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DIARIO Editorial: O país em que 13 mulheres são mortas por dia

Publicado em: 20/07/2017 07:33 Atualizado em: 20/07/2017 07:37

Giselly Kelly Tavares dos Santos, de 37, comemorou seu aniversário na noite de terça-feira, ao lado do companheiro Wilson Campos de Almeida Neto. Às 2h da madrugada de ontem o casal chegou ao prédio em que morava, numa área nobre do bairro do Rosarinho. Logo depois Giselly foi morta com um tiro no rosto. Seu corpo foi encontrado na manhã de ontem, sem roupa. Câmeras do prédio registraram a saída de Wilson por volta das 2h30, sozinho. Para a polícia, ele é o principal suspeito do crime.

Os detalhes do que aconteceu no apartamento só devem ser esclarecidos à medida que avance a investigação policial, mas o crime lá ocorrido é mais um exemplo de uma realidade conhecida de todos nós: a da brutalidade praticada contra a mulher. Há pouco mais de três meses, no dia 5 de abril passado, tivemos outro caso semelhante, no Recife: o da fisioterapeuta Tássia Mirella Sena de Araújo, de 28 anos, morta com uma facada no pescoço dentro do seu apartamento. O acusado do crime, que era vizinho de apartamento de Tássia, está preso.  

Não se trata de um ou dois casos isolados, nem um tipo de violência específico a determinadas cidades. Trata-se, infelizmente,  de uma prática comum no país inteiro. O Mapa da Violência 2015 revela que 1.353 mulheres foram assassinadas em 1980 no Brasil, número que pulou para 4.762 em 2013. Em pouco mais de 30 anos, apesar dos avanços do país em educação e em indicadores sociais e econômicos, apesar de avanços na legislação protetora dos direitos das mulheres, apesar da evolução do Brasil nas três últimas décadas, apesar de tudo isso somos um país em que 13 mulheres são assassinadas por dia.

Este conjunto de dados demonstra que, em meio ao progresso e aos avanços, sobrevive uma cultura que gera a mentalidade responsável por incentivar tais atos: a cultura do machismo. Está aí o ovo da serpente, é daí que sai o comportamento agressivo contra a mulher. Cada vez que toleramos gestos ou atos indicativos desse comportamento, por mais “inocentes” que pareçam, estamos contribuindo para que a realidade continue como está. Precisamos lutar para que a educação formal incorpore os conteúdos que destacam os direitos das mulheres e da igualdade de gênero. Precisamos atuar para que os crimes não fiquem impunes. Precisamos combater o ovo da serpente.


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