Nem todos os senadores estavam no plenário para a votação. Em viagem oficial a Rússia ou aos Emirados Árabes Unidos não compareceram Armando Monteiro (PTB-PE), Cristóvam Buarque (PPS-DF), Gleisi Hoffman (PT-PR), Jorge Viana (PT-AC), Ricardo Ferraço (PSDB-ES), Roberto Muniz (PP-BA), Sérgio Petecão (PSD-AC) e Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM). Estiveram presentes 70 dos 81 senadores.

Sem entrar no mérito da questão, o fato é que a decisão do Senado repercutiu com força sobre o sentimento do brasileiro em relação à política, no país — fica a impressão (já manifestada, ontem, nas redes sociais) de que os políticos não punem os políticos. De que se a última palavra ficar com eles, o resultado será semelhante — com uma exceção aqui, outra acolá — ao que ocorreu ontem.

O país não vive hoje a mobilização popular que viveu em 2015 e 2016, com grandes manifestações de rua e protestos contra corrupção e a favor da política limpa. Mesmo considerando-se que esta mobilização se dirigia majoritariamente contra o partido que então estava no poder, é plausível supor que a indignação demonstrada naquele período não desapareceu por completo. Ela pode estar adormecida, ou resignada, mas não extinta.
Alguns poderão interpretar a decisão do Senado como uma tentativa de preservar o Legislativo contra eventuais investidas do Judiciário. Outra análise é que uma condenação de Aécio poderia tornar-se uma ameaça latente contra outros senadores, no futuro.

Independentemente do que seja, e sem querer fazer dessas linhas um tribunal destinado a condenar o senador tucano, não há como não levar em consideração o desgaste que uma decisão como a de ontem provoca sobre o Legislativo e sobre os políticos em geral. Pelo menos desde 2013 a agenda da política brasileira em geral não tem se harmonizado com o que têm demonstrado os brasileiros, ou pelo menos parcela expressiva dos brasileiros.
O senador Aécio Neves e aqueles que nele votaram podem até comemorar o resultado como uma vitória, mas a médio e longo prazos talvez constatemos que para a sociedade brasileira a impressão é que aconteceu o inverso.
 


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