Opinião Raimundo Carrero: Nordestinados celebra o épico com apoio da Bagaço "Nordestinados canta as dores e as alegrias do homem regional, sem dúvida, mas é enriquecido pela visão de um mundo que se contorce nestas mesmas dores"

Por: Diario de Pernambuco

Publicado em: 24/10/2016 07:09 Atualizado em:

Por Raimundo Carrero 
Escritor e jornalista

Depois de um longo e laborioso silêncio, Marcus Accioly está de volta. Agora com a reedição do magnífico Nordestinados, livro emblemático da Geração 45, e marcante para a literatura brasileira, com a revelação épica de um poeta cuja marca é cuidado com a construção do poema, as palavras exatas e visuais, a iluminação do texto atrelada a um revisão do comportamento humano com investidas no regional submetido, porém, ao universal.

Exatamente isso, o regional – com os ritmos, os temas, as rimas e as métricas – em Marcus não é um regional estanque, conservador, tradicional, engessado, mas motivo para a renovação, para o novo e para a vanguarda. A partir desta renovação estética, o poema do autor comunga e dialoga com a epopeia, por exemplo, desde Virgílio e Homero até os modernos como o norteamericano Ginsberg, fundador da estética beat, a lado de Kerouac, e que hoje resulta num sem número de estudos acadêmicos.

Nordestinados canta as dores e as alegrias do homem regional, sem dúvida, mas é enriquecido pela visão de um mundo que se contorce nestas mesmas dores através de visões e de imagens que transcendem ao meramente local. É neste sentido que de deve questionar este poeta que, na verdade, nunca esteve em silêncio, apenas afastado dos gritos estridentes da mídia e renovando forças para o próximo round.

Basta que o leitor observe a construção dos versos sempre destacados por uma palavra-chave que dá o tom e o ritmo da sentença com o jogo pontual das vogais e das rimas, embora ao longo do livro o poeta se distancie, de propósito , dos temas para criar novas visões e, em consequência, novas reflexões. A experimentação o leva a quebrar sequências lógicas, até porque nele nada é lógico, desaguando em universo que cabe a ele conhecer e revelar. Linguagem nova para uma épica nova. Sem dúvida.

Dessa forma, percebe-se que as bases do épico  permanecem vivas, no sentido digamos, clássico, mas se renovam pela construção revolucionárias do poema, pela renovação do verso com novos ritmos, novas métricas, novos sons, que resulta numa linguagem surpreendente cheia de imagens contemporâneas. É preciso destacar ainda, ou sobretudo, a importância das Edições Bagaço nesta edição. A editora reforça, a cada ano, com  o apoio a autores pernambucanos, sua presença decisiva na literatura brasileira.


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