Diario Editorial: Governo enfraquecido não aprova reformas

Publicado em: 28/06/2017 07:46 Atualizado em:

Diante de uma ameaça que põe em risco sua sobrevivência, o governo Michel Temer terá agora de concentrar esforços para defender-se. Ter que se defender poderá  deixar outros flancos - o principal deles será o das prometidas reformas trabalhista e da Previdência. Como primeiro presidente na história do Brasil a ser formalmente denunciado no exercício do mandato, Temer agora luta para que não lhe tirem do cargo. Nesta situação, como conseguir levar adiante a aprovação de medidas que exigem um presidente fortalecido e amplo apoio do Congresso?  

A necessidade de concentrar as forças na defesa do mandato não é o único problema; com a denúncia (sem falar da impopularidade da gestão, atestada em pesquisa do Datafolha), tem prosseguimento a erosão da credibilidade do governo e a perda do capital político do presidente. O cenário é difícil para a implantação da agenda idealizada por ele. Na opinião do cientista político Humberto Dantas, o projeto da reforma da Previdência que está em pauta “já não é a que o governo queria anteriormente e agora passou a ser extremamente improvável, quase uma utopia”. O diretor de pesquisa macroeconômica para América Latina da Oxford Economics, Marcos Casarin, é igualmente incisivo: “A cada pedido que Temer faz à base aliada para se segurar no cargo, há um enfraquecimento de seu capital político. Não acho que tenha mais reforma na mesa. O foco agora é ele se segurar no cargo”.  

Se sobreviver a 2017, o governo terá pela frente em 2018 a disputa eleitoral, com todas as suas consequências — entre elas a luta dos deputados e senadores para renovar o mandato, o que gera a preocupação de não abraçar-se a causas impopulares. Por tudo isso a agenda das reformas pode ficar para 2019, a cargo do novo presidente eleito, consideram Dantas, Casarin e outros economistas e cientistas políticos entrevistados ontem pelo Broadcast, serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado (SP).  

As atenções agora estarão concentradas na tramitação no Congresso da denúncia da Procuradoria-Geral da República contra o presidente. Não será surpresa se a base aliada sofrer novas defecções em futuro próximo. Dado o clima de instabilidade em que mergulhou o governo, a agenda das reformas perde o lugar privilegiado que até então desfrutava.


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