Opinião José Paulo Cavalcanti Filho: O livro das perguntas "Milhões de brasileiros pediram nas ruas uma política mais limpa"

Publicado em: 27/05/2016 06:46 Atualizado em:

Por José Paulo Cavalcanti Filho
Jurista e membro da Academia Pernambucana de Letras

Pabblo Neruda, prêmio Nobel de literatura em 1971, é autor de um curioso Libro de las Preguntas. Nesse poeta, nascido Ricardo Eliécer Neftali Reys Basoalto, nem tudo é óbvio. E, no livro em que há só perguntas, algumas até poderiam ter ligação com os novos tempos. Como “Achas que o luto antecipa a bandeira de teu destino?”. Ou “Por que fechei os meus caminhos?”. Ou “Devo escolher esta manhã entre o céu e o mar, tudo ou nada?”. Imagino dito Neruda passeando no Brasil de hoje. Que perguntas faria?, por aqui. Entre outras, quem sabe as seguintes:

Fato 
A partir de 2013, milhões de brasileiros pediram nas ruas uma política mais limpa. Sem réus da Lava-Jato agindo livremente no governo. Muitos com Lula. Hoje presos. Ou sendo processados. Outros muitos com Dilma, no caminho da prisão. 
Pergunta “
E como é que o governo Temer, sabendo desse anseio público por limpeza, teve a coragem (ou a insensatez) de nomear tantos investigados (7, em 23) para seu ministério?”

Fato
O cineasta Kleber Mendonça Filho exerce função de confiança (sem concurso público) na Fundação Joaquim Nabuco. Bem remunerada. Em Cannes, se sentiu à vontade para atender pedido de alguns membros do governo Dilma (que o contratou). E fez um estrondoso protesto com o “golpe”. 
Pergunta 
“O cineasta, que não renunciou a seu emprego, se sente à vontade para exercer um cargo de confiança no governo Temer?”

Fato
O diretor de teatro Aderbal Freire Jr., casado com Marieta Severo, segundo a Folha de São Paulo ganha por mês 91 mil reais na TV Brasil. Vai perder a boquinha, com certeza. E escreveu, na mesma Folha, violentíssimo artigo contra o “golpe”. 
Pergunta
“O bom jornalismo não exigiria do diretor, nesse artigo, informar ao leitor (não fez isso) que tinha contrato com o governo Dilma em tão alto montante?”

Fato
O ministro Romero Jucá já saiu. Nada contra. 
Pergunta 
“Pensando bem, deveria ter sido nomeado para o cargo?”. 

Fato
Com exceção da França, nenhum país importante do mundo tem um ministério só para cuidar da Cultura. 
Pergunta 
“Não ter um ministério específico para a Cultura seria prova de que o governo, qualquer governo, não quer prestigiar a Cultura?”

Fato
A Petrobras foi destroçada por decisões gerenciais lamentáveis e uma corrupção mastodôntica. Agora, vai ser presidida por um técnico reconhecidamente competente e correto. Pedro Parente. E os sindicatos petroleiros, que antes mantinham um silêncio cúmplice com tantos desmandos, são contra. 
Pergunta 
“Onde estavam os sindicatos no tempo em que a Petrobras foi assaltada? Só agora decidem protestar? E logo contra um homem de bem?”

Fato
Maradona publica foto junto à camisa da Seleção Brasileira com o número 18 nas costas. 2018, imagina-se. Apoiando Lula e Dilma. 
Pergunta
“Depois disso, Lula e Dilma têm salvação?”

E vamos parar por aqui. Faltando só lembrar verso de Neruda em 20 poemas de amor e uma canção desesperada: “É hora de partir, oh abandonado”. O vaticínio já valeu para Dilma, claro. Problema para o novo governo é que, se nada começar a melhorar, pode mais tarde valer também para Temer.


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