Diario de Pernambuco
Busca
Relação Propaganda transmitida na TV deixa cisão do PSDB cada vez mais aparente A propaganda política transmitida na noite de quinta-feira criticou o governo e citou novamente o impeachment de Dilma Rousseff. PMDB pede repreensões

Por: Paulo de Tarso Lyra

Publicado em: 19/08/2017 10:23 Atualizado em:

Tasso Jereissatti com João Doria, em Fortaleza: embate entre os oposicionistas e quem resiste em cargos do governo. Foto: André Lima/Divulgação
Tasso Jereissatti com João Doria, em Fortaleza: embate entre os oposicionistas e quem resiste em cargos do governo. Foto: André Lima/Divulgação


O PSDB vai demorar a fechar a cicatriz aberta pela propaganda partidária veiculada na noite de quinta-feira. A divisão entre o grupo liderado pelo presidente do partido, senador Tasso Jereissatti (PSDB-CE), e os integrantes da ala que defendem a permanência no governo acentuou-se ontem, um dia após a veiculação da peça política. O presidente Michel Temer recebeu os ministros tucanos Aloysio Nunes Ferreira e Antonio Imbassahy para um almoço no Planalto. Em Fortaleza, Tasso, durante evento ao lado do prefeito de São Paulo, João Doria, deixou clara sua posição. “Não me arrependo de nada e assumo total responsabilidade pelo programa. Enquanto eu for presidente do PSDB, a orientação será a minha”, resumiu o senador tucano.

A crise, portanto, está aberta. “Eu temo que esse processo leve a uma cisão interna ainda maior. Qualquer posição que prevaleça, ao término desse episódio, vai provocar insatisfação interna no outro grupo, o que poderá levar, até, a uma debandada da legenda”, lamentou um cabeça preta tucano. “Isso só nos afasta dos planos de voltar ao Planalto no ano que vem”, prosseguiu ele. Para um tucano alinhado ao Planalto, é cedo para avaliar quem ganha mais com a crise do PSDB: se a direita emergente, centrada no DEM, ou o PT, eterno rival dos tucanos nas corridas presidenciais.

Insatisfação

Temer não ficou nem um pouco satisfeito com a propaganda tucana. A peça publicitária critica o apoio ao governo, compra briga com senadores e deputados ao indicar que a adesão é fisiológica e retoma o debate em torno do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, assunto que o peemedebista queria ver sepultado. “Eles (o grupo ligado ao senador Tasso) acreditam ter agido certo ao dizer que a legenda errou. Diga-me qual eleitor vai virar o voto por causa de uma autocrítica partidária?”, questionou um tucano aecista.

Vice-presidente do Senado, Cássio Cunha Lima (PB) discorda, afirmando que “o fato de a propaganda ter virado assunto mostra que a linha adotada está correta”. E rebateu as críticas feitas ao centralismo de Tasso na escolha do discurso político e das críticas ao governo. “A expressão ‘cooptação’ foi uma sugestão do próprio FHC. Ia ser coalizão e ele sugeriu cooptação”, afirmou o senador. Para o líder do PSDB no Senado, Paulo Bauer (SC), o partido poderia ter optado por outro caminho. “Ao falar do impeachment, por exemplo, poderíamos ter destacado que, sem o empenho das lideranças do PSDB, não teríamos concluído o ciclo do PT no poder”, lembrou Bauer.

Distanciamento

Um parlamentar tucano criticou o fato de o petista Lindberg Farias (RJ) ter virado um garoto-propaganda, aparecendo em diversas imagens ao longo da peça publicitária. “Imagina o cenário. Agora, toda vez que um de nós for à tribuna fazer qualquer crítica, os petistas vão indagar: não foram vocês que disseram que o PSDB errou? Vocês não assumiram que esse governo é fisiológico?”, disse o político.

A divisão reforça, em grau máximo, o distanciamento entre Tasso e Aécio Neves. E o Planalto estimula essa cizânia. Temer e o núcleo palaciano adoraram a escolha do mineiro Paulo Abi-Ackel para relatar a denúncia por corrupção passiva contra o presidente. O governo também indicou outro aecista, Marcus Pestana, para relatar a mudança do teto de deficit de R$ 139 bilhões para R$ 159 bilhões.

Deslealdade

A aliados próximos, Aécio tem reclamado sobre o que considera deslealdade de Tasso. Quando foi alvejado pela Lava-Jato, Aécio abriu mão da presidência do partido e deixou Tasso como presidente interino. Após a crise abrandar, tentou voltar ao comando partidário, mas alega que o senador cearense fechou-lhe as portas. Mas a tendência é que Tasso permaneça no posto até dezembro, quando uma convenção escolherá o novo presidente do PSDB.


MAIS NOTÍCIAS DO CANAL