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Opinião Raimundo Carrero: Os segredos estão voltando e agora é estudar e escrever Raimundo Carrero é escritor e jornalista

Publicado em: 26/06/2017 07:46 Atualizado em:

Henry James, o grande escritor de língua inglesa, tornou-se o mais importante estudioso da ficção há mais de um século, escreveu muitos livros e vários prefácios; Flaubert mudou a história da ficção dando autonomia ao romance; Ítalo Calvino, Mário Vargas Llosa , Gabriel Garcia Márquez e Umberto Eco dedicaram  suas vidas à intimidade da narrativa e se transformaram nos maiores ficcionistas do século XX; mas no Brasil continuamos a acreditar apenas na inspiração porque proclamamos que as musas nos ditam histórias e personagens. Basta escrever o que nos dizem e aí seremos grandes. Tudo num sopro mágico que espanta os ingênuos leitores.

Ingenuidade, sim, dos escritores inspirados. Devemos encarar os leitores como figuras magníficas, respeitáveis e responsáveis. E não apenas como nossos amáveis vizinhos, colegas de escola, familiares curiosos, pais e filhos adoráveis. Começa que pais, filhos, amigos e parentes são maus conselheiros. Costumam elogiar pelos laços de sangue e não pelo que leem e escutam. Às vezes até comentam Eu disse a fulano que o texto dele é ótimo, sabe, eu não podia dizer a verdade, mas fiquei com pena, que coisa horrível. Não sabem que causaram um mal incrível. Trataram o escritor como filho ou filha, parente ou agregado, amigo e amiga mas não como escritores.  É preciso alertar sempre: escrever é uma atividade imensamente séria. Nunca elogie por elogiar, não escreva porque gosta de escrever. Lance suas forças em busca de uma obra, ainda que sua profissão dispense o trabalho. É claro que se pode escrever um bom artigo ou um bom conto aqui e ali, mas se você tem habilidade porque não levá-la a sério, porque gastar tempo e suor por algo que não vai levar a nada. Trate suas aptidões como elas merecem. Não é preciso ser um grande escritor, mas é preciso ter respeito pelas próprias potencialidades.

Desde que comecei a escrever percebi que precisava fazer sempre o melhor possível. E, intuitivamente, me perguntava o que é que esta palavra está fazendo aqui? E este verbo? Por isso me dediquei ao estudo do texto, desde a gramática tradicional até às sutilezas do texto inventivo. Em 2004, escrevi Os segredos da Ficção, destinado a estudar a intimidade da narrativa com olhos nos grandes e nos melhores. O  livro causou um forte impacto nos meios literários, agora chega à segunda edição, lançada quarta-feira. Não sou melhor nem pior do que minguém, sou apenas um estudioso e faço isso com o maior empenho.


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