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Opinião Patrícia Ferreira Rands: Um homem à frente do seu tempo "Nosso pai criou-nos de um modo muito à frente do seu tempo"

Por: Diario de Pernambuco

Publicado em: 05/05/2016 07:13 Atualizado em:

Por Patrícia Ferreira Rands
Auditora Fiscal do Trabalho

Peço licença aos leitores do nosso querido Diario de Pernambuco para publicar uma homenagem que fiz ao meu pai, quando do seu passamento em 5 de maio de 2015, há exatamente um ano: Como definir, de maneira simples e rápida, alguém tão profundo e intenso como nosso pai?

Para nós, seus filhos, “a sua mais completa tradução” está, porque ele vive ainda em nossos corações, na famosa frase de Carlos Drummond de Andrade: “Tenho duas mãos e o sentimento do mundo”. Sentimento do outro tão forte, nele, a ponto de, em alguns momentos da sua vida, sacrificar a sua própria felicidade e, por consequência e sem a intenção, a de pessoas a quem muito amava, como sua família. Pagou algumas vezes um preço alto ao optar pelo coletivo. Foi daqueles que, indignados com as injustiças sociais, não se limitaram a externar seu posicionamento crítico à ordem injusta.

Despojadamente, soube converter sua consciência social em ativo engajamento nas lutas sociais de seu tempo. Fosse nas mobilizações da Frente do Recife, na luta contra a ditadura militar, ou assumindo responsabilidades em governos progressistas como os de Leonel Brizola, ali sempre esteve o intelectual comprometido com as transformações sociais que melhorassem a condição de vida de nosso povo. 

Nosso pai criou-nos de um modo muito à frente do seu tempo. As suas filhas não foram feitas “apenas” para o casamento, mas para serem independentes e profissionais competentes, atuando de igual para igual, dentro e fora do lar. Cobrava e fiscalizava sempre, dos cinco filhos, o aproveitamento nos estudos, a leitura crítica dos fatos, e a melhor forma de intervenção para aperfeiçoar o mundo que nos rodeava, com justiça e equilíbrio. 

Esta dedicação aos estudos que incutiu fortemente em nós, aliada à sensibilidade social, são a sua maior herança. E não podia ser diferente: paraibano; aluno brilhante da Faculdade de Direito do Recife; advogado das ligas camponesas; pós-graduado em Economia pela Fundação Getúlio Vargas; secretário de José Américo de Almeida, governador da Paraíba, ainda bem jovem; co-fundador da Sudene, junto a Celso Furtado, de quem foi auxiliar direto e integrante da primeira diretoria da autarquia; preso político de 1964, já com quatro filhos; secretário do governo Brizola; procurador concursado do Estado do Rio de Janeiro aos quase 60 anos; advogado e católico progressista militante, por sinal bastante feliz com os atuais rumos dados à nossa Igreja pelo papa Francisco. Temos aí, nesta sua trajetória, a mistura entre o homem estudioso, culto, elegante e o comprometido com a coletividade, com a justiça social.

Para encerrar, qual outra grande característica do nosso pai, além da elegância e belezas interior e física? A sua paixão pelo Rio de Janeiro! Cidade que o adotou, já na maturidade, mas que também o acolheu na juventude, inclusive a nós, seus filhos, pois ele sempre dava um jeito de levar suas meninas sorriso e seu reizinho para passear nas férias. Compreensível! Imaginem o Rio dos anos 50 que ele viveu! E é lá, na cidade que para nós é a sua cara, aonde poderemos visitá-lo, pois suas cinzas estão depositadas numa urna na Catedral do Rio de Janeiro. Um lugar digno de um príncipe, para um príncipe que ele foi e é!


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