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Diario Editorial: O milagre de concreto e vidro Com Shimon Peres desaparece o pragmatismo de quem pegou em armas na juventude para lutar pela independência de Israel e que depois tentou estabelecer as bases para uma autonomia palestina

Por: Diario de Pernambuco

Publicado em: 29/09/2016 06:56 Atualizado em:

O prédio fica localizado em Jafa (ou Yafo), cidade com três mil anos de história que se tornou uma extensão da apenas pouco mais que centenária e moderna Tel Aviv. Ao lado, um cemitério muçulmano lembra que os palestinos já ocupavam este território hoje pertencente a Israel. O prédio é uma estrutura de concreto e vidro, uma mistura de força e delicadeza que, convivendo juntas, às vezes produzem pequenos milagres. O prédio é o Centro Peres para a Paz, onde israelenses e representantes da Faixa de Gaza e Cisjordânia tentam encontrar alternativas para uma convivência justa na chamada Terra Santa. O prédio foi o último local de trabalho de Shimon Peres, que recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1994, ao lado do inimigo histórico palestino Yasser Arafat. Com sua biblioteca que vai até o teto, será o legado visível do homem que morreu aos 93 anos de idade e cujo sepultamento, ontem, no cemitério do monte Herzl, em Jerusalém, contou com a presença de chefes de estado do mundo inteiro.

Com Shimon Peres desaparece o pragmatismo de quem pegou em armas na juventude para lutar pela independência de Israel e que depois tentou estabelecer, na década de 1990, as bases para uma autonomia palestina seguindo a liderança do ex-primeiro-ministro israelense Yitzhak Rabin. Assassinado em 1995, Rabin teve em Peres o defensor de um consenso cada vez mais difícil de se obter no Oriente Médio.

Para os palestinos, Shimon Peres tem um passado ligado ao programa nuclear israelense e foi o homem que aprovou as primeiras colônias judaicas na Cisjordânia. Ato que vai completar 50 anos em 2017 e que contribuiu, ao longo de todas estas décadas, para desfigurar o território palestino.

No documentário I am. Peres (2014, disponível na Netflix, é possível acompanhar o ex-membro do Partido Trabalhista Israelense em quatro anos de sua trajetória, discutindo política internacional com líderes mundiais e fazendo reflexões sobre sua vida privada. Era um homem que tentava se reconciliar com o passado, olhando para o futuro. Não à toa era um amante da tecnologia e como dirigente apoiou o surgimento de empresas de tecnologia que ajudaram a colocar o seu pequeno país no mapa dos grandes além do poderio bélico.

O prédio que leva o seu nome em Jafa (ou Yafo) continuará recebendo israelenses e palestinos interessados em promover a paz através de ações sociais, culturais e esportivas. São uma minoria, mas o cimento e o vidro juntos são capazes de milagres.


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