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Diario Editorial: Vazamentos provocam reação no STF O país inteiro está contra a corrupção, e quer que os envolvidos sejam condenados. Mas sem afobamentos que maculam reputações injustamente

Por: Diario de Pernambuco

Publicado em: 24/08/2016 07:15 Atualizado em:

Nos últimos três anos o Brasil tem convivido com frequentes vazamentos de informações sobre delações de envolvidos na Operação Lava-Jato. Nunca se sabe quem vazou nem como vazou. Diante da natural indignação de todos nós contra a corrupção, estas delações costumam atrair grande atenção do público e pautar debates políticos. Ontem aconteceu uma novidade de peso em relação a isso. O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, atribuiu um vazamento recente a procuradores da República, disse que “é preciso colocar freios” na atuação deles e que o ato de vazar informações de delatores pode constituir-se em “abuso de autoridade”.

Segundo a imprensa, a fala do ministro Gilmar Mendes foi “a mais contundente manifestação” já feita por um integrante do Supremo contra procuradores. O vazamento que motivou a reação do ministro foi capa da revista Veja desta semana, e teve como alvo o também integrante do Supremo Dias Toffoli, ex-advogado do PT e amigo de Gilmar. A reportagem menciona uma suposta citação feita sobre Toffoli na delação do presidente da construtora OAS, Léo Pinheiro. A reportagem diz que técnicos enviados pela construtora teriam ido à residência do ministro para avaliar um problema na casa, e que depois o empreiteiro teria indicado uma empresa para fazer o conserto. O ministro respondeu que fez o devido pagamento pelo conserto e que não tem “relação de intimidade” com o presidente da empreiteira. Nenhum crime é imputado a Toffoli, mas a informação deixa suspeitas no ar.

Gilmar Mendes disse que o vazamento teria sido um “acerto de contas” (expressão literal dele) de procuradores, descontentes pela decisão de Toffoli de conceder habeas-corpus ao ex-ministro petista Paulo Bernardo e de fatiar a investigação que é feita na Lava-Jato sobre a senadora também petista Gleisi Hoffman (PR), mulher de Bernardo.  

“Estado de Direito tem que ser Estado de Direito. Não se combate crime com a prática de crime”, afirmou Mendes.  Para ele, os procuradores da República devem “calçar as sandálias da humildade” e não podem se achar “o ó do borogodó”.  O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, negou que o vazamento tenha partido de procuradores.  Mas a divergência já está explicitada.

O país inteiro está contra a corrupção, e quer que os envolvidos sejam condenados, independentemente do poder ou da fortuna que tenham. Mas sem afobamentos que maculam reputações injustamente e sem atropelar os direitos que a democracia assegura a todos.

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