Diario de Pernambuco
Busca
OPINIÃO Luzilá Gonçalves Ferreira: E manda o povo pensar Luzilá Gonçalves Ferreira é Doutora em Letras pela Universidade de Paris VII e membro da Academia Pernambucana de Letras

Publicado em: 19/09/2017 07:29 Atualizado em:

Quando no ano passado Margarida Cantarelli sugeriu que festejássemos o Dia do Escritor doando livros a professores, pensamos que talvez não tivéssemos triplicatas na Biblioteca, ou doação de acadêmicos, para satisfazer a demanda. A demanda foi satisfeita, Ana Maria Cesar, Andrea e Ivoneide, secretárias, mourejaram (gostaram da palavra?) e a própria presidente, preparamos mais de uma centenas de sacolas, que gente feliz veio buscar. Pois este ano, associando-nos ao desejo do secretário Fred Amâncio, resolvemos refazer a façanha, pedindo a colaboração de quem quisessse tornar felizes centenas (centenas sim) de professores e estudantes entre  nós. Quem não viu a bela matéria na Rede Globo (obrigada, Jô Mazzorollo e equipe) não vai acreditar: mais de cinquenta mil livros chegaram à Academia Pernambucana de Letras, para alegria de nós todos e felicidade geral da nação, além da grande alegria e preocupação da bibliotecária Bernadete Amazonas, navegando no mar de caixas empilhadas na biblioteca e orientando as voluntárias do departamento de Ciências da Informação, da Ufpe, vindas para dar uma força.Ver tanto livro junto é uma festa, e quem percorreu sebos e feiras ao longo dos anos, e frequentou bibliotecas públicas o sabe, como Margarida e eu, que durante anos frequentamos a Biblioteca do antigo DDC, funcionando na Escola Industrial na Encruzilhada. Quem amealha livros descobre um dia a urgência de esvaziar um pouco as estantes e repartir felicidade. Foi o que aconteceu com meus amigos Helena e João Pinheiro Lins, que, há uns anos me presentearam tesouros. Como minha amiga Luciana e familia, que me abriram as estantes do jurista e poeta Luiz Marinho, confiando no meu carinho pelos livros e dizendo estas palavras abençoadas: escolha o que quiser. Como o que aconteceu com os que fizeram doações, associando-se ao voto de Castro Alves: Bendito o que semeia livros. Entre os que nos chegaram, havia obras raras. Como o J’Accuse, de Emile Zola, defendendo o judeu Dreyfus, que há uns anos José Paulo Cavalcanti (o pai) me pediu emprestado, ele que se vira despojado do exemplar que possuía, por algum amigo do alheio, e rejeitando o conselho de Mário de Andrade: Livro não se empresta, se quiser, venha ler na minha própria biblioteca ( algo assim). Mas eu não possuía o libelo de Zola, e não pude atender ao pedido do notável Cavalcanti, que me chamava de sua “conselheira em matéria de lingua francesa”. Agora, mais do que nunca é válido o desejo do nosso maior poeta romântico. Sobretudo pelo final do verso no poema O livro e a América: ...”e manda o povo pensar”.

MAIS NOTÍCIAS DO CANAL