Eleições 2016 'Nunca chamei ninguém de golpista', afirma Luciano Siqueira Vice-prefeito do Recife explica declarações de apoio à presidente afastada Dilma Rousseff (PT)

Publicado em: 28/07/2016 22:11 Atualizado em: 28/07/2016 23:45

Filiado ao PCdoB, um dos partidos mais fiéis à presidente afastada Dilma Rousseff (PT), o vice-prefeito do Recife, Luciano Siqueira, cumpriu o papel de defender da aliada no momento em que a petista mais precisou de apoio. Na votação do impeachment, foi um dos que considerou a aprovação do mecanismo na Câmara dos Deputados um golpe, sob o argumento de que Dilma não cometeu as pedaladas fiscais de que estava sendo acusada.

As declarações de Luciano Siqueira, que foi confirmado pelo prefeito Geraldo Julio (PSB) para disputar pela segunda vez a vice na chapa socialista, teria causado mal-estar na Frente Popular. Da coligação faz parte o PMDB, partido do presidente interino Michel Temer. Tal situação levou o vice-prefeito a procurar as lideranças do PMDB do estado para deixar claro seu posicionamento. Ele destaca que divergências sempre existiram e irão existir na política, mas com o respeito às opiniões.

Em entrevista ao Diario, Luciano Siqueira fala da sua relação política e de amizade com o deputado federal e ex-governador de Pernambuco Jarbas Vasconcelos (PMDB), com o vice-governador Raul Henry (PMDB), e também com os líderes das demais siglas, como quem tem procurado conversar para esclarecer o assunto. O vice-prefeito disse, ainda, que o foco da eleição municipal é a cidade e que a disputa não deve ser atrelada à questões nacionais.

 

Conversa com Raul
Há quinze dias atrás ou mais passei um pedaço da tarde com o nosso vice-governador Raul Henry. Conversamos sobre tudo. E agora, nesses dias que antecedem a convenção eleitoral ou convenções eleitorais, depois que Geraldo anunciou de público, tendo consultado todos os partidos da coligação, a manutenção da chapa, me sinto no dever de conversar o máximo possível com as pessoas para, digamos assim, ajudar a reforçar a unidade da Frente Popular. E depois que os jornais passaram algum tempo noticiando ruídos, sinais de desconforto do PMDB por conta da presença do PCdoB na coalizão e da minha presença na chapa majoritária, embora em nenhum momento tenha me incomodado, até porque havia um pouco de exagero, tomei a iniciativa hoje (ontem) de ir até o aeroporto antes do embarque do vice-governador para Petrolina para conversar com ele sobre esse momento em que estamos. Foi uma conversa, como sempre, ótima!

Amizade com Raul
Quando Raul era um jovem estudante de engenharia foi militante do PCdoB.  Ele é nosso amigo a vida inteira. E é um homem que tem meu perfil. É um construtor da unidade, tem a qualidade de superar dificuldade. Eu fui reiterar para Raul a convicção de que o PCdoB tem, e não é só em relação a ele, mas em relação ao Brasil inteiro, que na eleição é municipal o foco do debate é a cidade, a situação atual e o futuro da cidade.

Unidade pela cidade
 A unidade dos partidos que se conjugam em torno de uma candidatura a prefeito, seja aqui (Recife), seja em Olinda, em Camaragibe, no Rio de Janeiro, São Paulo ou em qualquer lugar, é uma unidade em torno de um programa para a cidade, ressalvando as diferenças de opinião em muitas coisas, sobretudo sobre a atual situação nacional.

Votação do impeachment
O PCdoB se recusa a estabelecer uma linha divisória, imaginária entre partidos que votaram pelo impeachment e partidos que votaram contra o impeachment. Na nossa opinião, isso seria um absurdo. Sem exagero! Seria imitar a inquisição da idade média ou adotar o fundamentalismo que impera no Oriente Médio, de que quem não concorda comigo está condenado. O mundo não acaba em uma votação de um impeachment. Estamos em uma convivência democrática em que os partidos que estão presentes na cena política respeitam a opinião de cada um, respeitam a diferença. Isso é fundamental para se conviver.

PMDB versus PSB
Houve um período, há mais de 20 anos, em que na política de Pernambuco se estabeleceu um conflito entre o PMDB e o PSB. Entre Jarbas Vasconcelos e Miguel Arraes. Nós do PCdoB sempre estivemos aliados nesse período a Arraes, como fomos aliados de Jarbas até então, e do PMDB. Nesse período, jamais alteramos o relacionamento cordial com Jarbas e com Raul.

Constrangimento com o PMDB
Quando o partido (PCdoB) completou 20 anos de legalidade da Nova República, todos os partidos presentes na cena política de Pernambuco compareceram, inclusive o presidente do PMDB Dorany Sampaio e Raul, que, acho, era secretário de estado à época, como foi André de Paula, que era presidente do PFL. Então, não existe perigo de constrangimento na relação entre PCdoB e PMDB nessa campanha, no âmbito dessa frente. Não há o risco, como alguns andaram falando (em coluna de jornais), de que eu viria fazer um discurso para constranger os aliados.

Golpista
Nunca chamei ninguém de golpista. Uma coisa é a gente caracterizar politicamente o impeachment por considerar que desrespeita o dispositivo constitucional, que é um golpe institucional, mas respeitando a opinião de todos que consideram que não é golpe. Outra coisa é eu dizer que fulano é golpista, que sicrano é golpista. Isso é outra coisa. Seria um desrespeito. Temos, nós do PCdoB, e eu particularmente, uma relação cordial com todos os deputados de Pernambuco.

Coalizão de partidos
Temos uma proposta para o Recife que vem dando certo, que está no programa da Frente Popular de Pernambuco e que vai sofrer agora alguns ajustes para ser atualizado. Geraldo Julio lidera coalizão de partidos muito plural e acho isso notável. É um grande mérito de Geraldo em um momento que prevalece uma ambiente de intolerância, de diferentes opiniões, preservar um elevado grau de unidade de diversos partidos políticos e que é uma unidade em torno da cidade.

Contribuição do PMDB
Vai ser muito importante a contribuição do PMDB, do deputado Jarbas Vasconcelos, do vice-governador Raul Henry, do vereador Jaime Asfora (vereador do Recife e presidente municipal do PMDB), com quem estou aqui agora (ontem), para agradecer a postura dele nesse período todo. Jaime durante todo esse tempo em que houve esses ruídos, nos ajudou e tem nos ajudado. Não podemos esquecer também que em um período muito duro da vida política no Brasil, que foi a resistência democrática ao regime militar, nós do PCdoB fomos acolhidos nas fileiras do PMDB. Lutamos muito com Jarbas Vasconcelos, com Dorany Sampaio, Marcos Freire e muitos outros para derrubar a ditadura militar. Estivemos juntos na campanha pelas eleições diretas. Na luta pela Constituinte. Essas coisas valem muito em um momento que estamos juntos e em favor da cidade. Não vejo razão para introduzir em uma campanha,  que é municipal, divergências que tenhamos hoje sobre questões nacionais. Pelo menos essa é a nossa opinião.

Conversa com Jarbas
Jarbas está em Portugal. Vai chegar a oportunidade de conversar com ele. Tão logo ele volte de Portugal e no momento que achar conveniente, vou conversar com ele. Conversamos na campanha de três anos e meio atrás. Eduardo Campos, Jarbas, eu, Raul. Quando eu era vice-prefeito de João Paulo, muitas vezes participei de atividades de Jarbas (como governador), como prefeito em exercício ou como vice-prefeito representando o prefeito. Isso de uma maneira muita fraterna e cordial. Quando as pessoas querem fazer o bem, exploram as convergências, não as divergências.

Relação com o PT
Hoje mantemos uma ótima relação com o PT. Converso com João Paulo quase toda semana e respeitamos a opção de cada partido. O PT está aliado ao PRB e outros partidos e nós estamos aliados ao PMDB, ao PSB e a outros partidos. Isso é natural, é da vida. É da política.

Ruídos com outros partidos
Que eu saiba só houve com o PMDB. Vou contar uma história aqui. Na semana passada, estava eu e o presidente do PCdoB municipal, José Bertotti, no gabinete do prefeito Geraldo Julio, e quando terminamos uma conversa, o prefeito disse que do lado de fora estava aguardando o presidente do PSD, André de Paula, que é meu amigo há anos. Quando ele entrou, me deu um abraço e disse que era meu  golpista predileto. Respondo que ele era predileto, mas que nunca o chamei de golpista, como ele afirmou ter visto no jornal. Disse a ele que estava no jornal, mas não era verdade.

Composição da chapa
Nunca tratei da chapa com Geraldo. Nunca tomei a iniciativa de tratar com ele porque deixamos ele muito à vontade para conduzir o processo sem nenhum tipo de constrangimento. E sempre que ele reafirmava o desejo de manter a chapa eu perguntava se ele tinha certeza. Na semana passada, quando o prefeito disse que ia anunciar, perguntei sobre o que estava saindo nos jornais (desconforto do PMDB). Ele disse que tinha conversado com todos, com o PMDB, e que estava se sentindo seguro para anunciar sem dificuldades. Apesar de ele ter dito que o assunto era página virada, me sentia devedor de procurar não só ao PMDB, mas a todos os partidos. Estou procurando as pessoas porque me sinto devedor delas por aceitarem a proposta de Geraldo e de me aceitar na chapa.

Voltar para a coligação petista
Acho que a conduta da direção do PT em relação a nós aqui no Recife, inclusive meu querido amigo e companheiro João Paulo, como quem converso sempre, foi muito correta. Em nenhum momento o PT me fez uma proposta para examinar a possibilidade de estarmos juntos nessa eleição. Acho que eles foram sensíveis. Nós (PCdoB) ajudamos a construir o programa de governo da Frente Popular, registramos em cartório, colocamos na internet e o programa está sendo cumprindo. Participamos do governo com dois secretários (Cida Pedrosa e George Braga), que saíram para disputar a campanha de vereador. Então, como poderíamos, agora, à véspera das convenções, faltando seis meses para acabar o governo, dizer à opinião publica que rompemos com o PSB, com a coligação de partidos aliados e vamos nos aliar ao ex-prefeito João Paulo? Ninguém ia entender. Ninguém ia achar que seria uma coisa correta.



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