Diario Editorial: Fórmulas para emagrecer

Publicado em: 21/06/2017 07:27 Atualizado em:

Após a sanção do presidente Michel Temer, a produção, venda e consumo de medicamentos para emagrecimento no Brasil passam a ser - como diz o ditado popular nordestino - prego batido e ponta virada. Falta pouco para esta etapa, uma vez que a Câmara dos Deputados aprovou ontem o projeto que libera remédios conhecidos como inibidores de apetite, feitos com base em substâncias como sibutramina, anfepramona, femproporex e mazindol.

Sancionada a lei, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não pode mais cancelar o registro sanitário ou tomar qualquer medida que impeça a comercialização deles. Pode até ser interesse de muitos brasileiros, mas o contexto relativo à saúde coletiva precisa ser mencionado.

O índice de obesidade no Brasil entre adultos fica em torno de 23% e é muito acima do ideal, segundo a pesquisa Vigitel - inquérito eletrônico realizado pelo governo federal. Sabe-se que o controle de remédios no Brasil nem sempre é rígido e o uso indiscriminado pode ser um perigo extra à população. É oportuno lembrar a polêmica que circunda essas substâncias e que tem se arrastado desde 2011, quando a Anvisa entendeu que os riscos dos inibidores eram maiores que a eficácia, podendo causar problemas cardíacos aos pacientes. Este foi o principal motivo para que a Anvisa suspendesse a comercialização deles. A sibutramina foi mantida no mercado com restrições.

Além dos supostos prejuízos à saúde, a Anvisa justificou à época em que os proibiu que não havia dados científicos mostrando a eficácia do uso continuado e o respectivo emagrecimento. Não teriam sido dois ou três estudos que chegaram à conclusão: 170 pesquisas fizeram a mesma análise. Com semelhanças com a anfetamina, as drogas, dizem especialistas, têm poder de agir sobre o sistema nervoso central e causar inclusive problemas de ordem psiquiátricos. Em 2014, um decreto legislativo havia suspendido a proibição e liberado produção e comercialização de forma provisória.

Desde então, anorexígenos vêm sendo empregados em larga escala. Em 2010, foram 4,5 milhões de receitas de remédios com sibutramina, anfepramona, femproporex e mazindol. O projeto aprovado esta semana pela Câmara recebeu uma emenda prevendo que a liberação dessas substâncias esteja condicionada à receituário médico na categoria especial B2. É uma dificuldade a mais para o consumo indiscriminado. Se o cuidado será eficaz, só se saberá com o tempo.


MAIS NOTÍCIAS DO CANAL