Diario Editorial: O padre que seguia ao lado dos pobres

Publicado em: 21/07/2017 07:32 Atualizado em:

Pode parecer clichê quando, diante da perda de alguém muito estimado pela sociedade, diz-se que “o mundo ficou mais pobre”. Porém, no caso do padre Edwaldo Gomes, religioso que esteve à frente da Paróquia de Casa Forte por mais de quatro décadas, a expressão se justifica pelo trabalho em favor de crianças carentes desenvolvido através de entidades como a Creche Menino Jesus e a Casa da Criança Marcelo Asfora, além da Festa da Vitória Régia.

Homem de muitos amigos, incluindo pessoas do mundo político, juristas, jornalistas e escritores, não tinha medo de defender suas ideias nem de assumir comportamentos, mesmo quando eles desagradavam. Foi assim em 2007, no episódio envolvendo o então arcebispo de Olinda e Recife dom José Cardoso Sobrinho, que se encarregou de consultar o Vaticano sobre punição para o fato de ele ter concelebrado missa pelos seus 50 anos de sacerdócio com bispos da Igreja Anglicana e assim ferido o Código de Direito Canônico. O fato causou muito rebuliço, resultando em pronunciamento de defensores em tribunas legislativas, campanha de amigos e colaboradores estampada em outdoors e, por fim, um pedido público de desculpas, o que não impediu o afastamento das atividades na paróquia por um período de três meses.

Aquele era o padre Edwaldo, que vinha de muitas lutas ao lado do eterno arcebispo de Olinda e Recife, dom Helder Camara, de quem foi colaborador muito próximo. Nunca se esperava menos dele, pelo passado de comprometimento com uma Igreja voltada para o social, livre dos ranços de um conservadorismo nada bem-vindo entre os religiosos da chamada ala progressista. Foi inclusive esta tendência a jamais omitir-se que o fez questionar a disposição da Santa Casa de Misericórdia em permitir a construção de um parque na área do Ulysses Pernambucano. Esperneou: defendia a preservação do hospital sob o argumento de ser o imóvel e a história dele patrimônios do povo.

De pessoas assim o mundo só pode mesmo sentir falta, pois são elas que fazem a diferença quando passam a viver em nome da tarefa de melhorar a vida de muitos para os quais o poder público e a sociedade viraram as costas. Bem humorado, inteligente, crítico e destemido, padre Edwaldo se foi aos 85 anos, sem dívidas, com o ofício que abraçou. Sem dúvida. Deixa um legado de humanidade e um exemplo inestimável de respeito ao próximo.


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