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Opinião Manoel Bione: Um povo em luta Manoel Bione é médico e jornalista

Publicado em: 19/07/2017 07:25 Atualizado em: 19/07/2017 07:31

Havana - "É no jipe, é no pé, é no jegue/Não há transporte que o padre não pegue...". A primeira sensação que tive ao desembarcar em Cuba foi a lembrança desses versos de Luiz Gonzaga. Ao longo da estrada que leva a Varadero, onde me hospedei inicialmente, e ao longo de minha curta estadia na ilha, o que via eram paradas de ônibus lotadas.

"De ônibus", modo de dizer. Ônibus e táxis novos só identifiquei os que transportam os milhares de turistas que desembarcam na ilha. E tome carros velhos %u2013 alguns caindo aos pedaços e outros muito bem conservados. Marinetes, Rurais, Jeeps, Ladas... Tudo vira táxis e lotações. Carroças puxadas por cavalos %u2013 que eu batizei de "jeguetáxis" -, "bicitáxis" e vai por aí.

E não é barato. Para se ter ideia, uma hora de passeio a bordo de um desses "táxis" custa em torno de dez euros, ou seja, R$ 40. Mas na ilha tudo se pechincha. Passeamos por toda Habana Vieja por mais de duas horas por cinco euros. Isto num bicitáxi, conduzido por um rapaz negro, ex-pugilista, pois o pugilismo é um dos esportes nacionais da ilha. Ele nos levou a recantos menos %u201Cturísticos%u201D de Havana. Fomos, inclusive, a uma casa situada no terceiro andar de um precário cortiço a fim de comprar legítimos charutos Cohibas. Tratava-se da residência de um funcionário da cooperativa da fábrica. Explique-se que as empresas pagam parte dos salários dos funcionários em mercadorias. E eles se viram para vender a fim de completar o parco salário mensal. Notava-se que naquele espaço amontoavam-se de avós a netos da mesma família.

LA HABANA VIEJA %u2013 É como é chamada a parte antiga da capital cubana. Lembra o Pelourinho baiano. Só que mais acabada. Existem prédios em restauração, como o Capitólio, mas se você penetra mais, notam-se muitos cortiços em construções antigas e malconservadas. Uma coisa é bem visível, a quantidade de crianças em trajes de escola, com suas lancheiras e mochilas nas costas, a pegar transporte escolar.

Nos papos com nativos dá para perceber o sacrifício que o povo faz para sobreviver. Quase tudo pertence ao governo. Dos táxis novos aos cacarecos. Fiquei impressionado com o fato de que até o bicitáxi fosse estatal. Perguntado sobre a propriedade de um jeguetáxi que alugamos, o motorista, se é que podemos chamar assim, foi claro: "É do governo." Indaguei sobre quem cuida do cavalo e como é feito o pagamento. Ele me explicou que paga um arrendamento mensal e a manutenção do cavalo fica por sua conta.

Existem em Havana dois grandes mercados de artesanato %u2013 que eles chamam de "artesania". Como o artesanato em todo mundo, tudo é muito parecido. E caro. Bonés a 10 euros, camisetas a 20... Barato mesmo só rum, que não é artesanato, mas se vende nesses galpões. O que me arrependo é de ter comprado apenas seis garrafas de diferentes e excelentes qualidades. E olhe que não comprei Havana Club, pois existe aqui no Brasil e do qual não gosto muito.

Os turistas são numerosos e boa parte deles é composta por russos e provenientes do Leste Europeu. Nesses dias, por exemplo, estava ancorado um navio cruzeiro imenso da Noruega. VEem-se poucos norte-americanos. Também notamos muitos de língua espanhola, mas não encontrei nenhum brasileiro. Avistei um com a camisa da seleção, de Neymar Jr, mas verifiquei que falava inglês com sua mulher. Ao nos identificarmos como do Brasil, os cubanos abrem um largo sorriso e citam o samba, alguns até ameaçam uns passos de nossa dança. Muitos referem-se a Temer e lamentam o que está acontecendo por aqui, mostrando conhecimentos sobre a América Latina, principalmente sobre a Venezuela e o Brasil.

Nos lugares mais turísticos somos abordados por rapazes que oferecem desde rum a Cohibas "legítimos". Apenas um me ofereceu uma "chiquita cubana". Me fiz de desentendido e fui tomar um "mojito cubano". Acho que fiz muito mais negócio, pois até hoje tento copiar a deliciosa fórmula original e não acerto a mão.

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