Opinião Clóvis Cavalcanti: Garanhuns, qualidade de vida e o FIG Clóvis Cavalcanti é presidente da Sociedade Internacional de Economia Ecológica (ISEE)

Publicado em: 10/08/2017 07:52 Atualizado em:

Como faço todos os anos desde 1997, fui a Garanhuns em julho passado para desfrutar da programação do seu 21º Festival de Inverno (conhecido pela sigla FIG). Mais um momento de alegria no encontro com as diversas manifestações da rica cultura nordestina. Estar na agradável cidade de Garanhuns já é motivo, por si só, de grande satisfação para quem aprecia as coisas simples da vida, o encontro com pessoas, as conversas na rua, em casa, nas lojas, na barbearia, nas mesas de bar. Poder desfrutar ainda de espetáculos de todo tipo que demonstram o compromisso que muitas pessoas têm com a promoção da arte de viver, acrescenta mais conteúdo à alegria do passeio. No Brasil, há muitos festivais de inverno. Já estive em alguns, como o de Campos do Jordão (SP), dos mais famosos. Nada, porém, me agrada mais do que o evento criado pelo prefeito Ivo Amaral, em 1991. De Ivo, aliás, sou contraparente (relação que descobri em conversa no nosso barbeiro comum de Garanhuns, Isaac).

Sem pagar para assistir a belos espetáculos de música popular, de folguedos folclóricos, de rodas de sanfona, de música erudita, de som instrumental, de teatro, de literatura, de cinema, de circo e muitas outras coisas, o participante do Festival tem muitos motivos para se alegrar. Garanhuns oferece bom cenário para a alegria. Tem comércio movimentado no centro aberto da cidade – sem as limitações e frieza dos modernos shopping centers, com seu isolamento do mundo ao redor. Infelizmente, a cidade vai no rumo de adoção desse modelo. E tem permitido que belas obras da arquitetura tradicional de lá sejam demolidas e substituídas por prédios sem beleza, sem a graça dos desenhos das fachadas antigas: imóveis elegantes e simbólicos de um bom gosto histórico dão lugar a construções medíocres, algumas sofrendo deformações imperdoáveis como ter fachadas graciosas substituídas por paredes cobertas de uma das mais lamentáveis invenções dos últimos tempos, como é o caso do “porcelanato”.

Em Garanhuns se oferta uma diversidade de serviços comerciais de impressionante qualidade. É de lá o melhor técnico de máquinas fotográficas que conheço – Geraldo. Igualmente, em Garanhuns, existe uma lojinha – na verdade, um boxe – de conserto de celulares, em frente do qual o volume de gente a sua procura já atesta a competência do trabalho que oferece.

Comprovei isso, obtendo solução para um problema de meu aparelho. Meu barbeiro também, Isaac, é de lá. Já tive boas experiências com conserto de mecânica e pneus de carro em Garanhuns. Até uma loja de produtos naturais, na Rua XV de novembro, a Gamboa, dispõe de incrível variedade de produtos. Em Heliópolis, às quintas-feiras, perto da casa de minha sogra, uma feira livre faz a festa de quem está atrás de todo tipo de fruta, verdura, tubérculos, feijão, farinha, queijos, ovos e mesmo carne de várias espécies animais. Com preços sempre mais em conta do que na capital pernambucana.

Para mim, tudo isso só confirma uma coisa: a importância da qualidade de vida. No FIG, em particular, e na cidade de Garanhuns, de modo geral – uma cidade limpa, de bom calçamento, arborizada, com calçadas largas e inteiras, muita flor em toda parte –, é isso o que se experimenta. A atmosfera do ambiente produz sensações de bem-estar, o que não tem nada a ver com grandezas tipo PIB nem com crescimento acelerado da economia. É alegria de viver que se experimenta. Durante o 21º FIG, como aconteceu nos últimos quatro anos, essa alegria se multiplicou com a programação Saraus em Pasárgada, uma iniciativa da Funarte com a prefeitura de Garanhuns, que gira em torno de Manuel Bandeira, o grande poeta recifense, mas abarca todo o universo da poesia. Sob o comando de Marília Mendes, o programa envolveu gente jovem e talentosa da literatura de Garanhuns – César Monteiro, Celina Berto, Raiz Nunes, Débora Ramos –, ao longo de 6 dias, no ambiente apropriado de um café-livraria, o Casa Café, de Pedro Coelho. Foi uma vivência enriquecedora para o espírito, algo que o cálculo do PIB ignora. Qualidade de vida na sua melhor acepção.


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