Ipespe O círculo vicioso da corrupção no Brasil Segundo estudos realizados pela professora Nora Pavão, os eleitores não acreditam que alguém possa combater os corruptos durante o mandato

Por: Aline Moura - Diario de Pernambuco

Publicado em: 27/06/2017 06:00 Atualizado em: 26/06/2017 17:51

Ipespe discute o Brasil com o seminário "Corrupção, opinião pública e voto". Na mesa, Nara Pavão (E), Mariana Batista, Antônio Lavareda e José Arlindo Soares. Crédito: Julio Jacobina/DP
Ipespe discute o Brasil com o seminário "Corrupção, opinião pública e voto". Na mesa, Nara Pavão (E), Mariana Batista, Antônio Lavareda e José Arlindo Soares. Crédito: Julio Jacobina/DP

 

Por que as eleições são tão falhas no combate à corrupção? A pergunta foi apresentada para ser refletiva, ontem, pela professora Nara Pavão, PHD em Política Comparativa pela University Of Notre Dame (EUA), com pós-doutoramento em Instituições Democráticas pela Vanderbilt University (EUA). Ela falou sobre o tema no seminário Corrupção, Opinião Pública e Voto, realizado pelo Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe), com apoio do Instituto Josué de Castro. Segundo ela, dificilmente há faxina ética nas disputas eleitorais porque a maioria dos eleitores está mais preocupada com o desempenho da economia. O que ele mais pesa é a troca - o que pode ganhar com determinado candidato. 

Na avaliação de Nara, os eleitores toleram mais a corrupção quando a economia está indo bem, quando o partido dele está no poder e quando sua contribuição é baseada no ceticismo. O último ponto mostra, nos estudos feitos pela professora, que os eleitores não acreditam que alguém possa seguir uma linha diferente e combater a corrupção. Nara avaliou ainda que, quanto mais a sociedade percebe a corrupção, mais tolerante fica porque acredita que todos estão no mesmo jogo. “O ceticismo enfraquece  o controle eleitoral da corrupção”, disse a professora, baseada num estudo com 17 grupos focados no Brasil e com dados de 80 eleições no mundo. “Com relação à corrupção, é como se as campanhas não servissem”, acrescentou, dizendo que o ciclo provoca, entre outros pontos, desigualdade e pobreza, diminuição de legitimidade da democracia e falta de apoio ao sistema político.

Para o debatedor José Arlindo Soares, doutor em sociologia pela Universidade de Brasília (UNB) e pesquisador do Josué de Castro, o período entre a ditadura e a Constituição de 1988 foi o mais virtuoso na política que o Brasil viveu. “Nesse período, as empresas estatais deveriam ter eu seus conselhos representantes eleitos como forma de diminuir a ação exclusiva dos agentes públicos”. 

Presente no evento, o prefeito de Toritama, Edilson Tavares (PMDB), entende haver uma dificuldade de combater a corrupção pela cultura de “trocas” presente da sociedade, o que reforça o círculo vicioso. Ele disse que ganhou a disputa em 2016 como terceira via, com o discurso de moralizar a política no município, mas começou a perder a popularidade por rejeitar, por exemplo, pedidos de emprego, e de benesses, como compra de tijolos. Na eleição, os slogans eram “agora é ele, agora é ela”, contou, referindo-se aos adversários.  “Agora é nem ele, nem ela. Agora é a besta-fera”, afirmou, referindo-se ao tratamento que tem recebido de antigos aliados por conta de “nãos” que têm dado.

Na análise do cientista político Antônio Lavareda, o efeito Lava-Jato tem gerado a quinta onda no Brasil pós nova República. "O efeito Lava-Jato tem sido polificida. Do ponto de vista dos institutos, nada mostra o que pode reconstruir o sistema político". Lavareda citou outras quatro ondas anteriores. A primeira, promovida pela Constituinte de 1988, a segunda pela opção global com a eleição do Fernando Collor, a terceira com a revolução da macro economia, com o plano Real, e a quarta com a revolução das políticas distributivas. Lavareda é presidente do conselho científico do Ipespe e fundador do Laboratório de Neurociência Aplicada (NeuroLab).



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