Sem retaliação
Temer decide manter tucanos no governo para tentar estancar crise que assola governo
Mesmo com votos contrários do PSDB na Comissão de Constituição e Justiça, Planalto vai segurar os cargos dos quatro ministros do partido por lealdade
Por: Estado de Minas
Publicado em: 16/07/2017 08:48 Atualizado em:
O processo contra o presidente Michel Temer contou com cinco votos favoráveis do PSDB. Foto: José Cruz/Divulgação |
"O presidente Temer não retalia aqueles que lhe são fiéis", afirmou um interlocutor palaciano. "Não vamos punir quem nos apoia por causa de um partido que está nitidamente dividido", garantiu. O governo acredita ter amarrado o apoio de parte considerável do PSDB. No caso dos ministros, o discurso é da lealdade política. O ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira, gravou um vídeo, na semana passada, considerando precipitada a decisão de alguns tucanos de desembarcar do governo Temer.
O titular da Secretaria de Governo, Antonio Imbassahy, continua articulando as votações favoráveis ao Planalto e ajudou na montagem da equação para que o governo vencesse na CCJ. O caso do ministro das Cidades, Bruno Araújo, é mais específico. Quando o escândalo JBS veio à tona, ele foi um dos primeiros ministros a ameaçar entregar o cargo, gesto que só foi efetivado pelo ministro da Cultura, Roberto Freire, filiado ao PPS. Na época, foi contido pelo próprio partido e pela bancada de deputados.
Ao longo do tempo, à medida que o PSDB começou a projetar o descolamento do governo, Bruno iniciou um caminho de retorno à seara governista. Hoje, não é encarado pelo núcleo palaciano como um ministro "disposto a abandonar o barco”. Outra jogada milimétrica para constranger a ala dissidente do PSDB foi a escolha do deputado Paulo Abi-Ackel (MG) como relator do voto que pede o arquivamento do processo contra Temer na CCJ. Como o governo conseguiu, por 40 votos a 25, derrotar o texto elaborado pelo deputado Sérgio Zveiter (PMDB-RJ) — que pedia para a Câmara autorizar o STF a abrir o processo contra Temer —, um novo parecer precisava ser elaborado. Abi-Ackel é ligado ao presidente licenciado do PSDB, senador Aécio Neves (MG), que defende a permanência do partido no governo.
Decisão
Os movimentos não significam que a crise interna no PSDB esteja pacificada. Um deputado influente da legenda, que votou sim ao relatório de Zveiter, consultou 150 cabos eleitorais influentes que o ajudam a eleger-se ao longo dos últimos oito mandatos.
“Setenta por cento dos pesquisados defendem a abertura da investigação e, dos 30% que eram contrários, os argumentos estavam ligados ao receio de que isso pudesse atrapalhar a economia. Ninguém disse que Temer era inocente”, afirmou ele.
O PSDB marcou para o final de agosto uma reunião da Executiva do Partido que, além de definir a nova direção nacional, também vai debater se a legenda entrega os cargos que ocupa na máquina federal. O clima de racha entre os tucanos só aumenta com a jogada com o governo. Um dos principais líderes dos cabeças-pretas da legenda, o deputado Daniel Coelho (PE) afirma que nenhum tipo de pressão vai adiantar. “A posição do partido é evidente.
Os votos da CCJ mostraram isso. Foram 5 votos a favor da denúncia e 2 contra. A proporção em plenário será a mesma, independentemente da decisão da Executiva”, comenta. Coelho foi um dos primeiros a defender o desembarque do Executivo publicamente. “No começo éramos três, hoje somos 30. Não tem mais volta.”
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