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OPINIÃO Gilberto Marques: Morse Lira, cinco anos de saudade! Gilberto Marques é advogado

Publicado em: 29/07/2017 07:54 Atualizado em: 29/07/2017 07:56

Morse tocou sua lira até não mais poder. Viveu pra valer. Sorriu no meio da dor maior, por maior que fosse. Fez pouco do destino. Não se acabrunhou. Fecho os olhos, vejo Morse no “caminhão palanque” do MDB – 1978. O Teatro Ponta de Rua abria o espetáculo dos comícios. Hiperativo junto com Ceça, que também se foi prematura, fazia rir e juntava gente. Assisti, todo santo dia, à peça que falava do salário mínimo, da inflação e da Ditadura – antes da Anistia. O tema e o texto seria o mesmo, não fosse a criatividade buliçosa do jovem Morse. A beleza de Ceça ilustrava os olhos. E como!

Há cerca de dez anos me convidou para defender George W. Bush em um júri simulado no Fórum Mundial pela Paz. Declinei do convite, por incompatibilidade ideológica com o réu, mas ele deu jeito: removeu-me para a acusação. Eu e Morse estivemos juntos na tribuna. O público delirou nas arquibancadas. O ônus da defesa coube a Zeca Cavalcanti. Zeca, coitado, quase leva uma vaia. A gente brigou pela legitimidade do papel, pela necessidade de uma defesa competente, própria, inteligente. O apupo virou aplauso.

Certa feita, nos encontramos, altas horas, na velha Cantina Star. A noite correu mais solta ainda. Ele chegara em uma moto potente – que dormiu, às minhas expensas, trancada no restaurante. Fiz o caminho da volta no meu veículo de quatro rodas. Difícil foi acordar a mulher para entregar as chaves e o dono do chaveiro, que também dormia no carro. A mulher sempre pensa que o culpado é o amigo. Salvos a moto e o piloto, corri.
No 13 de julho de 2012, uma sexta-feira, telefonei para saber dele. A irmã atendeu. Ele dorme, disse ela. Daria, porém, o recado. Morse Lira não deixou. Despertou, empertigou-se, pegou o aparelhinho e falou da esperança, da luta contra o câncer, “numa boa”. Chamou o bicho de “caranguejo”. Rimos. Que tal um chope?

Tem gente que é assim. Carrega alegria nos alforjes. Espalha leveza na arte de viver e de interpretar a vida. No palco, ou fora dele, estava sempre no palco. Luzes, câmera, ação: o código de Morse era viver. Soube que no sábado voltou ao hospital. Pediu uma cerveja que não tomou. O resto o rádio, jornais e televisão já contaram. Eu que não creio, repito Cristo para Lázaro: amigo, levanta-te e anda... Na minha saudade. Você anda.

Morse, 2012, o fatídico, só não parou no filme, porque levou você, papai e Sílvio Barbosa, meu tio. No país de Hollywood, Obama apoiou a mulher de Bill. Não deu certo. Deu Trump! Bush é pinto perto de Donald e o mundo vai pagar esse pato. Imagine o casamento da CIA com a KGB? Aqui Dilma caiu. O cachorro, nêgo, morreu no Planalto. Ninguém quer morar lá. Lula foi condenado e o juiz penhorou R$ 9 milhões de previdência privada. O choque da privada assombrou até os mais fiéis. A gente vai ter que ressuscitar o Teatro Ponta de Rua. Na chamada, você e Ceça. Uma coisa é certa o show não pode parar. Senhoras e senhores, O ESPETÁCULO CONTINUA.


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