Diario Editorial: Aids se alastra entre os jovens De acordo com o programa das Nações Unidas para combater a doença (Unaids), o Brasil registra mais de 40% das novas infecções pelo HIV na América Latina

Por: Diario de Pernambuco

Publicado em: 02/12/2016 08:29 Atualizado em:

Apesar do caótico sistema público de saúde do Brasil, há providências que não dependem apenas dos médicos ou dos hospitais. Elas passam pelo comportamento dos indivíduos. Entre 2010 e 2015, o brasileiro negligenciou as medidas preventivas contra a Aids. No período, o número de infectados passou de 700 para 830 mil, com 15 mil mortes por ano. De acordo com o programa das Nações Unidas para combater a doença (Unaids), o Brasil registra mais de 40% das novas infecções pelo HIV na América Latina. O país caminha e na contramão da média mundial, que, embora modesta, apresentou queda de 2,2 milhões, em 2010, para 2,1 milhões no ano passado. Hoje, no planeta, são 36,7 milhões com a doença. O número anual de óbitos chega a 1,1 milhão.

Na população de 15 a 24 anos, a situação é mais dramática. Em 2004, a taxa detecção do vírus era de 9,5 casos em cada 100 mil habitantes, ou seja, cerca de 3,4 mil casos. Em 2014, o número passou para 4,6 mil, o que equivale a uma taxa de detecção de 13,4 casos em 100 mil habitantes, um aumento de 41% da taxa. Os jovens se recusam a usar preservativos e se expõem, desnecessariamente, às doenças sexualmente transmissíveis, entre elas, o HIV. Apesar da resistência e do diagnóstico tardio, 74% dos soropositivos buscaram algum serviço de saúde, mas só 57% estão em tratamento.

Segundo especialistas, os jovens não temem ser infectados, cientes de que hoje há drogas que podem conter a doença e lhes garantir vida normal. Além disso, sentem-se sempre saudáveis e, assim, não buscam com regularidade os serviços de saúde. Mas não é bem assim. Os riscos ainda são muitos e os danos causados pelo HIV não deixaram de existir mesmo com os avanços alcançados na formulação de novos medicamentos. Uma infecção oportunista pode levar qualquer um à morte, evitável por meio de medidas preventivas. Entre elas, o sexo seguro e o não compartilhamento de seringas e outros instrumentos usados por quem é dependente químico.

Às vésperas do Dia Mundial de Luta contra a Aids, lembrado ontem, o Ministério da Saúde e a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lançaram a campanha “Nós podemos construir um futuro sem Aids”, que objetiva estimular o diagnóstico precoce e o tratamento. A iniciativa terá o apoio de 11 mil paróquias brasileiras e envolverá milhares de voluntários que vão motivar a testagem e buscar o acolhimento dos soropositivos. Além da imprudência dos jovens, o Brasil ainda tem parcela da população que sabe ter contraído o vírus, mas se recusa a buscar o tratamento.

O governo brasileiro investiu apenas 6% do orçamento destinado às ações de prevenção. Hoje, dos 830 mil doentes, 425 mil (55%) receberiam terapia, segundo a Unaids. Os dados organizados pelo Ministério da Saúde, sugerem que é preciso retomar as campanhas educativas mais agressivas, para que, principalmente, a juventude volte a ter o comportamento de adolescentes e adultos do início dos anos 1980, quando a Aids eclodiu como epidemia mundial e levou homens e mulheres a mudarem de comportamento.

Não só a igreja, mas estabelecimentos de ensino e outras instituições têm que somar aos esforços e dar sua contribuição para que o país possa reduzir os casos de infecções. Na família, é preciso que pais e responsáveis orientem os filhos adolescentes sobre a necessidade de se precaverem. Sem essa combinação de forças e de educação, o Brasil tende a ser o laterninha na luta contra doenças que fragilizam os cidadãos e compromete o próprio desenvolvimento do país.

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