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Entrevista - Rodrigo Maia "É um dos piores momentos da política brasileira"

Por: Correio Braziliense

Publicado em: 24/07/2016 11:15 Atualizado em: 24/07/2016 11:23

 (Agência Câmara)

Responsável pela volta do DEM ao comando da Câmara — a última vez tinha sido há quase 20 anos, quando a legenda ainda chamava-se PFL — Rodrigo Maia (RJ) acredita que o retorno do partido ao principal posto da Casa é a prova de que é possível “ter uma ideologia e se manter fiel a ela”. Ao derrotar o grupo aglutinado em torno do ex-presidente Eduardo Cunha (PMDB/RJ), Maia afirma que uma nova agenda será implantada na Casa, voltada mais para os temas econômicos do que para os debates conservadores. Para o novo presidente da Casa, os trabalhos devem se concentrar em três eixos: as pautas econômicas; uma reforma política negociada com os partidos; e uma nova metodologia de fiscalização e controle para coibir a profusão de escândalos de corrupção que preenchem os noticiários nos últimos meses. Uma das maiores preocupações está nas regras de campanha. “A vedação ao financiamento privado tira o caixa 2 de pessoa jurídica do rol de crime eleitoral, passa a ser corrupção passiva e ninguém vai brincar com isso. Do meu ponto de vista, não tem encaminhamento para isso, acho que essa eleição de 2016 vai ser o caos.” Maia aposta que, ao reunificar a base de apoio no Congresso, o presidente em exercício, Michel Temer, terá condições de aprovar as matérias importantes, como a emenda constitucional que impõe um limite de gastos da União. Ele não acredita que, durante a sua gestão, que vai até fevereiro, possa ser aprovada a reforma da Previdência. Mas quer concluir, na Casa, a votação do teto de gastos e deixar para o Senado concluir a matéria no primeiro semestre do ano que vem.

Quais as prioridades em relação aos projetos?
Temos três campos aqui. O campo econômico, com a renegociação da dívida, o pré-sal, a PEC do teto de gastos e, a partir de outubro, a reforma da Previdência, que certamente não terminará neste mandato. Na parte política, a reforma política não sairá nada que não seja uma questão construída com as executivas dos partidos, com a Câmara e o Senado. Isso é fundamental, não adianta. Ou os partidos tomam uma posição de que vão construir uma saída para a questão da falência do sistema político, ou a gente não vai a lugar nenhum. E o terceiro item, também na superação da crise, são as propostas que vêm na linha de aperfeiçoar a legislação, para que se tenha controle e punição mais fortes, com esse projeto desses 10 pontos contra a corrupção.

A PEC do Teto será aprovada até o fim do ano?
Eu tenho essa expectativa. No Senado, no ano que vem, né? Acho que a Câmara pode dar essa demonstração de responsabilidade, de que o Brasil precisa avançar em alguns projetos. Esse é um deles.

A saída de Eduardo Cunha, de certa forma, facilita a gestão do senhor?
O processo do Eduardo já está maturado. Agora, vai cumprir todo o rito formal da Câmara, de ele ser notificado, e depois vamos votar. O caso do Eduardo depois do resultado da CCJ já não é mais uma questão que vai atingir a governança da Casa, no meu ponto de vista. Eu acho que agora é a gente tentar reconstruir as relações entre todos os partidos, que seja o centrão ou a nossa parte da base que deveria e deve ser uma só e a oposição.

No dia seguinte à sua eleição, seu pai, César Maia, criticou a articulação do governo e atribuiu a Geddel um erro político por ter apoiado o Cunha.
Eu discordo do meu pai. Geddel queria um nome de consenso. O nome da preferência dele, 15 dias antes, era o Rosso (Rogério, do PSD). Mas, quando o processo afunilou, eu não vi nele um adversário. No segundo momento, quando ele viu que tinha o risco de Marcelo Castro ir para o segundo turno, o governo passou a trabalhar, claramente, para as duas candidaturas. Como eu consegui unificar minha base melhor do que a de Rogério, eu fui beneficiado por isso. Mas até três dias antes, havia a preferência do governo por uma composição pelo centrão.

Qual o tamanho da base do governo Temer?
Tem de ser uma base com gordura para aprovar uma PEC polêmica. Ele tem 400 votos. Claro que em uma PEC como a reforma da Previdência, ele não vai ter 400 votos, mas ele tem uma gordura para poder articular.

Esta é a pior legislatura da Câmara?
É um dos piores momentos da política brasileira, de forma geral. No caso do volume de denúncias que atingiu o Executivo, o Legislativo. Há também a questão da exposição no impeachment. Aqui nesta Casa, cada deputado tem um perfil. Tem um deputado que está aqui e tem o objetivo único de estar nos ministérios liberando as emendas dos municípios que ele representa. Tem outro que é da Frente Ruralista, ou da opinião pública. Alguns, representam a máquina partidária. Por isso, você chega no plenário e olha aquela questão do impeachment e alguns ficam achando que aquilo ali é uma demonstração de enfraquecimento da qualidade da Câmara, mas eu não vejo por aí. Acho que o Congresso e a política vivem um momento ruim, mas nós temos condições de reorganizar isso.

A ligação de parlamentares com Cunha não contribuiu para essa imagem?
Geralmente, quem é que se coloca para ser presidente da Câmara? São políticos que lideram grandes bancadas. E  Eduardo, talvez pela competência dele de articulação, em alguns temas, foi construindo aliados e esses aliados geraram uma vitória. E, no caso específico daquela eleição, tava na cara que era uma disputa PT e PMDB. Ele teve muito voto de políticos que queriam derrotar o PT, isso também colaborou com a vitória dele.

E as CPIs da Lei Rouanet e do Carf?
A da Rouanet já está para ser instalada, (Waldir) Maranhão colocou para eleger os componentes. Como ele arquivou uma, deu sequência na outra. Em relação ao Carf, os deputados estão pedindo um prazo maior para apresentar o relatório, para continuar a fase de oitiva. Estou consultando os líderes e não estou vendo apoio.

Dá pra se dizer que, nesta gestão, a bancada chamada de “BBB: Bala, Bíblia e Boi” perde espaço?
Não é que eles perdem espaço, eles têm uma bancada forte e unida, mas eles também estão na base do governo. Eles entendem, acredito eu, que há uma agenda para superar a crise. Eles têm eleitores e, neste momento, eleitores estão perdendo renda ou estão desempregados e acho que, o tema dos valores, neste momento não vai resolver o desemprego, a redução das taxas de juros, a melhoria da renda, a questão do investimento no setor privado.

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