Candidaturas Movimentos pró-impeachment de olho nas eleições municipais

Por: Julia Schiaffarino - Diario de Pernambuco

Publicado em: 21/03/2016 17:50 Atualizado em: 22/03/2016 14:20

Integrantes do Movimento Vem Pra Rua em carreata na zona oeste de São Paulo convocando a população para ato pró- impeachment. Fora do Recife, grupo já terá candidatos nas eleições deste ano. Foto: Sérgio Castro/ estadão Conteúdo
Integrantes do Movimento Vem Pra Rua em carreata na zona oeste de São Paulo convocando a população para ato pró- impeachment. Fora do Recife, grupo já terá candidatos nas eleições deste ano. Foto: Sérgio Castro/ estadão Conteúdo
 

Cria dos grupos apartidários que tomaram as ruas pela primeira vez em 2013, os movimentos pró-impeachment que protestaram no domingo passado começam a assumir bandeiras políticas pensando, já, nas eleições deste ano. O gesto encontra respaldo em legendas como PSDB, PMDB, DEM, Partido Novo, PSC e PRB que, paralelamente, tem procurado e conseguido, de maneira bem-sucedida, abrir diálogo com eles. Dos quatro grupos que atuam no Recife, dois, o Direita Pernambuco e Estado de Direito, terão candidato próprio e um, o MBL, estuda apoiar candidaturas de siglas “que se identifiquem com as defesas”. O Vem Para a Rua, é o único que afirma que que vai se manter apenas como espectador, apesar de contar com parentes de políticos na organização.

Marcondes Secundino, antropólogo com especialização em direitos coletivos, critica a falta de uma liderança política com propostas práticas dentro desses movimentos. Foto: Ines Campelo/Arquivo DP
Marcondes Secundino, antropólogo com especialização em direitos coletivos, critica a falta de uma liderança política com propostas práticas dentro desses movimentos. Foto: Ines Campelo/Arquivo DP
Para o antropólogo especialista em política e direitos coletivos, Marcondes Secundino, é salutar que se monstrem as bandeiras partidárias dos movimentos. “Quando se quer transmitir a ideia de que não há implicação política é que incomoda. Afirmar e clarear é legítimo porque eles vão se relacionar com a base de apoio deles. O problema é quando se oculta isso”. Ele critica, porém, que apesar das queixas de quem vai para as ruas contra a corrupção, falta, uma liderança política que mostre práticas anti-corrupção. “Quais são os atores políticos comprometidos com a reforma política? Então, seja de um lado, ou seja de outro, a disputa acaba sendo pela hegemonia política e quanto mais se acirra a disputa política, mais fica claro a diferença entre os movimentos”

Coordenador do Estado de Direito, o bacharel em história, Diego Lagedo, filiou-se ao DEM para ser candidato a vereador no Recife. O grupo também terá como candidato Rafael Coelho em Petrolina, igualmente pelos Democratas. “Quando surgiu a ideia de ser candidato fui atrás de um partido e senti que o DEM era quem melhor representava as ideias mais à direita que o grupo defende. Quero ser candidato e acho que minha candidatura difere em tudo das demais porque ela é focada em dois eixos: a moralização social e a moralização da coisa pública para sanear necessidades que são fruto de uma desestruturação social”, afirmou. A moralização do público ele associa ao combate à corrupção. Sobre o social ele aponta questões como o combate às drogas, o aborto, o ensino de gênero e do marxismo nas escolas e a incentivos à desestruturação da família.


Coordenador do Estado de Direito, o bacharel em história, Diego Lagedo, filiou-se ao DEM para ser candidato a vereador no Recife. Movimento também terá representante em Petrolina. Foto: Julio Jacobina/ DP
Coordenador do Estado de Direito, o bacharel em história, Diego Lagedo, filiou-se ao DEM para ser candidato a vereador no Recife. Movimento também terá representante em Petrolina. Foto: Julio Jacobina/ DP

Lagedo tem trabalhado para conseguir o apoio do Direita Pernambuco que ainda avalia se fecha um nome próprio no Recife ou apoia o do grupo aliado. “Estamos avaliando quem poderá ser lançado no Recife, mas o grupo já confirmou o candidato Thiago Vieira (PSC) em Paulista e Mare Barbosa (PRP) em Lagoa do Carro”, disse o o coordenador do Direita PE, Leandro Quirino. De acordo com ele, o PSC é o partido que mais se aproxima das ideias grupo devido a presença de nomes como Jair Bolsonaro e Marcos Feliciano. Entre as bandeiras que ele defende estão a militarização das escolas, a volta do porte de arma para o cidadão e o armamento da guarda municipal, além de pontos do Estatuto da Família como uma posição contrária a ensino de questões de gênero nas escolas.

 Os dois movimentos tem abrangência mais local, ao contrário do MBL que vem de uma raiz nacional. Em todo país, o Brasil Livre deve lançar em todo o país cerca de 100 candidatos. Coordenador do movimento no estado, o estudante de medicina, João Pedro Cavalcanti, nega que tenha pretensões de entrar na política. “Quero fazer uma carreira em medicina até porque acho que a atividade política requer uma dedicação total e há limites para quem é honesto. Não tem como ficar rico em política sendo honesto”, mas adianta que o grupo não ficará alheio às eleições em Pernambuco onde deverá usar sua força para apoiar alguns nomes. Ele afirma já ter sido procurado por um deputado federal (que não quis informar quem era) e se mostrou aberto a uma declaração de apoio no futuro próximo.

“Acho que o movimento se aproximar da política é um sinal de maturidade. Os movimentos não podem afastar os políticos. Claro que há o risco de uma queda de credibilidade (do movimento), mas a população tem um nível de maturidade”, disse. Ele ressalta que “a estratégia do MBL para se infiltrar na política não será por partidos, mas por pessoas” e mostra ter ciência da força do movimento, destacando a inserção nas redes sociais e o poder de mobilização de ruas. “Vamos usar nosso espaço para mostrar o lado positivo e negativo dos políticos… Se tem um candidato a prefeito ou vereador que tenha indentidade conosco podemos usar nosso espaço para divulgar ele”, completou.

Em outras capitais como Rio de Janeiro e São Paulo o MBL, assim como o VEM Pra Rua, que terá candidato fora do Recife, deve elaborar uma espécie de “lista negra” com as pessoas que eles não recomendam. Os dois movimentos são os maiores entre os aglutinadores de multidões prol impeachment. No ato do domingo, em Boa Viagem, levaram à rua três trios elétricos. O diálogo com o Direita Pernambuco e o Estado de Direito, porém, tem ficado restrita às convocações para as ruas. No ato o diálogo entre eles é pouco, algo que deverá se repetir nas eleições, em uma espécie de “cada um por si”.

 

Breve perfil dos Movimentos

Vem para a Rua
300 pessoas parcipam da coordenação e organização
A maioria jovens, muitos universitários, pessoas de mais idade, profissionais liberais, médicos, advogados, estudantes, desempregados
Social-democracia é a linha teórica da qual mais se aproxima

MBL
20 pessoas
A maioria jovem, muitos universitários e recém-formados, advogados, médicos e comerciantes.
Liberal é a linha teórica da qual mais se aproxima

Direita Pernambuco
20 pessoas parcipam da coordenação
A maioria é autonômo, ex-militares, policiais da PM, pedreiros, pessoas que trabalham na área de segurança e desempregados
Conservadorismo linha teórica da qual mais se aproxima

Estado de Direito
20 pessoas parcipam da coordenação
A maioria é estudantes universitário, recém-formados e pessoas mais religiosas (católicas e evangélicas)
Direita é a linha teórica da qual mais se aproxima

*Os perfis foram desenhados a partir de conversa com os coordenadores

 

OPINIÕES 

3 Perguntas - Thalles Castro, cientista político

Como avalia o envolvimento direto desses movimentos com as eleições, seja apoiando seja, lançando candidato?
Uma das principais características dessas manifestações populares é que começaram apartidários. O espírito cívico está em frangalhos, hoje, e qualquer bandeira que tome carona nessas manifestações quebra um pouco a essência do movimento porque ele não é nem mesmo suprapartidário. Ele é apartidário. É diferente dos movimentos pró-PT que têm outra origem e uma bandeira é muito clara do movimento sindical, consequentemente outra natureza que não espontânea. Os movimentos do PT já surgem com uma aliança estreita com agremiações partidárias.

Esses novos movimentos criticam uma esquerdização da sociedade, de faculdades e instituição, que fez com que pessoas de Direita fossem escanteadas. Concorda?

Concordo plenamente. Ainda há uma mácula sobre a Direita que é associada ao Golpe (de 64) no qual a Direita ficou extremamente chamuscada. Só que essa Direita está buscando um novo cenário. Então diante desta crise ela se apresenta com um projeto político-ideológico que está tento acolhimento e não só no Brasil. Na Alemanha teve uma vitória de um partido da Direita, na França a mesma coisa. Nos EUA esse sentimento também cresce. Não digo que é bom o ruim. Mas sim que, o que que vier para fortalecimento das instituições, para a promoção da democracia e dos direitos humanos é bom, seja uma bandeira de Direita, de Esquerda ou Centro.

 Tornou-se comum ver nas redes sociais pessoas sendo chamadas de comunistas ou fascitas. É possível essas classificações em pleno século 21?

Esses dois termos são complexos e de díficil abrangência hoje em dia. O comunismo tem muitas bandeiras e muitas dinâmicas. Eu encontraria muita dificuldade para chamar alguém de comunista hoje. O PCdoB é um dos poucos que mantêm o título de comunista e na legenda, mas se você olha na prática vê que não são nada disso. O que há são reinvenções dessas bandeiras para serem adaptadas a uma nova realidade. O facismo, então, é mais difícil ainda, de se classificar hoje. porque ele tem um cunho hipernacionalista que eu não vejo. 

 

3 Perguntas - Tulio Velho Barreto, cientista político

Como avalia o envolvimento desses movimentos com as eleições?
Vários desses grupos surgiram sem relação orgânica com os partidos políticos. Alguns, inclusive, contestavam os partidos. Já outros foram criados sob o guarda-chuva da oposição após o revés de 2014. E, agora, com novas eleições, muitas das lideranças atenderam o canto da sereia, se filiaram e serão candidatos.

Esses novos movimentos criticam uma esquerdização da sociedade. Concorda?

Não há uma esquerdização da sociedade. Muito pelo contrário. O que houve nos últimos dois anos foi que a direita redescobriu as ruas. E passou, assim como os segmentos socialmente organizados, de esquerda ou não, a usá-las para expor seus projetos, muitos dos quais não são exatamente democráticos.

Tornou-se comum ver pessoas sendo chamadas de comunistas ou fascistas.
A ascensão do PT, um partido de origem operária e, inicialmente, socialista, e a sua longevidade no poder, levou a reaglutinação de segmentos mais conservadores. Daí a polarização. Hoje, comunistas são poucos. Mas a intolerância política mostra que o fascismo, sim, é uma ameaça real à democracia.



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