Opinião Marly Mota: Ao mestre Daniel Lima "Ao longo dos meus anos bem vividos, não serei capaz de esquecer pessoas, e tudo aquilo que nos é ao mesmo tempo comum e único"

Por: Diario de Pernambuco

Publicado em: 05/05/2016 07:10 Atualizado em:

Por Marly Mota
Membro da Academia Pernambucana de Letras e sócia da Academia Luso-Brasileira de letras - Rio

Não encontro outra forma de elevar a minha gratidão e saudade à figura mágica, do mestre padre Daniel Lima, poeta, filósofo, humanista, professor, cujo centenário de nascimento, -1916- 2016 transcorreu em abril. Ao longo dos meus anos bem vividos, não serei capaz de esquecer pessoas, e tudo aquilo que nos é ao mesmo tempo comum e único. Daniel Lima, meu professor por quatro anos no Colégio Damas Santa Cristina, em Nazaré da Mata, onde residia. Enquanto em minha casa, para continuar meus estudos, meus pais projetavam internar-me no Colégio. Eu adolescente, já sentindo saudades dos meus dias sem obrigações, situando-me entre as alunas vindas de cidades vizinhas. Assim como nós, eu e minha prima Heloisa, da cidade de Bom Jardim, núcleo regional dos engenhos das nossas famílias. Em plena madrugada, 3h40, na Estação, o trem da Great Western (Companhia inglesa de transportes ferroviários) anunciando nossa partida. Vestida com uniforme do colégio a boina meio de lado na cabeça, insinuando um discreto charme, antes perscrutado no espelho. Em meio de risos e conversas vimos Heloisa inconsolável. Sua boina voara pela janela do trem que ganhava distância, machucando nossas lembranças, entre outras inseparáveis,

Nas salas de aulas o professor Daniel Lima relembrando, escreveu no meu álbum na despedida do curso Pedagógico : - “Marly fui seu professor cerca de quatro anos. Durante esse tempo, houve oportunidade de falar-lhe nas aulas, sobre Comenius, Pestalozzi. Montessori, Decroly entre outros homens e coisas mais ou menos sem pé nem cabeça. (...) Não estou querendo desprezar das obras desses pedagogos ilustres ou parecidos a isso./eles escreveram muitas observações realíssimas, muitas verdades práticas, muita revelação do mistério psicológico do nosso ser. Mas ao lado disto, quantas concepções de alta mitologia “ A vida está mais além. (...) Na prática da educação o importante para você não é ser como Pestalozzi ou outro qualquer: é ser Marly. 

A sua inteligência tão viva e tão bem orientada, lhe dirá como em cada caso particular, deverá você se servir das leis gerais. Nesse último ano, participei ativamente com outras colegas do movimento pró Juventude Estudante Católica, JEC, com ampla repercussão nacional. No Colégio a Mestra Geral, inclui-me como palestrante, o mestre padre Daniel Lima como conferencista, encerraria a tarde. Na dia seguinte, o mestre pede a minha palestra para publicar na Gazeta de Nazaré, dirigida por ele. Brincalhão, irrequieto, pensei: Isso é mais uma brincadeira do mestre! Dias depois trás o exemplar do semanário. Foi uma alegria ver as minhas modestas palavras impressas ao lado da conferência dele. Relutante em permanecer inédito, venceu a persistência da nossa comum amiga escritora Luzilá Gonçalves em editar o seu primeiro livro: Poemas, pela Cepe incluindo textos dos seus amigos, professores Lourival Holanda, Zeferino Rocha. O livro Poemas, recebeu o Prêmio Alphonsus Guimarães, da Biblioteca Nacional. A presidente em exercício, da Academia Pernambucana de Letras, Luzilá Gonçalves comemora, 2ª feira, a 2 de maio, o centenário do mestre de todos nós, Daniel Lima.


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