Diario Editorial: Carne barrada

Publicado em: 26/06/2017 07:43 Atualizado em:

Washington suspendeu a compra de carne in natura do Brasil. A razão: garantia alimentar. Segundo o comunicado do secretário de Agricultura dos Estados Unidos, “há preocupações recorrentes sobre a segurança dos produtos destinados ao mercado americano”. A medida causa preocupação e impõe providências urgentes para reverter o quadro.

Não é a primeira vez que os EUA interrompem as importações do produto brasileiro. Em 2006, por exemplo, ocorreu corte da aquisição. Só no ano passado, uma década depois, o comércio foi retomado. Mas durou pouco. Desde março, a potência do Norte inspeciona a totalidade da carne fresca procedente do Brasil. Nada menos de 11% da mercadoria foi recusada. Vale lembrar que a taxa de rejeição das remessas do resto do mundo é de 1%.

No período de aumento de rigor das inspeções, 106 lotes de carne bovina tiveram a entrada barrada no país. O cartão vermelho se deve a três causas. Uma: condição sanitária. Outra: problemas de saúde animal. A última: problemas de saúde pública. Os senões não pegaram o governo brasileiro de surpresa. De acordo com as autoridades estadunidenses, o Brasil havia se comprometido a resolver as questões. Uma delas se refere a irregularidades provocadas pela reação à vacina da febre aftosa na carne, como manchas internas.

O prejuízo decorrente da decisão de Washington não se contabiliza em dólares porque as importações americanas representam 3% do total. O país é comprador tradicional da carne industrializada. Esse segmento não sofreu restrições. O impacto maior será na imagem. Muitas nações têm a vigilância sanitária americana como paradigma. Com a restrição, há dois riscos a temer. De um lado, o efeito dominó. Quem compra pode deixar de comprar. De outro, o efeito prevenção. As negociações em curso para ampliar o mercado talvez recebam um banho de água fria.

Não só. O Brasil vende para 180 países. Muitos exportadores que concorrem com a carne nacional terão desculpa perfeita para tirar partido do fato. Vale lembrar que no comércio exterior, como na política, não há vazios. Outros abocanharão a fatia tão duramente conquistada pela pecuária brasileira. A reconquista exigirá não só tempo, mas, sobretudo, ações efetivas aptas a corrigir as falhas apontadas e prevenir futuras faltas que possam comprometer — ainda que remotamente — a qualidade do produto.

A Operação Carne Fraca denunciou fragilidades na fiscalização feita pelo Ministério da Agricultura. Há que corrigi-las com rigor. Não se pode cair na tentação de terceirizar a culpa. O inferno não são os outros. Somos nós. Olhar os problemas sem complacência é imposição urgente. O de que o Brasil menos precisa é da imagem de país pouco sério. No caso, a nota 9,9 é baixa. Só se aceita o 10.


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