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Opinião Carolina Ferraz: Não é a morte a expressão mais fidedigna da vida? Carolina Ferraz é professora do curso de Direito da Unicap e coordenadora do Grupo Frida de Gênero e Diversidade

Publicado em: 23/06/2017 15:17 Atualizado em:

Sempre me assombra a dificuldade que as pessoas têm de lidar com a morte. E não é ela a maior de todas as certezas na vida? 

É visível que muitos tratam a morte como excepcionalidade e outros tantos como algo inesperado. Será? Viver, morrer, viver e finalmente morrer não são os passos de uma mesma dança?!

E não morremos todos um dia? E sempre um pouco mais, quando renegamos nossos sonhos e perdemos nossas crenças? 

Então por quê a morte não pode ser algo digno e até mesmo planejado?

Muitas vezes nos apegamos a um fio de ‘sub-vida’, com o uso de tecnologias para assegurar alguns sinais vitais e sempre diante desses casos me pergunto, vale a pena? Vale a pena negar a quem amamos uma despedida digna e protelarmos indefinidamente suas dores, em regra, por que não estamos preparados para a despedida? 
Se morrer faz parte da vida, por que permanecemos tão omissos com os procedimentos da partida?

Por que não falamos a quem importa tudo que sentimos? E adotamos como prática dizer muitas vezes ao dia o quanto amamos essas pessoas? Por que não conseguimos ver mais os amigos e aproveitar cada dia um pouco a companhia deles? 
 Por que precisamos trabalhar tanto e viver preocupados, tensos e estressados, quando a vida é tão efêmera e passa tão rápido?

Por que não planejamos os últimos momentos de nossas vidas? Como desejamos nossa despedida, como serão os ritos fúnebres, quem deve ser convidado? 
Ademais uma vida dedicada ao exercício da dignidade não deve ser encerrada com a mesma dignidade?

Então, adoto essa perspectiva e deixo aqui a mais pura expressão da minha existência, quando partir saibam os que importam, que eu amei a vida, as pessoas, minhas escolhas mais do que pude e sempre um bocado mais, que fiz da vida o que eu quis, que abracei todas as causas que acreditei, que procurei assistir todos os melhores filmes do meu tempo (e de outros tempos também), que ouvi todo tipo de música, que fiz viagens interessantíssimas, que conheci algumas pessoas extraordinárias, outras nem tanto e algumas desagradáveis, que chorei bastante por muitos motivos, que nem sempre eram tristes, que as gargalhadas eram minha marca registrada, que li muito, sobre tudo e que foi a leitura minha maior fascinação. Saibam ainda que sempre foi o humano o que mais me comoveu e a desumanidade o que mais me entristeceu!

E tem mais: não quero velório! Quero um encontro festivo de pessoas que me amaram, onde minhas histórias e casos sejam contados, que todos possam repetir, viveu lindamente e morreu tão lindamente assim!

Penso que apenas pode ter medo da morte quem esqueceu de existir!


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