Opinião Aurélio Molina: Quem planta guerra colhe imigrante "Faço votos que os outros 16 milhões de britânicos, juntos com os jovens que não puderam se manifestar, não desistam e consigam reverter este lamentável resultado"

Publicado em: 29/06/2016 07:42 Atualizado em:

Por Aurélio Molina
Ph.D e membro das Academias Pernambucanas de Ciências e de Medicina

A saída do Reino Unido da Comunidade Europeia merece suscitar em todos nós reflexões sobre possíveis explicações causais, incluindo as consequências do fim do Estado de Bem-Estar Social e da implementação do Darwinismo Socioeconômico. E uma das mais necessárias é sobre o uso da xenofobia durante a campanha que contribuiu para que o “não” fosse vencedor do plebiscito, já que vários dos defensores do Brexit (British Exit) utilizaram em sua retórica a sempre bem sucedida estratégia do medo associada aos preconceitos contra estrangeiros e imigrantes, lembrando que o berço do Movimento Eugênico (o racismo internacional travestido de pseudociência) não foi a Alemanha Nazista e, sim, os Estados Unidos e a Inglaterra.

Estimulando o receio de uma futura “invasão” dos desterrados que fogem de guerras fraticidas no Oriente Médio, África, Ásia e, até mesmo, na Europa (Ucrânia), apoiadas por vários países europeus, alguns “herdeiros de Hitler” ajudaram a convencer 52% dos votantes britânicos a virar as costas para a pior crise humanitária desde a segunda Guerra Mundial. Para fugir dos horrores e das atrocidades dos conflitos armados (e dos crimes contra a humanidade que os novos “anjos da morte” tentam cinicamente “adocicar” usando a expressão “dano colateral”, isto é, a morte e sequelas físicas e emocionais de milhões de inocentes), além da destruição da infra estrutura básica de suas sociedades (que fizeram regiões inteiras retornar a Idade da Pedra), 65 milhões de seres humanos tornaram-se refugiados. Desses, 21.3 milhões fugiram para outros países.

Somente neste ano 300 mil pessoas tentaram chegar à Grécia e à Itália através do Mediterrâneo, em sua maioria crianças, muitas das quais vagando sem os pais, número este que vem aumentando exponencialmente. Infelizmente, pelo menos para os 17.410.742 de britânicos que foram influenciados em sua decisão por um arcaico racismo e um violento extremismo nacionalista, esta negra página da história da humanidade não foi corretamente entendida e valorizada. E a morte por afogamento do pequeno sírio Aylan Kurdi (lembram-se da imagem do corpo do menino de três anos, estendido numa praia da Turquia, que emocionou todo o mundo?), que retrata a estupidez de tantos dirigentes mundiais, seus interesses por riquezas alheias e a necessidade de lucro de seus Complexos Industriais de Guerra, representou apenas um pequeno detalhe, captado por uma triste e singela foto.

Mas fiquem certos todos os “rejeitados” do mundo, onde quer que vocês estejam, que apesar desta derrota civilizacional, os homens e as mulheres de bem de todo o planeta, que têm certeza de que “outro mundo é possível” e clareza de que a mãe de todos os males é a ignorância, que está sempre acompanhada de seu filho bastardo (o preconceito) e de suas nocivas filhas (a intolerância e a injustiça), estarão sempre de pé e à ordem lutando para que retrocessos históricos, humanitários e evolucionais como esse não se tornem hegemônicos na sociedade contemporânea. Faço votos que os outros 16 milhões de britânicos, juntos com os jovens que não puderam se manifestar, não desistam e consigam, de alguma forma, reverter este lamentável resultado.

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