Opinião Plínio Palhano: Chagall e a Revolução Russa "Seu interesse era o povo, e acreditava que a educação pela arte seria um meio libertador"

Por: Diario de Pernambuco

Publicado em: 20/04/2016 07:17 Atualizado em:

Por Plínio Palhano
Artista plástico

Deflagrada a Revolução de 1917, o pintor russo Marc Chagall, imbuído de idealismo, retorna à sua pequena aldeia natal, Vitebsk, de população predominantemente judia - ele próprio era judeu -, já com um percurso considerável em Paris, onde conheceu a vanguarda de artistas plásticos e poetas. Amigo de Modigliani e do poeta Apollinaire, que selecionou obras do artista para realizar uma exposição em Berlim, associa-se à Escola de Arte do Povo de Vitebsk, fundada em 28 de janeiro de 1919, no calor da influência revolucionária, como um dos professores mais importantes e colaboradores educacionais da arte no movimento bolchevista. 

Chagall alcançou um prestígio notável com os estudantes e a população local, atraindo todos os interessados em estudos da arte com as inovadoras interpretações das coisas a serem representadas. Em aulas de campo, por exemplo, ensinava que seria interessante captar a natureza pelo seu lado mais feio para, então, retirar dali o belo e a essência. Pregava uma arte livre, individualista e independente, que ia de encontro, naturalmente, ao coletivismo das novas ideias da ordem marxista/leninista vigente. 

Seu interesse era o povo, e acreditava que a educação pela arte seria um meio libertador. Dizia que era preciso “cuidar para não apagar as peculiaridades individuais de cada pessoa, embora trabalhando em grupo”. Por isso, o seu ensino era chamado de “estúdio livre”, tinha o maior número de inscritos. O seu estilo marcou, entre seus alunos, pela admiração e pelo respeito às ideias e à obra.  

Ele se entusiasmava em ver uma população pobre, jovem, de origem operária, interessada em se integrar à Escola de Arte, criando uma nova perspectiva de vida e de alegria. O artista recrutou, em Petrogrado e Moscou, professores como o futurista Ivan Puni e a esposa, Ksenia Boguslavskay, entre outros, para a empreitada educativa na arte.

Mas o entusiasmo de Chagall foi arrefecendo com as lutas internas revolucionárias e estéticas de alguns, que pretendiam provar qual arte estaria destinada a representar melhor a nova revolução. Um deles foi Malevich, que criou o suprematismo, acreditando ser o mais puro símbolo do coletivismo na arte bolchevista; e o seu discípulo direto, Lissitzky, que não aprovava o ensino do pintor de Vitebsk. Logo Malevich entrou em choque com o humanismo de Chagall, que se ausentou de Vitebsk e da Rússia e voltou a Paris. Esse momento significou o início do conturbado fim da Escola de Arte do Povo, que após também o afastamento dos suprematistas, aos poucos se destruiu. Mas existia outro grupo na arte da revolução bolchevista: era o dos que achavam que o realismo seria o caminho. O mau gosto predominou: o território russo encheu-se de esculturas de Marx, de Lenin, de Stalin e de corpos musculosos.


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