Diario Editorial:Eleições na França

Publicado em: 25/04/2017 06:50 Atualizado em:

O resultado do primeiro turno das eleições francesas não surpreendeu. As pesquisas indicavam Emmanuel Macron e Marine Le Pen como vencedores. Ele, da recém-criada agremiação En Marche. Ela, da Frente Nacionalista, de extrema direita. Surpreendeu, porém, a derrota dos dois tradicionais partidos. Pela primeira vez em 60 anos, ficaram fora da segunda rodada tanto os republicanos quanto os socialistas.

Macron, jovem de 39 anos egresso da prestigiada Escola Nacional de Administração (ENA), aproveitou os ventos que sopraram a seu favor. De um lado, beneficiou-se do fato de não ter disputado nenhuma eleição anterior. De outro, tirou vantagem do afastamento de François Hollande e de escândalos que abalaram a reputação de concorrentes. Por fim, abraçou a causa da França aberta, do euro e da União Europeia, em risco se Le Pen assumir o poder.

O discurso da esperança venceu o do medo. A candidata extremista se opõe a conquistas gratas à tolerância e à integração dos povos. É o caso da globalização, da imigração e da União Europeia. Apresenta-se como capaz de devolver as fronteiras nacionais e salvar a França de atos terroristas. Embora a França, com a Alemanha, seja um dos fundadores do mercado comum, Le Pen põe em xeque a permanência de Paris no bloco.

Com o Frexit, seguiria os ingleses, que abandonaram o mais importante projeto do Velho Continente %u2014 a união da Europa. Antes do Tratado de Roma (1957), a história da Europa resumia-se a narrativas de guerras e carnificinas. O tema, que entrou em debate em razão da crise migratória no continente, deve voltar ao centro da roda no segundo turno e em eleições futuras. O que antes era cláusula pétrea, tornou-se passível de mudança e, até, de implosão.

Os franceses voltam às urnas em 7 de maio. Tão logo foram divulgados os vitoriosos, os partidos derrotados rapidamente declararam apoio a Macron. Seria uma espécie de coalização antirrisco à democracia francesa. Le Pen, na tentativa de atenuar a imagem de radical de direita e, ao mesmo tempo, conquistar os votos da direita conservadora, anunciou não ser mais presidente da Frente Nacionalista.

Macron sai na frente com plataforma palatável: redução de impostos, aumento da competitividade dos trabalhadores, corte na despesa pública, mudança no seguro-desemprego, combate ao terrorismo, tolerância zero à criminalidade, aceitação da %u201Cjusta parte%u201D na acolhida de refugiados, engajamento com a União Europeia. A aprovação inicial longe está de garantia de vitória. Surpresas podem mudar o rumo dos acontecimentos. Entre elas, atentados terroristas e falta às urnas. Nada menos de 79% dos eleitores votaram no primeiro turno. Fazê-los comparecer em 7 de maio é desafio. Na França, o voto é facultativo.

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