Diario de Pernambuco
Busca
Opinião Alexandre Rands Barros: Semana tranquila na economia, apesar de turbulência política Alexandre Rands Barros é economista, PhD pela Universidade de Illinois, presidente da Datamétrica e do Diario de Pernambuco

Publicado em: 14/10/2017 08:23 Atualizado em:

A semana curta por causa do feriado foi tranquila na economia, apesar das turbulências políticas. Enquanto o Congresso viu aflorar estremecimento entre Temer e Rodrigo Maia por causa da medida provisória regulamentando a leniência dos bancos, que Temer deixou caducar, o STF voltou atrás e resolveu devolver ao Congresso o poder de impor sanções aos congressistas, ao contrário do que se viu na cassação de Eduardo Cunha. Paralelamente, na economia as previsões de déficit primário caíram, mesmo após Temer ter mostrado que abriria mais uma vez o cofre para conseguir apoio dos deputados na votação que deve barrar o seu julgamento pelo STF. Isso decorreu também de aumento nas expectativas de crescimento do PIB. Além disso, estatísticas mostraram que até os investimentos já começam a crescer, tornando ainda mais completo e estável o processo de recuperação da economia, embora ainda de forma lenta. 

A aprovação na semana anterior do Refis e a expectativa de que os vetos sejam mínimos por causa da necessidade de apoio dos deputados no processo de cassação de Temer fizeram com que os agentes passassem a vislumbrar melhoria na situação financeira das empresas, contribuindo assim também para melhorar a perspectiva de crescimento da economia, nesse e no próximo anos. O ponto maior de preocupação continua sendo com o estrangulamento financeiro das empresas e o conservadorismo persistente dos bancos em prover o mercado com a liquidez necessária.

Há entre os economistas o medo de que essa melhora na perspectiva orçamentária leve a relaxamento na tentativa de aprovar a reforma da previdência. Por isso tantos textos ao longo da semana acertadamente mostraram que no médio prazo tal reforma é essencial, caso contrário, haverá desequilíbrio nos próximos anos, corroendo parte substancial do orçamento. Infelizmente faz parte do metiê profissional alertar a sociedade para problema futuros, assim como cabe aos médicos alertarem seus pacientes com pressão alta, pois assim como as regras atuais da previdência fazem com as finanças públicas do país, ela corrói a saúde do paciente de forma silenciosa, mas contínua, podendo levá-lo a colapso.

Em Pernambuco, apesar do Condepe ter anunciado perspectivas de crescimento do PIB acima dos padrões esperados no país para 2017 há algumas poucas semanas e o governador ter dito que o décimo terceiro salário dos funcionários públicos está garantido, com boa parte tendo sido já poupada em meses anteriores, a situação fiscal continua complicada. Há ainda grande dificuldade para honrar os compromissos com os fornecedores do estado, havendo ainda grandes atrasos nos pagamentos a eles. Isso leva à inadimplência em cadeia, que termina por retardar o crescimento do estado por deixar as empresas com problemas de caixa e inadimplência elevada. A situação dos municípios também está complicada, tanto em Pernambuco como em outros estados. Muitas prefeituras estão com dificuldades para pagar salários e deverão ter seus problemas acentuados quando o décimo terceiro for devido. Ou seja, o passivo do período pré-recuperação continua assombrando a economia.

Talvez fosse o momento para o Congresso Nacional considerar permitir que os estados e municípios emitam títulos até um certo patamar definido pelas suas receitas corrente líquidas mensais. Esses títulos poderiam ser utilizados para pagar fornecedores e poderiam ser aceitos no pagamento de impostos nos próximos 24 meses. Com isso as empresas poderiam negociar esses títulos e conseguirem maior liquidez, ajudando assim a recuperação econômica, que por si deverá gerar mais impostos e melhorar a situação inclusive dos próprios governos. Esse adicional de liquidez na economia poderia ser um pontapé importante na recuperação da economia.


MAIS NOTÍCIAS DO CANAL