OPINIÃO Fernando Araújo: Kuki e o seu recente gol de placa Fernando Araújo é Advogado, professor, mestre e doutor em Direito.

Publicado em: 20/09/2017 07:46 Atualizado em:

Rubro-negro beirando a irracionalidade, de repente me vejo comovido com um belo gol de placa marcado por um ídolo alvirrubro no duro jogo da vida. Eis que estou diante da TV assistindo ao Globo Esporte, quando a reportagem mostra o terceiro maior artilheiro da história do Náutico voltando aos bancos de uma escola pública, quase três décadas depois de ter parado de estudar, em um grande esforço para concluir o ensino médio. Na entrevista, Kuki explicou que pretende, depois, ingressar em uma universidade e cursar educação física, a fim de poder continuar atuando no futebol, mesmo fora das quatro linhas do gramado. Próximo dos 50 anos, o ídolo do time dos Aflitos demonstra a um só tempo humildade e perseverança, pois não é fácil enfrentar a rotina de um curso depois de um dia inteiro de trabalho a essa altura da vida, tendo ele sido um profissional de muito prestígio local e nacional, de muita exposição na mídia. Por isso digo que esse é o seu mais belo gol de placa, depois de fintar o destino que o queria menor. Alguns de seus colegas entrevistados disseram nem acreditar, a princípio, no fato de estar ali convivendo com craque tão famoso. O seu exemplo não é só bonito, como serve de estímulo a tantos outros que porventura estejam em situação igual, buscando conhecimento e títulos para seguir em frente, depois que a juventude e a fama passam. Esse fato nos obriga a apelar aos clubes e outras instituições esportivas a não permitirem seus integrantes fora da escola. Isto porque as carreiras, às vezes curtas, passam; o dinheiro acaba, mas a vida segue. Kuki está certo. Não há outra forma de crescer senão pela educação, seja por meio de programas voltados ao cuidado com a primeira infância, seja pelo ensino médio e também superior. Alguém já disse com acerto que a barbárie é filha direta da ignorância. Ademais, a falta de educação explica 100% da desigualdade de renda, como vem sustentando Alexandre Rands em diversos trabalhos e em entrevistas: “Sim, essas são as políticas fundamentais para você eliminar as desigualdades regionais”(Cf. Folha de São Paulo, edição de 12-6-2013). Numa palavra, maior escolaridade causa maior remuneração, e logo redunda em maior crescimento. Portanto, vamos rezar para que o tsunami da corrupção no Brasil passe logo e confiar que os futuros governos transformem a educação em prioridade, a fim de chegarmos a índices espetaculares como os da Coreia do Sul, que se transformou, do ponto de vista da educação, em apenas uma década. Somente assim, crianças de 7 a 14 anos de idade não precisarão mais catar latinhas para reciclagem nos canais e lixões das grandes cidades. Dentro de águas sujas, restos de comida e bichos mortos para completarem a renda de suas famílias, ausentes da escola, onde deviam estar. Quem sabe um dia, outros Kukis não precisem recomeçar aos 50 anos o que deveriam ter terminado aos 16.

MAIS NOTÍCIAS DO CANAL