Opinião José Luiz Delgado: Os piores: os políticos José Luiz Delgado é professor de Direito da UFPE

Publicado em: 20/06/2017 07:37 Atualizado em:

República Federativa da Odebrecht? Ou da JBS? Que pensar desse congraçamento de ladrões, inimigos do povo, empresários e políticos associados para roubar o país?  No conluio sinistro entre corruptores (os empresários) e corruptos (os políticos), quais os piores?

Se os primeiros são responsáveis pela chamada “corrupção ativa”, e os segundos, pela “passiva”, poder-se-ia ser levado a pensar que aqueles são os piores – porque deles seria a iniciativa, eles é que ofereceram ou prometeram, e de fato deram, aos administradores as vultosas propinas, os inacreditáveis milhões. A questão da iniciativa, porém, é menos relevante. Até porque o empresário não ousa oferecer ou prometer a não ser que já tenha pressentido o bom acolhimento. Habitualmente, o político administrador já insinuou, já deu sugestivas esperanças de que a proposta indecente e iminente seria aceita... Duvido que negociatas excusas fossem propostas a um Castelo Branco, a um Médici, a um Geisel, ou, para falar de políticos civis, a um Milton Campos, um Carlos Lacerda, um Itamar Franco.

Comparando os dois comparsas, há que reconhecer que o empresário que corrompe está procurando o interesse próprio (indevidamente, é óbvio), ou seja, ao menos está na linha da essência do seu ofício. Ao passo que o político que se corrompe está traindo o interesse público, cuja defesa é sua função específica.

Acresce que o homem público, diferentemente do homem privado, tem de dar exemplo, tem de ser modelo, paradigmático. Ele não é só o representante da sociedade inteira, é também o homem encarregado do bem comum. Como consta dos discursos que faz... Não é sempre exatamente esta a retórica de suas campanhas? Lembre-se o que Collor dizia, contra os marajás, ou Sérgio Cabral, defendendo a moralidade da coisa pública e a absoluta transparência, que lhe permitia, assegurava, olhar nos olhos dos eleitores...

Mais ainda: na hora da corrupção, na hora de dar propina em troca de uma assinatura (definir uma licitação, prorrogar um contrato, ordenar um pagamento), o riquíssimo empresário é que é, no entanto, pequenino diante do governante, que pode ser um homem de recursos medianos mas, naquela hora, é o imensamente poderoso, do qual o outro depende. Terminado o governo, o administrador voltará às suas finanças limitadas, ao passo que o empresário continuará riquíssimo, mas naquela hora efêmera do governo, o empresário está totalmente nas mãos do administrador, e a continuação do seu negócio, a preservação da sua atividade, depende integralmente daquela assinaturazinha. Senão, podem sobrevir a falência e a total derrocada de sua empresa.

Não é possível que empresários terminem na cadeia e os políticos acabem impunes, leves e trêfegos por aí. Os políticos são os piores.
 


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