Perfil O anfitrião chamado Temer Pelo gabinete do vice-presidente e no Palácio Jaburu, sua residência oficial, circularam mais de mil lideranças políticas, desde ministros a prefeitos de pequenas cidades

Por: Aline Moura - Diario de Pernambuco

Publicado em: 20/09/2015 10:00 Atualizado em: 18/09/2015 17:31

Peemedebista assumiu papel de destaque na articulação política do governo (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Peemedebista assumiu papel de destaque na articulação política do governo

Com aproximadamente 1,70 metro de altura, o vice-presidente Michel Temer (PMDB) é tratado pelos aliados como um gigante quando o assunto é política. Desde janeiro, houve um fluxo em seu gabinete e no Palácio Jaburu de quase mil lideranças políticas, entre ministros, deputados, senadores, governadores, prefeitos e até nomes derrotados nas urnas em 2014. A movimentação ganha maior status a medida que cresce a possibilidade de ele substituir a presidente Dilma Rousseff (PT) no caso de impeachment. Os números apurados pelo Diario desde o início do ano revelaram a capacidade de se articular do vice, porém tais características não se refletiram em apoio suficiente para Dilma. Pelo contrário. Agora, nesse momento de crise política e econômica, ele se fortalece cada vez mais para assumir a Presidência da República.

O retrato de Temer em números mostra a movimentação dele de 1º de janeiro até 11 de setembro, quando viajou para a Rússia ao lado de quase todos os ministros do PMDB. Em oito meses e meio, o vice reservou 269 espaços na agenda para deputados federais, 12 para bancadas partidárias e bancadas dos estados, bem como 31 para líderes do Congresso, algo que totaliza quase 500 lideranças. Ele se reuniu 84 vezes com ministros, 67 com senadores, 31 com governadores e 29 com prefeitos. É importante ressaltar que os números são subestimados. A conta não incluiu informações genéricas, ou seja, quando o Palácio do Planalto divulgou a agenda do vice-presidente dizendo que ele se reuniu com a Frente Nacional de Prefeitos, participou de uma “reunião ministerial” ou de “almoço com parlamentares”.  

O público atendido por Michel Temer é eclético, o que garante o bom trânsito entre ele, as raposas da política e o baixo clero. Ele dá prioridade a nomes do PMDB e de São Paulo, como o deputado federal Baleia Rossi (PMDB-SP), um dos mais assíduos em seu gabinete. Mas também recebe prefeitos pouco conhecidos, ex-deputados e ex-senadores. De Pernambuco, por exemplo, ele foi anfitrião do prefeito de Petrolina, Júlio Lóssio (PMDB), do vice-governador Raul Henry (PMDB), dos senadores Humberto Costa (PT) e Fernando Bezerra Coelho (PSB), dos deputados Gonzaga Patriota (PSB), Mendonça Filho (DEM), Silvio Costa (PSC) e Eduardo da Fonte (PP). Este último, inclusive, é o pernambucano que mais aparece na agenda de Temer, por ser líder do PP.

Jantares
 O vice-presidente é um homem que gosta de receber aliados em ocasiões informais, como jantares, cafés da manhã e almoço. Ele também se encontrou com sindicalistas - pelo menos em três ocasiões este ano - mas possui trânsito maior com empresários. Passam por seu gabinete quase todos os meses, por exemplo, o empresário Paulo Skaf, filiado ao PMDB e presidente da Federação das Indústrias de São Paulo. Skaf é um dos empresários que ajudou Dilma no auge da crise ao divulgar uma nota antes dos protestos do dia 16 de agosto, condenando a irresponsabilidade da oposição nesse momento de crise.
    
A habilidade de Temer o levou à condição de articulador político do governo de abril até 24 de agosto, quando ele mesmo disse que sairia do “varejo” da política para se dedicar a assuntos mais amplos, estando na Rússia, curiosamente, no anúncio dos cortes. Entre os caciques que estão em seu gabinete com mais frequência, há nomes de ministros como Joaquim Levy (Fazenda), Aloízio Mercadante (Casa Civil), Eliseu Padilha (Aviação) e Henrique Eduardo Alves (Turismo).

O gel
Michel Temer é considerado pelos aliados como um homem discreto, afeito a protocolos e litúrgico. Ele usa gel nos cabelos grisalhos diariamente, posa nas foto com o queixo levemente levantado - o que aparenta uma certa arrogância -, mas não coleciona relatos de que tenha passado dos limites com alguém. Exerce um comando firme com voz baixa e está à frente do PMDB. Isso, contudo, é o que mais levanta suspeitas sobre a lealdade do vice a Dilma.
Publicamente, Michel Temer se irrita quando cogitado como futuro presidente, frisa que não se move pelas “sombras”, mas o fato de não controlar as lideranças do seu partido é algo que pesa contra ele. O vice, que não consegue mudar a face fisiológica do PMDB, tem sucesso em outras áreas sob pressão. Ele assumiu, por exemplo, o comando da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, em outubro de 1992, e debelou a crise provocada após o massacre de 111 presos na Casa de Detenção daquele estado. O vice-presidente, aliás, é um homem que deixa dúvidas nos aliados e adversários sobre os passos que pretende dar, mas ninguém acredita que os levem para trás.



MAIS NOTÍCIAS DO CANAL