Opinião Elder Lins Teixeira: O grande desafio "Um grande embate se prenuncia entre a disputa pela manutenção dos empregos políticos e os reais interesses do país"

Por: Diario de Pernambuco

Publicado em: 26/04/2016 07:14 Atualizado em:

Por Elder Lins Teixeira
Consultor e professor emérito da UPE

Uma nova etapa da história do país começa a ser escrita. Aprovado ou não o impeachment da presidente da República um grande desafio deverá ser vencido. Permanecendo a atual governante - hipótese pouco provável - não será fácil mudar os rumos da economia sem base parlamentar suficiente para aprovação de medidas, exigindo uma reagrupação de parcerias, o que, a experiência nesse governo embute, mesmo sem sucesso, um elevado preço para os brasileiros, haja vista os processos do mensalão, petrolão e outros mais.

Vencido o impedimento, o novo governante, em que pese ter uma aparente maioria no Parlamento, também terá que manter esse apoio sem que tenhamos a garantia que essa negociação será apenas em cima de princípios e programas que possam reverter a tendência declinante da economia. Medidas nesse sentido terão um  custo inicial para correção dos desvios existentes, passando pelo apoio integral às ações de combate à corrupção, que atingem empresários e políticos coroados; diminuição da máquina administrativa com corte na quantidade de ministérios e de cargos comissionados, repercutindo no volume de moeda disponível para a obtenção dos necessários apoios; redução do déficit público e proposição de reformas estruturadoras - a previdenciária, a trabalhista e a de critérios para concessão e privatização de empresas ou serviços públicos - que de alguma maneira atingirão  negativamente a população já tão penalizada e criarão resistências.

Alguns agravantes existem: o próprio processo de substituição que guarda a possibilidade de uma reversão nos próximos 180 dias, uma vez admitida a abertura do processo no Senado, deixa um ambiente instável, até que se consume definitivamente, propício a um clima de agitação nas ruas e de expectativas e negociações na casa parlamentar, dificultado a proposição, encaminhamento e aprovação das medidas emergenciais. Vencida essa fase e consolidada a mudança do presidente, abre-se a disputa eleitoral para 2018, já presente nas discussões para a solução da crise atual, onde os partidos e seus líderes buscam posições privilegiadas na colocação de candidaturas para a conquista do próximo mandato presidencial. Acima de tudo isso paira a ameaça sobre diversos integrantes da classe política das ações investigativas que podem resultar em perdas de mandatos, até mesmo do novo governante, e em muitos casos de condenações privativas da liberdade.

Um grande embate se prenuncia entre a disputa pela manutenção dos empregos políticos e os reais interesses do país. O que prevalecerá só o tempo dirá. A  vantagem é que a população perdeu a posição contemplativa e apática, utilizando os recursos tecnológicos da comunicação e ocupando as ruas para colocação de suas reivindicações, ainda que falte-lhe a sistematização de seus anseios e a corporificação de suas propostas através de uma representação que legitimamente possua credibilidade para viabilizar as soluções.


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